Sonolenta e Preguiçosa Preguiça de Sentir Sono | #08

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Tem sido constante o hábito de deixar a bateria do meu headphone carregando por todas as tardes para que possa usá-lo pelas noites antes de dormir. Esse tem sido o único motivo para carregar a bateria do meu headphone durante as tardes: usá-lo como ferramenta para dormir - muito embora o feito não tenha surtido algum efeito constante. Pela substancial maioria das vezes, apenas continuo escutando as músicas e cantando, sem demonstrar sequer algum sinal de sono. As playlists são sempre as mesmas: João Gilberto ou Daniel Caesar - ainda assim, não as consigo ignorar, como haveria de ignorar quaisquer outras coisas ou situações que fossem - demasiadamente - habituais, corriqueiras, cotidianas, constantes, usuais ou diárias, por exemplo. Cada nota de cada arranjo do João Gilberto, cada vocal secundário do Daniel Caesar, cada música de cinco ou cinquenta anos de idade, cada estrofe ou cada refrão de dez ou duas linhas: tudo ainda é muito bom para ser ignorado e jogado fora apenas pelo narcisismo e egoísmo daquilo que viria a ser o meu bom sono.

Traz-me o sono a vontade de dormir, sem dúvidas. O grande problema é que meu corpo não sabe a hora de ativar a vontade de dormir - não a hora certa, ao menos. Meu corpo não sabe - ou não consegue - quase que por todos os dias, desligar-se do mundo na hora que se deve fazê-lo - embora meu cérebro saiba que dormir de menos prejudica o meu dia.

Traz-me o sono na hora certa, a boa dose do cansaço cotidiano, ou a boa dose de remédio para sono - embora este não previna o meu cansaço ao acordar no dia seguinte, que por conseguinte traz-me o bom sono à noite que chega, e que portanto, vigora a alma ao acordar no dia seguinte tendo tido bom sono e podendo ter dito: eis aqui um sono genuíno! Não é necessário que seja sono longo ou demorado, muito embora seja por vezes. Não é sono que ultrapassa o desleixo do período do sono vespertino, é apenas bom sono. Sono com duração de oito ou sete horas - de ponta à ponta - das onze da noite às sete da manhã. Sono com duração de oito ou sete horas - por vezes mais, por vezes menos - apenas o suficiente para o genuíno descanso. É singela e triste a ilusão que traz o bom sono. A ilusão do bom sono desperta-me a esperança de que eu vá dormir assim rotineiramente: de ponta à ponta - de sete a oito horas por noite - com horário marcado para dormir e para acordar. Muito me admira aquele que dispõe do luxo do relógio biológico, meu avô materno mesmo é assim, é quase que engraçado: dá-lhe vinte e uma horas em ponto no seu relógio e o sono começa a bater no sujeito. Engraçado mesmo é que nunca vi meu avô colocando-se a dormir às vinte e uma horas em ponto, aí está um homem que não faz completo proveito do seu luxo.

 Engraçado mesmo é que nunca vi meu avô colocando-se a dormir às vinte e uma horas em ponto, aí está um homem que não faz completo proveito do seu luxo

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Ultimamente tenho buscado o sono genuíno. O sono que tinha quando jovem, quando criança, ao menos - sono raro hoje em dia, quanto mais raro fica, mais nostálgico fica, e quanto mais nostálgico fica, mais genuíno fica.

Ontem coloquei-me ao desafio. Às nove e meia em ponto deitei-me à cama, lancei-me ao conforto do meu cobertor, apaguei qualquer rastro que poderia vir a se tornar um feixe de luz e certifiquei-me de quaisquer outros empecilhos que poderiam vir a atrapalhar o sono fossem abafados. Tracei objetivo ousado: eu teria até a meia noite em ponto para apagar no sono – sem doses de remédio, sem doses de excesso de cansaço, nada - apenas sono natural.

Não demorei muito tempo para frustrar-me quanto ao objetivo, porém. Quando dei-me conta, passava-se das duas horas da manhã, e foi aí mesmo quando tudo ruiu. No instante da ocasião, eu já havia ligado o celular duas ou três vezes para me certificar de que ainda era muito cedo, e que por isso eu não havia conseguido dormir ainda - eliminando qualquer chance de dormir cedo, uma vez que o brilho do celular me atrapalhe ao tentar dormir.

Pois bem, cá estou. Às quatro horas da manhã. Sem nada para fazer e sem nada para escrever, cá estou - a falta de sono de hoje rendeu-me ao menos uma página.

 Sem nada para fazer e sem nada para escrever, cá estou - a falta de sono de hoje rendeu-me ao menos uma página

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𝙸𝚗𝚝𝚒𝚖𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎Onde histórias criam vida. Descubra agora