𝙳𝚒𝚊 𝚍𝚎 𝙿𝚛𝚊𝚒𝚊 | #26

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É muito bom ir à praia. Acordar cedinho, com os olhos ainda empedrados. Olhar o relógio e ver que ainda é muito cedo, e que ainda há tempo para escrever, correr, comer, escutar... viver, em suma. Ainda há uma quantidade muito considerável de horas para viver. Ainda antes do nascer do sol, tomar em goles gordos o café da madrugada – comer coisas gordas, inclusive, enquanto sente o acalanto do dia grande que virá e da quantidade considerável de vida para viver quando o dia grande vier – sentir o acalanto. As pessoas são, presumo, muito mais intensas e verdadeiras durante o café da madrugada e após as refeições gordas do café da madrugada.

Entrar no carro, no banco de trás. Levar no colo a bagagem que não coube no porta-malas porquê a felicidade desse dia é muito grande e gorda, como o café da madrugada. Esta felicidade que nos rege, é grande demais para caber tão somente no porta malas. De fundo as aves começam a cantar, anunciando – junto com o canto do galo – que as pessoas podem hoje – que é dia de praia – comer mais, escutar mais, sentir mais, viver mais...

Chegamos no hotel, e a profunda e extensa bagagem da felicidade é rapidamente instalada nos quartos. Agora, deve-se fazer qualquer coisa com as mãos, para, com a brisa do mar e o calor do sol, fazer com que nos esqueçamos das palavras. Para isso servem os dias de praia: esquecer das palavras. Qualquer coisa com as mãos – nadar, catar conchas, montar castelos na areia, jogar vôlei... qualquer coisa que nos faça esquecer das palavras. A palavra sempre afastou e desuniu. As mãos nunca.

Devemos – sem quaisquer ressalvas – procurar nossas mãos sem feito algum, e recuperar-lhes a inocência, trazer de volta a fortuna de acalanto e verossimilidade que há nelas – torná-las proveitosas

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Devemos – sem quaisquer ressalvas – procurar nossas mãos sem feito algum, e recuperar-lhes a inocência, trazer de volta a fortuna de acalanto e verossimilidade que há nelas – torná-las proveitosas.

Lá no fundo, um homem se encanta com a brisa e, de súbito, procura acalanto na maresia: vai nadar. Daqui, de onde o vejo, parece-me muito feliz e ingênuo, deve ter – mesmo que só por hoje – se esquecido das palavras. As pessoas são muito mais intensas e verdadeiras quando se esquecem das palavras também.

"(...)olha, é como o verão..."
"(...)quente o coração(...)"

No quiosque começa a tocar "Samba de Verão". O garçom traz as bebidas: caipirinha, cerveja e coca cola. Depois, as porções: lula empanada, camarão frito e aipim assado.

No quiosque está tocando "Samba de Verão". Me perdoem, leitores, é hora de esquecer das palavras.

 Me perdoem, leitores, é hora de esquecer das palavras

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