Deixe que teu cheiro fique, na saudade, junto com meus braços. Que o alimento da minha alma continue sendo a tua boca, mesmo que sem tocá-la. Que a distância não te deixe esquecer do meu toque nas tuas mãos, do jeito que te olhava, dos meus braços se encaixando enormemente no teu abraço. Deixe – eu lhe peço – que o tempo não faça dissolver os nossos momentos, os bons e os ruins. Mas, reserve no peito – eu lhe peço – somente os momentos bons, para que, quando daqui a muito ou pouco tempo, num dia qualquer, eu me lembrar de você e sentir que o amor que se foi, mesmo que distante, foi bom, e – apesar de tudo e de todos – foi amor. Eu lhe amei.
Quando num dia distante, em alguma manhã vazia, lembrar meu nome, venha me contar. Conte que foi sem querer, mas sem querer querendo lembrou. Se não quiser contar, tudo bem. Continue vivendo e vivendo, com esse dom que você tem para viver. Com esse vida que você tem no olhar. Com esse aconchego que você tem nos braços. Se não quiser contar, tudo bem. Lhe peço, porém, que não se esqueça de – vez ou outra – quando estiver magoada comigo, ler uma carta ou outra que lhe escrevi. Foi tudo verdade. Foi tudo amor. Foi tudo amor de verdade. E por mais que esse tudo tenha ido embora, ainda resta-me, nos meus braços vazios e no meu peito frio, e nos olhos sem vida, e nos parágrafos solitários, a gratidão que tenho por você e por tudo aquilo que vivemos. Eu sou grato.
Passei a última noite, meu bem, sem pensar em você. Haveria de ser muito libertador, se eu quisesse mesmo, lá no fundo dos meus olhos sem vida, parar de olhar para você. Se eu quisesse jogar fora nossas polaroids, se eu quisesse apagar o recado na parede que dizia que eu amo você. Se eu quisesse parar de amar você, em suma. Seria tudo muito libertador mas faria de mim alguém menos abundante no amor, e eu deixaria de ser eu.
Saiba que jamais deixei de ser eu, talvez por isso não tenha dado certo, mas foi por isso que aconteceu. O que tivemos um com o outro e o que sentimos um pelo outro foi rápido, verdadeiro, imaturo, abundante, único, desgastante e genuíno. Hoje, é escasso e distante.
Não deixe que o fim apague o começo, eu lhe peço. Que a imaturidade não cale a verossimilidade, que o amor não seja atropelado pelo desgaste. Não te escrevo desta vez uma carta, mas lhe peço que as guarde. Senão nas gavetas, no peito. Esse teu peito tão bom para amar, tão abundante de vida, tão corajoso, tão forte...
Essa crônica é sua porque na falta de você, falta-me maneiras de lhe escrever uma carta. Na falta das cartas, lhe escrevo uma crônica.
Essa crônica é sua.