Quando a saudade aperta e se abre uma lua no peito, o cinzeiro afogado em cinzas é apenas mais um sintoma do abandono que há na solidão. A porta entreaberta dizia que ele não sabia se queria ou não sair. Se queria ou não ficar em casa, admirando a constelação da saudade que havia no seu peito, ou se partira para fora dela e sucumbia a ausência da moça à algum bar sem nome ou outro. Para afogar-se em qualquer bebida sem nome ou outra, qualquer pessoa sem nome ou outra. Qualquer aconchego, qualquer intimidade sem nome...
No peito, uma lua quieta, que - de forma compelida - o lembrava, a cada noite, do sol que havia no olhar da moça, do eclipse que havia quando - despretenciosamente ou não - a abraçava. Pensou, de súbito, que o amor é como o eclipse, e que a lua precisava do sol para viver. Chorou ao pensar. Pensando que a ele não restava mais sol, decidiu abrir a cortina e admirar, na enorme presença da distância, algum certo brilho que havia naquela manhã, para - com pouquíssima pretensão - tentar de alguma forma encontrar os olhos daquela moça no sol, torná-lo mais amável e proveitoso. Com algum certo amor, um amor daqueles que amam o calor dos olhos de fogo. Tornar o sol mais amável. Tentar de alguma forma encontrar - com pouquíssima pretensão - aqueles olhos de fogo . Aqueles olhos de fogo...
Na cortina, um lado aberto e outro fechado. No sofá, uma garrafa aberta e outra vazia. Nos braços, uma carta que nunca será terminada porquê nunca nem será lida por alguém, um choro. Um arrepio e uma lágrima. Um abandono e um sofrimento. Um adeus e a solidão, um choro. Decidiu ir até a porta, decidir se sairia ou não. Passeou pelos espelhos quebrados e quando o fez, só pôde pensar que os espelhos quebrados sabem mais sobre seu próprio reflexo do que ele próprio, chorou. Foi a primeira vez que quantificou o tamanho do conhecimento de si próprio com o tamanho do conhecimento do espelho sobre si, chorou. Sentou-se no chão com os cacos de vidro, machucou-se com os cacos de vidro, tentou levantar e - resignado de que não conseguiria - sentou-se no chão com os cacos de vidro. Machucou-se novamente com os cacos de vidro. Chorou. Não há mais eclipse de amor, há um caco de vidro sem nome ou outro, há um choro.
Há um choro pequeno e muito triste no apartamento ao lado, e desde que o sol que havia no olhar da moça foi-se embora de sua vida, assim tem sido todas as manhãs e tardes por lá.
Há um choro pequeno e muito triste no apartamento ao lado.
Anoiteceu, caro homem. Já não há mais sol, busque a tua estrela e faça do amor a tua constelação!
Há um choro pequeno e muito triste no apartamento ao lado.