Capítulo 22

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No dia seguinte, Mikey se perguntou se havia pegado pesado demais. Pois uma culpa intrusa e singela lhe apertava o coração ao encarar a face desacordada de Sanzu.

O Haruchiyo estava apagado na cama de seu quarto e não dava indícios de acordar tão cedo. O que era bom, porque Mikey precisava fazer o gerenciamento da crise antes de seu vice-presidente abrir os olhos e decidir que era uma boa ideia jogar Kakucho do alto do prédio.

Deitado ali, Sanzu parecia sereno e inofensivo, mas o Sano sabia que assim que a besta despertasse o que aconteceria a seguir seria imprevisível - e, com certeza, envolveria um hematoma ou outro. Ele estava bem apesar das drogas, de acordo com o médico, e nenhum dos membros da Bonten era capaz de explicar essa resistência quase sobrenatural de Sanzu, já que qualquer outro poderia ter morrido com aquele tanto de pílulas.

Apenas Mikey não ficou tão surpreso, afinal, o Haruchiyo era assim desde a infância. Forte, com reflexos rápidos e muito resistente à dor. O próprio Mikey era assim também. Nenhum dos dois tinha uma constituição física comum, o que sobressaltava Kokonui todas as vezes em que eles demonstravam suas habilidades de luta e de tiro.

- Ele deve acordar em dois dias. - Disse o médico antes de deixar o quarto e, posteriormente, a cobertura de Sanzu.

Rindou o levou até a saída e retornou para o quarto, apoiou-se no batente da porta e observou Mikey zelar pelo sono de Sanzu. Se o Haitani não conhecesse bem aqueles dois acharia que eram um casal amoroso, pois Manjiro estava sentado na beira da cama, segurando a mão de Sanzu e suspirando por sabia Deus o quê. 

- O que aconteceu ontem? - Perguntou.

O olhar que Mikey lhe lançou tinha a mesma precisão de uma flecha perfurando sua cara. Rindou revirou os olhos e ergueu as mãos em rendição, não queria atrair a tendência assassina do líder para si. Mas ele estava tão curioso que não conseguiu evitar de questionar:

- O que vai fazer com Kakucho? Não vai matar ele, vai?

O Sano permaneceu calado. Rindou bufou, irritadiço. 

- Se você sabia que daria essa merda toda, por que fez isso?

Mikey olhou para ele, as esferas negras de seus olhos pareciam engolir Rindou. Manjiro o respondeu:

- Se eu te contasse teria que matá-lo.

Rindou sorriu para dispersar o medo e falou: 

- Então esquece, estou feliz com a minha própria ignorância.

Seu chefe assentiu com a cabeça e finalmente desviou aquele olhar de buraco-negro que prendia Rindou no lugar. Mikey voltou a atenção para o rosto pálido de Sanzu e ponderou como lidaria com ele assim que fosse procurado para tirar satisfação, afinal, ele com toda certeza estaria muito puto.

As únicas pessoas acordadas no quarto ouviram a porta da frente bater. Rindou foi o primeiro a ver Mochizuki irromper pelo apartamento, ele colocou a cabeça para dentro do cômodo e informou a Mikey:

- Kakucho já está no escritório.

Manjiro abandonou o leito de Sanzu e arrastou os outros dois para fora do apartamento. O que irritou Rindou, pois ele gostaria de ter tido a oportunidade de sufocar o Haruchiyo enquanto estivesse desacordado. Até porque ter Sanzu morto era crucial para o esquema de seu irmão. Mas no fim ele gostou de ser barrado, matar Sanzu dormindo seria covarde demais, ele tinha certeza que o fantasma do Haruchiyo viria do além para assombrá-lo caso fizesse isso.

Mochizuki estava nervoso e suava conforme os três seguiam para o escritório, Rindou teve que pisar em seu pé duas vezes para que se acalmasse. Já dentro do elevador a dupla teve uma troca intensa de olhares conspiracionistas, incapazes de adivinhar que fim Kakucho teria.

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