Capítulo 2

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Quando as portas se abriram ele estava na sala de casa. O lugar estava na penumbra, com todas as cortinas fechadas. Sanzu largou o óculos de sol e o blazer em cima do sofá. 

Apesar de escuro dava-se para pegar os detalhes do lugar: móveis caros, aparelhos modernos, muito espaço e privacidade. Mas não tinha alma, assim como seu dono. Sua decoração não tinha personalidade, apenas nuances de cinza e branco.

Sanzu foi até seu quarto, desfazendo-se do colete do terno, dos sapatos e das meias pelo caminho. Tudo o que usava agora era a camisa branca de botão - toda desalinhada, aberta e com sangue na gola - e a calça. Depositou a pistola em cima da cama e abriu a gaveta da cômoda ao lado, puxando o saquinho cheio de pó branco que guardava ao seu alcance. 

Sanzu chamava a cocaína de "pozinho da felicidade'', porque quando usava conseguia fingir se sentir contente com qualquer merda. Ele jogou o saquinho ao lado da arma, ligou o ar-condicionado do quarto e foi até o closet para buscar o objeto de seu martírio e desejo diário. 

O antigo uniforme da Toman parecia zombar de sua cara, como se dissesse: seu tolo, você jamais possuirá a pessoa que me vestiu. Aquele tinha sido o uniforme de Mikey, na época de ouro da Tokyo Manji. Manjiro havia dado aquele uniforme para Takemichi, para que não se esquecesse dele. O Hanagaki o devolveu dois meses atrás e ainda teve a cara de pau de convidar Mikey para seu casamento com Hinata. 

Sanzu ainda conseguia ouvir o grito angustiado de Mikey ordenando que queimasse o uniforme. Mas Sanzu não queimou, não teria essa coragem. E sequer queria se desfazer daquilo. 

Tirou a roupa do cabide e a trouxe para perto do rosto. Respirou profundamente, sentindo os resquícios do cheiro de Mikey naquele uniforme. O aroma refrescante de hortelã e a essência floral almiscarada eram característicos apenas de Manjiro, sendo o suficiente para deixar Sanzu louco e com o pau tão duro ao ponto de doer.

Ele se odiava por se torturar daquele jeito, mas simplesmente não conseguia evitar. Mikey vivia em seus pensamentos 24 horas por dia, o assombrando. O que sentia por seu líder poderia ser tido como doentio e obsessivo, porém Sanzu não dava a mínima. 

Manjiro Sano era seu, ainda que não soubesse disso.

Caminhou até a cama com o uniforme envolto em seu abraço, o jogando no estofado para poder recuperar o saquinho de cocaína. Despejou o pó na palma da mão esquerda e o cheirou com afinco, seus olhos azuis-esverdeados se agitando com a dilatação crescente das pupilas. 

Olhou para o lustre no teto, sentindo as paredes do quarto girarem. A euforia característica da droga lhe entorpecendo o corpo, a ansiedade e sensação de poder crescendo no peito sobrepujando seus receios mais íntimos. As estrelas brancas tomando sua visão o faziam lembrar do cabelo macio e platinado de Mikey. 

Ele se sentou na cama, suspirando, esperando suas alucinações favoritas começarem. Agarrou o antigo uniforme da Toman e inalou seu perfume em desespero, observou as extremidades do cômodo ondularem e escurecerem, projetando uma figura pálida e solitária parada ao canto. Mikey o observava, seus olhos tão negros que pareciam engolir Sanzu. 

O Haruchiyo fechou os olhos, imaginando Mikey vindo em sua direção e sentando-se em seu colo, com uma perna de cada lado de seu quadril. Quando tornou a abrir as pálpebras Manjiro estava exatamente onde ele queria, tocando seu rosto com dedos frios e inexistentes. 

Sanzu desabotoou a calça e pôs seu pênis para fora, o envolvendo em uma das mãos. O membro já estava ereto e umedecido, ativo e excitado como sempre ficava quando pensava em seu líder. Ele então imaginou as roupas escuras de Mikey desaparecendo para que pudesse vislumbrar o corpo delgado e a pele clara que envolvia seus músculos magros, vendo-o se contorcer levemente em cima de si.

Haruchiyo admirava sua criatividade, principalmente quando estava louco de cocaína. Manjiro parecia tão real, embora Sanzu não conseguisse sentir o calor de seu corpo pequeno rebolando em seu colo, ou o aperto de seus braços finos envolta de seus ombros, e não ser capaz de ver nitidamente o inclinar de seu pescoço delicado enquanto jogava a cabeça para trás em prazer.

Sanzu era um iludido de merda.

Mas ainda assim a satisfação que sentia em imaginar tal cena, com Mikey gemendo seu nome baixinho, fazia um calor fulminante descer por seu baixo ventre deixando-o completamente fora de controle. Quando Manjiro o encarou com os olhos nublados pela luxúria, Sanzu se desfez na própria mão, seu orgasmo o arrebatando para algum lugar entre a salvação e a condenação eterna. Em meio ao delírio ele conseguia ouvir Mikey dizer que o pertencia, que era seu e de mais ninguém, o que lhe provocou espasmos de deleite fortes o suficiente para que ficasse duro novamente.

Em suas fantasias, às vezes, ele se via machucando Manjiro, deixando marcas naquela pele cálida que o provocava dia após dia. Sanzu se excitava ao imaginar Mikey chorando de dor e de prazer, implorando por ele. Haruchiyo ansiava tanto por aquilo que destruiria o mundo inteiro se isso significasse que teria Manjiro gemendo abaixo de si como uma maldita vadia.

Mas ele sabia que seus desejos nunca seriam realizados, Mikey não o queria e já tinha deixado isso claro há muito tempo. Sanzu estava amaldiçoado a apenas observá-lo e cobiçá-lo de longe, pois Manjiro era como um gato arisco e desconfiado pronto para arranhá-lo se chegasse perto demais. Ele tinha receio de o afastar caso fosse muito incisivo, porque queria que Manjiro o desejasse também, mas nunca fez questão de esconder o que seria capaz de fazer para tê-lo. Sanzu havia deixado explícito o que queria desde que Mikey o nomeou vice-presidente, o que lhe rendeu rejeições contínuas ao longo dos anos. Mas talvez agora, depois de Takemichi abandoná-lo definitivamente, Mikey estivesse mais receptivo a seus sentimentos românticos nada castos e deveras possessivos. 

Talvez Sanzu conseguisse lhe oferecer algumas doses de prazer que o fariam esquecer sua carência.

Valia a pena tentar.

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