Capítulo 27

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Nervoso era uma palavra muito simples para descrever o estado de Kokonui, que encarava a oficina do outro lado da rua como se um assassino em série o estivesse espionando. Rindou não aguentava mais a sua hesitação, ele suspirava em impaciência enquanto Koko sentia o suor se acumular nas palmas das mãos.

- Vai logo! - O Haitani gritou do banco do motorista.


- E se ele não aceitar, o que eu digo?

Rindou estreitou os olhos. Quando se tratava de Inupi, o cérebro de Kokonui se transformava em mingau.

- Que tal começar pelo fato de que se eles não fecharem a porra da oficina, ainda hoje, estão correndo o risco de serem mortos? 

Koko suspirou pesadamente, havia esperado tanto que isso não precisasse ser feito. Mas após o baile na mansão, onde Mikey e South finalmente haviam se encontrado, os territórios de ambas as gangues estavam mais perigosos do que o normal. Além de que a Rokuhara Tandai já sabia sobre a relação de Inupi e Draken com a Bonten, tendo sido membros da Toman no passado.

Mikey temia que South tentasse algo contra seus antigos subordinados, visto que não muito tempo atrás membros da gangue rival tinham destruído a oficina. O lugar ainda estava meio acabado, mas seguia funcionando porque seus proprietários precisavam de dinheiro. E agora, com seu chefe bolando algum plano maligno para destruir South, Koko queria Inupi o mais longe de Tóquio possível.

Não que Manjiro tenha contado algo para ele, mas Kokonui não precisava que ele verbalizasse o que pensava. Enviar Kakucho para Kyoto não era apenas uma forma de manter Sanzu sob controle, e sim, uma estratégia de guerra bem inteligente. Com seu secretário de confiança em segurança e cuidando da segunda rota de tráfico mais importante da gangue, Mikey garantia que South não ousasse expandir para além de Tóquio. E conhecendo seu líder como bem conhecia, Koko percebeu o cerco se fechando em volta da Rokuhara Tandai antes de todo mundo. Ele ainda não sabia como as coisas se desenrolariam, porém tinha ciência que quando Mikey atacasse de verdade a cidade inteira entraria em caos.

Apenas o medo de ver Inupi ferido o fez deixar aquele carro, sendo praticamente enxotado por Rindou. Eles haviam brigado muito feio um ano atrás, disseram coisas muito duras um para o outro. Aquilo ainda assombrava Koko de certa forma, porque o que deveria ter sido uma discussão boba escalou para uma briga terrível. Inupi se convenceu de que Kokonui nunca havia o amado, que apenas havia o idealizado como uma versão masculina de sua irmã mais velha. Irmã essa que de fato havia sido o primeiro amor de Koko.

 Mas sem dúvida o principal motivo da discussão era o fato de que Kokonui não pretendia deixar a Bonten e todas as regalias que a gangue lhe proporcionava. Afinal, as iniciativas de Mikey o deixaram milionário. Dinheiro sempre foi uma questão sensível para ele, Koko não se imaginava longe daquela vida. 

Foi Draken quem o recebeu na porta da oficina. O antigo vice-presidente da Toman lhe encarava com as sobrancelhas franzidas e o nariz torcido como se sentisse um cheiro ruim, Koko o amaldiçoava por - mesmo com aquela cara enfezada - ser tão bonito. Internamente morria de ciúmes da relação que ele mantinha com Inupi, mesmo com Draken nunca dando sinais de que sentia atração por homens.

Um homem bonito como aquele não era confiável de jeito nenhum!

- O que você quer? - Disse demonstrando toda a animosidade que sentia pela presença de Koko em seu estabelecimento.


- Preciso falar com você e com Inupi, é importante.

Draken deixou a moto que outrora consertava de lado, passou por cima da caixa de ferramentas no chão e parou em frente a Kokonui com uma flanela nas mãos sujas de graxa. Koko tinha que levantar o rosto para olhar para ele, visto que Draken tinha pouco mais de 1,90 de altura. Ele havia parado de descolorir o cabelo, deixando-o em seu tom negro natural, seus olhos eram ferozes e escuros. Sua expressão carrancuda era tão intimidante quanto seu corpo forte e sua tatuagem de dragão na lateral da cabeça raspada. Até a trança que pendia rente a sua orelha passava uma ideia despojada.

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