Capítulo 3

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Algumas horas depois e de banho tomado, Sanzu deixou sua cobertura para encontrar os outros membros da Bonten no escritório - reconstruído - dentro do prédio da organização.

- Vejo que Senju conseguiu fazê-lo voltar. - Kakucho comentou, sentado no sofá ao canto da sala.

- Pare de envolvê-la nisso. - Sanzu disse com irritação. - Se ela morrer por estar no lugar errado e na hora errada eu corto sua cabeça fora, porra.

- Eu não a envolveria se pudesse confiar em você.

O Haruchiyo resolveu não o responder, sua cabeça estava dolorida demais para que ficasse brigando atoa com aquele infeliz. Ele tirou as pernas compridas de Ran de cima do sofá vizinho e sentou-se, pouco ligando para as reclamações do Haitani.

Rindou e Mochizuki conversavam animadamente, cada um sentado em uma poltrona diferente. Sanzu lembrava-se de ter visto Mikey jogar poltronas parecidas com aquelas pela janela do escritório, em seu ímpeto de fúria.

O Haruchiyo se sentia ansioso, será que Mikey apareceria aquela noite? Fazia dias que seu chefe não saia do quarto, repassando todas as ordens através de Kokonui, deixando o contador da Bonten com trabalho extra. Como um maldito pombo-correio, Koko dizia. Todos os sêniors estavam pisando em ovos nos últimos tempos, com medo de Mikey surtar e colocar fogo no prédio. Dado o estado psicológico abalado de Manjiro, Sanzu não duvidava de que - caso realmente colocasse fogo na sede - faria questão de manter todos dentro para serem queimados vivos até os ossos.

Sanzu amava essa intensidade de Mikey.

Ele era seu par perfeito, sua alma gêmea, sua metade da laranja. Se alguém tentasse tirá-lo de si, Sanzu seria capaz de eviscerar o culpado. Não, ele seria capaz de fazer coisas muito piores. Só de imaginar Mikey se entregando a outro alguém, permitindo que o toque-se, deixando que o tivesse por inteiro... Sanzu ficava tão fora de si que seria capaz dele mesmo tocar fogo no prédio com todos dentro.

Sanzu olhou para a entrada do escritório, quase rezando para que Manjiro passasse pela porta e ele pudesse ver seu rosto. Infelizmente o único a entrar na sala foi Kokonui, jogando o cabelo comprido para o lado e apoiando as mãos nos quadris estreitos. O terceiro em comando da Bonten se apoiou na parede às suas costas e exibiu os sapatos de salto alto que usava nos pés.

Rindou dizia que se Mikey era o Invencível e Sanzu o Louco, Kokonui era o "Pavão Real Mais Exibido de Tóquio". Pois dentre todos ali Koko era o mais estiloso, sem sombra de dúvidas.

- Mikey quer que vocês matem os cinco traidores presos no armazém. - Ele informou. - Essa noite, sem demora.

- Podemos nos divertir com eles antes? - Ran perguntou, o sorriso escondendo suas intenções sádicas.

- Não, apenas se livrem deles.

- Isso não tem a menor graça.

Mochizuki bufou antes de perguntar:

- Todo mundo precisa ir? Eu ainda não jantei, quero comer um balde de frango frito.

Kokonui olhou para os irmãos Haitani e em seguida para Sanzu.

- Acho que o trio maravilha pode cuidar disso.

O Haruchiyo revirou os olhos enquanto Rindou dava risadinhas excitadas, passando as mãos pelo cabelo comprido e lilás em corte mullet. Ran balançou a cabeça em negação, tinha outros planos para a noite, mas sabia que desobedecer Mikey não era uma opção.

Ordens repassadas, Sanzu e seus subordinados mais irritantes, pegaram um carro e foram até o armazém onde a Bonten mantinha seus prisioneiros, próximo ao cais do porto. Ran odiava o cheiro da maresia e como o ar deixava seu cabelo seco, pois assim como o irmão ele mantinha as mechas coloridas em tom lilás, sendo que o seu possuía um corte curto, e a umidade o deixava com friz. Sanzu não ligava muito para a própria aparência, seu cabelo rosa era comprido - em corte mullet, porque havia perdido uma aposta para Rindou semanas atrás - e os cantos de sua boca possuíam cicatrizes, que eram presentes de infância dados por Mikey.

Eles estacionaram o carro e caminharam até a entrada do armazém, fecharam a porta depois de entrarem e acenderam as luzes. Os cinco prisioneiros estavam pendurados pelos pulsos no centro do galpão com poças de sangue acumuladas a seus pés, resultado das torturas passadas de Ran. Sanzu encheu um balde em uma torneira ligada ao mar e jogou a água salgada nos traidores, os vendo gemer de dor e se contorcer por causa da ardência nas feridas.

- Boa noite, senhores. - Disse o Haruchiyo com o olhar vidrado. - Viemos lhes trazer boas notícias, daqui a aproximadamente dois dias as autoridades vão encontrar os cadáveres de vocês boiando no porto.

Os homens não responderam. Sanzu achou que ficaram sem fala por conta da exaustão, mas ao olhar direito percebeu sangue escorrendo pelos queixos deles. Abriu a boca do prisioneiro mais próximo e riu, virando-se para Ran e dizendo:

- Porra, você cortou as línguas deles?

- Eles não tinham mais nenhuma informação que fosse útil. - Ran sorriu e acendeu um cigarro, soprando a fumaça no rosto de outro cativo.

- Verdade. - Emendou Rindou, dançando em volta dos traidores e os cutucando nos buracos das feridas. - Eles só ficavam repetindo: foi o South, foi o South. Chatos pra caralho!

- South? - Sanzu questionou, confuso. - Que diabos isso significa?

- Mochizuki está investigando, - Ran contou - achamos que pode ser o líder de uma nova gangue que está causando problemas pela área de Shibuya.

- E está comprando gente da Bonten? Que gangue é essa, afinal?

- Dizem que se chama Rokuhara Tandai. - Rindou chutou os tornozelos de um dos prisioneiros, rindo quando o viu se balançar desesperado em busca de equilíbrio. - Mas não temos certeza, e nem sabemos o que querem.

Sanzu estava pouco se fodendo para o que aquela gangue queria. Se o tal de South ousasse ameaçar a soberania de Mikey, Haruchiyo arrancaria sua cabeça fora.

- Mikey está sabendo disso?

- Ainda não. - Respondeu Ran, olhando para seu vice-presidente. - Achamos melhor contar para ele quando tivermos certeza do que está acontecendo.

- E arriscar que ele nos mate por ocultar informações?

- Ah, qual é?! - Rindou exclamou, jogando as mãos para o alto e revirando os olhos. - Ele tá tão pirado que nem sabe o que acontece dentro da própria cabeça, está fingindo que o resto do mundo não existe.

- Vou contar pra ele. - Disse Sanzu, irritando-se.

- Se ele quiser falar com você. - Zombou.

Sanzu puxou a pistola do cós da calça, surpreendendo os irmãos Haitani com a velocidade de seu saque. Cinco balas foram disparadas, cada uma acertando as cabeças dos prisioneiros consecutivamente. Por um momento Rindou achou que fosse morrer, às vezes esquecia que Sanzu era louco como um cão raivoso quando se tratava de Mikey e pouco ligaria de matar os próprios aliados.

- Limpem essa bagunça, estou indo falar com o Mikey.

O vice-presidente da Bonten guardou a arma e os deixou ali para finalizarem a missão. Aquela era uma ótima oportunidade para se aproximar de Mikey, ele não poderia continuar o ignorando se tivesse algo importante para lhe contar. Suas mãos tremiam ao volante, animado para retornar a sede e ir até seu chefe. Ele ligou para Kakucho mandando que enviasse outro carro para os Haitani e acelerou pelas avenidas iluminadas de Tóquio em direção ao prédio da organização.

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