Capítulo 28

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Mochizuki não era do tipo de ficar encarando, porém quando seu chefe aparecia cheio de marcas roxas no pescoço ele não conseguia desviar o olhar por muito tempo. Mikey estava sentado em sua mesa, analisando alguns documentos, e havia o chamado para que fosse repassar uma carga de entorpecentes em Kanto. Não parecia se importar com as expressões oscilantes de curiosidade e pavor de Mochizuki, o ignorando deliberadamente.

Quando finalizou a checagem de documentos, os pôs em uma pasta e entregou a ele.

- Finalize isso antes da meia-noite. - Ordenou. - Estamos atrasados com as entregas desde que essa confusão com a Rokuhara Tandai começou. - Ele propositalmente omitiu o fato disso ter acontecido por sua própria culpa, quando ficou ocioso e mergulhado na própria tristeza.


- Sim, senhor - respondeu, dando uma última olhada em Mikey e saindo do escritório.

Manjiro suspirou e levou as mãos ao pescoço marcado com vergões e chupões roxos. A noite passada havia sido forte, seu corpo estava dolorido e com hematomas, seus mamilos ainda estavam sensíveis. Só de lembrar daqueles grampos Mikey sentia um arrepio na espinha. Quando acordou de manhã, Sanzu não estava ao seu lado na cama e permaneceu o dia inteiro desaparecido. Provavelmente estava em um dilema sobre quase ter explodido sua cabeça ontem. O Sano também não conseguiu evitar de se questionar: será que o Haruchiyo realmente o mataria?

Era como brincar com fogo e, sabendo da essência obsessora de Sanzu, Mikey tinha certeza de que ele não se contentaria apenas com o sexo. Estava curioso para ver até onde o outro iria por seu amor.

Ele sorriu, ambos eram uns malditos parasitas.

Manjiro sacou o celular do bolso e efetuou uma ligação. Quando Kakucho atendeu do outro lado ele falou:

- O que tem pra mim?


- South não possui outras sedes além da mansão em Tóquio comparada a Bonten a Rokuhara Tandai é menor em número.


- Enviou os vigias?


- Eles estão a postos e na cola do presidente.


- Quando podemos atacar? 

Ele se ergueu da cadeira e foi para a frente da janela da sala para vislumbrar a cidade, o sol estava se pondo atrás do horizonte de prédios.

- Já enviei os homens e as armas, mas por causa da fiscalização da polícia não conseguirão chegar em menos de três dias.


- O que a polícia está fazendo nessa região?


- Parece que estão em uma operação para prender alguns ladrões de banco.


- Hum - murmurou desconfiado.


- Se não houver nenhum imprevisto você terá a cabeça de South em menos de uma semana.


- Assim espero. Fique bem, Kakucho.


- Você também.

Mikey encerrou a ligação e franziu o cenho, curioso acerca das ações da polícia. Mas suspirou e decidiu deixar o assunto de lado quando percebeu que não o levaria a lugar nenhum, discou um novo contato no celular e aguardou a voz afobada de Sanzu o atender. Então imagine seu choque quando a ligação caiu na caixa postal. Ele encarou a tela do celular, confuso. O Haruchiyo raramente não o atendia e, quando ficava incomunicável, das duas uma: ou estava sem bateria, ou havia se envolvido em uma merda muito grande.

- Mas o que… - murmurou consternado.

Ligou para Ran, mas o celular do outro estava desligado. Aquilo estava estranho demais. Mikey ficou tenso, preso nos próprios pensamentos, e tomou um susto quando seu telefone começou a tocar exibindo o nome de Kokonui.

- Koko?


- Draken e Inupi vão sair da cidade.


- Ótimo - segurou a ponte do nariz, tentando conter o nervosismo. - Sanzu está com você?


- Não, por que?


- Onde você está?


- Na sede, estou subindo de elevador até o meu apartamento.


- E onde estão Ran e Rindou?


- Rindou sumiu depois que me deixou aqui e Ran saiu com Sanzu alguns minutos antes de eu ir até a oficina. Encontrei com eles no hall do prédio, o bobão do seu namorado disse que planejava te fazer uma surpresa.

Mikey respirou fundo, deveria sentir alívio. Mas uma sensação ruim crescia em seu peito rápido demais.

- Qual o problema? - Indagou, preocupado com a respiração pesada do Sano ao telefone. - O que foi?


- Consegue falar com algum deles? Ran e Sanzu não me atendem.


- Posso tentar.

Koko desligou e os minutos pareciam congelados enquanto Mikey aguardava por uma resposta. Ele só saiu do transe quando Kokonui surgiu em seu escritório e disse:

- Eles não estão me atendendo. Nem Ran, Rindou ou Sanzu, o que está acontecendo?


- Não sei, mas isso não está me cheirando bem.


- Acha que South fez algo com eles? - Koko ficou pálido.


- Convoque os capitães das divisões, vamos encontrá-los.

Kokonui saiu pela porta o mais rápido que seus saltos altos permitiam, deixando Manjiro acorrentado no lugar enquanto repassava suas opções. Teria South feito um movimento que ele não previu? Será que Sanzu estava… Não! Quis se estapear na cara, Sanzu não seria morto facilmente. Mas então o que teria acontecido? Onde estavam os Haitani?

Uma possibilidade passou pela cabeça de Mikey, o deixando sem ar. Não, eles não o trairiam. Não Sanzu, ele não. Puxou o ar para dentro com força, não podia deixar o pânico cegá-lo. Tinha que encontrá-los e talvez descobrir que seus desaparecimentos eram devido a alguma razão boba. Tinha que ser. Tentou ligar novamente para o Haruchiyo e quase quebrou o aparelho com as próprias mãos quando não foi atendido. Seu lado racional pedia que se acalmasse, mas seu lado instintivo gritava que havia alguma coisa muito errada.

Mikey foi até a mesa do escritório e abriu a primeira gaveta, pegando sua pistola e checando as balas. Guardou a arma no cós da calça e partiu da sala, torcendo para tudo ser uma neurose de sua cabeça.

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