Capítulo 4

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Sentindo o suor escorrer em pequenas gotas pelo pescoço, Sanzu foi até o elevador privativo do lado direito do salão, elevador esse que levava até a sala da cobertura de Manjiro. A agitação em seu interior se parecia muito com um rato roendo e mastigando seu estômago, então quando as portas se abriram ele respirou fundo e entrou no apartamento. Estava se perguntando se devia ter tomado uma dose de whisky antes de subir - para aplacar um pouco do nervosismo - quando ouviu a voz de Kakucho dizendo:

-Não deveria estar aqui. Ele não quer ver ninguém.

- O que faço não é da sua conta - Sanzu respondeu. - Suma daqui.

Kakucho se ergueu da poltrona em que estava sentado e parou na frente de Sanzu, o encarando com desgosto. Não era novidade que eles não gostavam um do outro, Haruchiyo detestava que ele ficasse sempre cercando Mikey - pois como seu secretário e guarda-costas pessoal ele tinha essa "liberdade". Mas o que mais incomodava Sanzu era o fato de saber que Kakucho cobiçava Manjiro de um jeito nada profissional, porque via o falecido irmão de Mikey - Izana - refletido nele.

Sanzu morreria antes de ver aquelas mãos, cheias de dedos intrometidos, tocando em Mikey.

Já por parte de Kakucho, a animosidade que sentia pelo Haruchiyo residia na capacidade fenomenal que ele tinha de fazer coisas absurdas. Kakucho não confiava nele e nunca confiaria, principalmente se tratando de Mikey. Manjiro estava muito debilitado e com a sanidade segurada por fios, ele não deixaria Sanzu o convencer a se jogar da porra de um precipício.

- Por que está aí parado como um idiota? - Disse Sanzu, sentindo vontade de  mostrar os dentes e rosnar. - Seu vice-presidente lhe deu uma ordem. Saia do meu caminho, caralho.

Kakucho queria discutir ou no mínimo acertar um soco na cara de Sanzu, mas ao invés disso falou algo que sabia que deixaria o Haruchiyo puto de raiva e impossibilitado de o contradizer, porque era a verdade.

- Tudo bem, o Mikey vai te chutar daqui de qualquer jeito. - Sorriu com sarcasmo. - Até parece que ele te quer babando na roupa dele.

Ele saiu da sala esbarrando no ombro de Sanzu com agressividade, entrou no elevador e viu o rosto de seu superior se contorcer de ódio antes das portas se fecharem e o elevador descer para o térreo.

Se Manjiro não quisesse aquele miserável vivo, não haveria nada que impedisse Sanzu de o matar enforcado com a própria gravata. Filho da puta, sibilou, fervendo de raiva. Quis descer pelo elevador atrás dele para lhe dar uma surra, mas ver Mikey era muito mais convidativo naquele momento.

Sanzu acalmou a respiração acelerada. Ele sempre havia sido rejeitado por todos - sua família (com exceção de Senju), seus "amigos" e também por desconhecidos - ele já estava acostumado e pouco ligava para os olhares enviesados e os comentários amedrontados e maldosos. Mas, como tudo que envolvia Manjiro Sano em sua vida, Sanzu nunca seria capaz de aceitar sua completa indiferença.

Mikey podia rejeitar seus sentimentos românticos, mas nunca havia o rejeitado por ser quem era. Seu líder possuía uma escuridão dentro de si que sempre percebeu estar presente em Sanzu também, por mais que nunca tenha admitido. O Haruchiyo sabia, ele sabia muito sobre Mikey.

Ao contrário de seu apartamento, a cobertura de Mikey era bem decorada. Embora os tons escuros permanecessem, salvo alguns detalhes em dourado. Kokonui havia insistido que fosse daquele jeito, pois de acordo com ele preto e dourado eram as cores de Manjiro. Sanzu concordou veementemente, não haviam tonalidades mais perfeitas do que aquelas para o seu pequeno Monstrinho. Salvo a cor vermelha, que compunha alguns móveis e adereços, como a colcha da cama de Mikey, por exemplo.

Sanzu havia se esgueirando pelo apartamento em completo silêncio até o quarto de seu líder, pois amava observá-lo sem ser notado. Como um maldito stalker.

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