Capítulo 9

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Seu coração sempre batia acelerado quando olhava para Mikey, como se estivesse a um passo de ter um derrame. Aquela sensação de morte iminente deixava Sanzu tão extasiado que o paralisava. 

O que ele vai fazer? Vai olhar para mim? Me punirá? Ou dirá que fiz um bom trabalho?

Os delírios da paixão eram tão angustiantes.

Sanzu sabia que essa paranóia e desejo recorrente por Manjiro vinha desde a infância dos dois, onde - ao primeiro olhar - ele se viu completamente obcecado por Mikey. Entretanto, não se podia dizer o mesmo do Sano.

Mikey sempre foi tudo o que Sanzu queria ser. Forte, decidido, irreverente e um líder nato. Por isso admirá-lo de longe nunca foi o suficiente, ele o queria. 

E queria apenas para si.

Por isso, ao se encontrar parado no meio do quarto de seu chefe como um dois-de-paus estúpido, Sanzu se perguntou se não devia roubar Mikey para si de uma vez por todas. Ele admirava a própria resiliência por nunca ter tentado nada antes, prezando a vontade de Mikey e esperando - torcendo loucamente - que o Sano o escolhesse. 

Pois Deus e o mundo sabiam que Sanzu era capaz de tudo por aquele homem.

- Venha aqui. - Mikey o chamou, a voz sem emoção e o olhar desfocado. O Haruchiyo sabia que esse comportamento era resultado de sua depressão e apatia constante.

Sanzu se aproximou da poltrona em que ele estava sentado, preocupado que estivesse bravo consigo por causa das fofocas de Ran e Rindou.

- Mikey…


- Ajoelhesse. - Ordenou, o interrompendo.

Essa não era uma ordem comum, mas Sanzu sequer pensou em o contrariar. Ele postou-se de joelhos e olhou para Mikey como um cão buscando aprovação, daquele ângulo ele podia vislumbrar os olhos do Sano se estreitando. 

Olhos estreitos, boca contorcida e mãos fechadas em punho. Isso significava que Manjiro estava angustiado e querendo descontar a raiva. Sanzu não ligaria caso Mikey quisesse machucá-lo para se acalmar, mas estava curioso para saber o motivo de sua irritação.

- Por que está bravo? - Perguntou, e acabou por receber um olhar demorado do Sano. - Não ando bebendo ou ficando chapado durante o trabalho, - fez beicinho. - Não tem motivo para estar puto comigo.


- Não estou com raiva de você.


- Sério?


- Sim, por incrível que pareça minha vida não gira em torno de você.

Sanzu se remexeu no chão, era óbvio que Mikey estava descontando sua frustração nele em forma de palavras. O Haruchiyo não deveria ficar incomodado com esse tipo de coisa, mas era difícil aceitar que ele não era tão importante para Mikey quando o mesmo era para ele.

- É claro que está puto - Sanzu zombou. - E eu tenho certeza de que é por minha causa - falou apressadamente, quase se atrapalhando nas palavras graças ao nervosismo - você deve ter se arrependido do que fizemos e quer desistir…

Mikey o agarrou pelo queixo fazendo com que se calasse. As mãos do Haruchiyo tremiam de ansiedade e seus olhos azuis iam de um lado ao outro no quarto, sendo incapazes de focar em Manjiro. 

- Não coloque palavras na minha boca, seu idiota. - Disse Mikey, soltando o queixo de Sanzu com agressividade. - Você é paranóico pra caralho.

Sanzu não entendia, mas Mikey estava irritado com ele - não pelo que tinham feito entre as quatro paredes daquela sala de reuniões - mas sim, porque o queria. 

E isso era maçante porque seu objetivo era fazer com que Sanzu o desejasse a vida toda e nunca pudesse ter, queria testar seus limites e o manter em rédea curta. Agora, no entanto, ele queria que o Haruchiyo conseguisse o que tanto desejava.

Mikey estava tão cobiçoso dele quanto Sanzu sempre foi consigo desde que tinham 12 anos de idade. 

E isso o deixava puto, porque significava que estava perdendo o controle. Ele havia o chamado para conversar acerca da movimentação suspeita da Rokuhara Tandai, mas ao o ver tão inseguro dentro daquele quarto fez Mikey querer se estapear por arder por aquele louco, romântico e sociopata.

Mas, como o bom filho da puta que era, ao invés de bater na própria cara ele bateu na de Sanzu.

O Haruchiyo sentiu sua bochecha queimar onde Mikey o acertou, até mesmo seu cabelo ficou arrepiado por conta da agressão. Ele levou a mão à bochecha vermelha, perguntando-se o que havia feito de errado.

Manjiro bufou e cruzou as pernas, odiando o olhar confuso e brilhante de Sanzu. Se ele começasse a chorar receberia outro tapa, afinal, como diabos ele ousava provocar aqueles sentimentos em Mikey? Era tudo culpa dele.

- Vai chorar? - Desdenhou, erguendo as sobrancelhas. - Se eu bati em você é porque você mereceu.


- Entendo. - E de um jeito errado e distorcido Sanzu entendia mesmo. - Pode fazer o que quiser comigo.

Mikey às vezes se via extremamente perplexo com o comportamento de Sanzu, ele não era capaz de assimilar a passividade e agressividade daquele ser.

Sanzu podia matar pessoas sorrindo e cometer crimes hediondos, mas bastava um tapa de Mikey para ele se tornar um moribundo carente. Sempre havia sido assim, Manjiro sabia que tinha capacidade para manipular as massas, mas nunca imaginou que pudesse exercer esse tipo de poder sobre alguém tão instável e perigoso. 

Sanzu era uma bomba ambulante e, ao mesmo tempo que tinha medo, Mikey também tinha curiosidade em ver o que ele faria caso finalmente explodisse.

- Soube do que fez com o último representante da Rokuhara Tandai. - Manjiro comentou parecendo desinteressado. - Mochizuki não vai conseguir dormir por uma semana, parece até que viu o próprio diabo em carne e osso.


- Ele veio contar pra você? - Perguntou incerto, sondando a reação de Mikey. Quando o Sano assentiu, Sanzu disse: - E o que você achou?

Pela expressão esperançosa e os olhos luminosos Haruchiyo parecia esperar satisfação. Mikey abriu um sorriso e, com a mesma mão que usou para o bater, lhe fez um carinho na cabeça.

- Você fez um bom trabalho, Sanzu. Enviarei as fotos para South e veremos qual será a reação dele.

O Haruchiyo abriu um sorriso de orelha a orelha, mal parecia que o clima estava pesado segundos atrás.

- Eu tenho uma surpresa pra você. - Contou, erguendo-se nos próprios joelhos como um cachorro querendo brincar com o dono. - Se estiver afim de continuar o que começamos dias atrás… - Passou a língua pelos lábios. - Eu já deixei tudo separado e organizado.

Mikey aproximou o rosto do dele e murmurou:

- O que tem preparado para mim?


- Não vou contar, você só vai descobrir quando eu estiver usando em você. - Sorriu. - Tenho certeza de que vai gemer como uma vagabunda.

Manjiro agarrou os cabelos de Sanzu pela nuca e apertou, puxando os fios para trás e consequentemente expondo seu pescoço. Ele então sussurrou próximo de sua pele, o arrepiando por inteiro:

- Então vá buscar.


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