Capítulo 8

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Ran sentiu o cheiro antes de ver.

- Que porra é essa?! - Rindou praticamente berrou, o som de sua voz ecoando pelo galpão como se estivesse em altos-falantes. Tapou o nariz, incomodado com o fedor e disse: - Ah que nojo! 

O Haruchiyo abriu um sorriso horripilante ao passo que guiava os irmãos Haitani e Mochizuki para a área mais sanguinolenta do lugar, coberta precariamente por uma lona de plástico. Havia uma mesa grande no centro do espaço, com um porco morto enorme em cima.

O suíno havia sido aberto de ponta a ponta e depois suturado com grampos grandes e disformes, a boca estava escancarada e as patas eram formas duras e caídas. Ele estava deitado de lado e parecia acomodar algo grande dentro de si, já que o bicho estava estufado até o pescoço.

- Estou até com medo de perguntar o que você fez. - Falou Mochizuki, tremendo e franzindo o nariz para o bolor.

Ele e os Haitani foram convocados pelo vice-presidente para se livrar de evidências, embora esse não fosse o procedimento padrão reservado ao escalão mais alto. Todavia, Sanzu estava satisfeito e ansioso para levá-los a um dos galpões de desova da gangue. Ele estava alegre como uma criança ao apresentar, orgulhoso, um desenho para os mais velhos. Mochizuki estava tão assustado que suava tal qual o porco podre sob a mesa.

- Onde você arranjou esse porco? - Ran perguntou, tapando o nariz com o lenço de seu terno.


- Em um açougue, eles me fizeram um preço ótimo já que a carne estava perto de estragar. - Sorriu, vestindo as luvas de plástico preto em uma bancada próximo à mesa. Ergueu uma faca afiada e seu semblante tornou-se arrogante. - Acho que dessa vez eu superei você, Ran.


- Me surpreenda. 

Sanzu cortou as suturas na pele do porco e abriu sua barriga, o cheiro tornou-se insuportável. 

Ao presenciar aquela cena Mochizuki vomitou no chão, Rindou soltou uma sequência de palavrões que teria feito os ouvidos de todos no quarteirão sangrarem e Ran sentiu seu queixo tocar o chão.

Pois, mutilado, morto e amarrado dentro do porco, estava o último enviado da gangue Rokuhara Tandai.

- Achei que ele ainda estaria vivo - Sanzu divagou. - Eu deixei a boca do porco aberta para que ele pudesse respirar. Mas ele acabou morrendo sufocado, acho que deveria ter feito furos na pele.


- Você colocou ele vivo aí dentro?! - A expressão de Rindou era puro choque.


- É claro. - O sorriso de Sanzu parecia saído de um filme de terror. - Do contrário, não teria a menor graça.


- Cacete! - Rindou teve uma crise de risos. - Puta que pariu! Você é maluco pra caralho!

Mochizuki vomitou mais.

- Fascinante. - Ran comentou, ao analisar o trabalho feito por seu superior.


- Essa é a coisa mais insana que eu já vi! - O outro Haitani não conseguia parar de rir.


- Como fez isso?


- Retirei os órgãos do porco e coloquei ele consciente aí dentro - contou Sanzu. - Ele só ficou aí por um dia, morreu fácil demais.


- Acho que ele morreu de susto quando percebeu que estava preso dentro de um porco fedido e não conseguiria sair. - Rindou quase se jogava no chão de tanto rir.

Mochizuki, após vomitar até o que nem sabia que tinha comido, levantou o tronco e limpou a boca. Seu cabelo castanho estava jogado para trás e assanhado, porém no momento ele estava traumatizado demais para se importar com isso.

- Isso é absurdo, - disse ele para o Haruchiyo - até pra você.


- Absurdo? Eu simplesmente estava inspirado. - Defendeu-se como se aquela atrocidade houvesse sido apenas um delírio artístico. - Não é minha culpa se seu estômago é fraco.


- Aí, puta que pariu! - Gritou estarrecido. - Eu não vou cuidar disso, vou deixar esse trabalho para os dois idiotas que admiram você. - Virou as costas e saiu. - Estou caindo fora, não vou mexer nessa merda.

Os três restantes se encararam e riram.

- Ele é tão sensível. - Sanzu balbuciou, tirando as próprias luvas e entregando outras aos irmãos Haitani.


- Ele tinha família? - Rindou perguntou sobre o morto.


- Não sei e não me importo. - Disse friamente e, caso o sujeito realmente tivesse alguém procurando por ele, era melhor que não soubesse como havia morrido.


- O que será que o Mikey vai pensar disso? - Ran provocou, sabendo que Sanzu sempre pensava mil vezes antes de fazer algo que decepcionasse o Sano.


- Acho que vamos descobrir em breve. - Ele sorriu, inseguro. - Em todo caso, ele disse que eu podia me divertir.


- Sua mente é como um passeio no inferno, Sanzu. - Ran continuou, era divertido instigá-lo com a única coisa que o afetava. - Não acho que Mikey vai querer segui-lo nessa odisseia.


- Como não? Se ele é o próprio diabo. - O olhar vibrante e o sorriso cheio de presas do Haruchiyo fez os irmãos darem um passo para trás. - Limpem tudo. Vejo vocês na sede.

Os Haitani o observaram partir animadamente. Um demônio indo encontrar seu senhor após um feito terrível. Sanzu era assustador até quando não tentava ser.

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