Parte 6

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Nanon observava o teto acima da sua cama e ergueu o braço, mesmo se esticando, ele mal conseguia tocar o mosquiteiro que o cobria. Nas primeiras noites morando naquela casa, ele acordou desorientado, sentindo como se estivesse dormindo na rua, porque tudo era tão grande e amplo que dava a impressão dele estar solto no mundo.

Seis meses já tinham se passado e ele ainda estava preso ali.

Ele realmente tinha a intenção de procurar outro lugar para ficar, mas não existiam tantas casas disponíveis para alugar naquela região, principalmente próximas à fazenda, e ele considerava arriscado dividir quarto com alguém desconhecido.

Além disso, Ohm nunca pediu para que ele saísse, inclusive insistia para que ele ficasse o tempo que fosse necessário. Nanon tinha falado que pagaria o aluguel pelo período em que estivesse ocupando a casa, mas Ohm não aceitou.

Nanon baixou o braço e o colocou atrás da cabeça, enquanto coçava a barriga com a outra mão. Ohm era tão irritante com sua mania controladora.

Na véspera da última discussão que tiveram, Nanon lembrava de ter agradecido ao chefe pela generosidade, apesar de estar contrariado. A única opção que tinha era dizer que compraria sua própria comida e sorriu, erguendo somente um canto da boca. Uma sensação ingênua de vitória se apossou dele na hora, porque sabia que o chefe ficava bravo quando ele agia desta forma. No entanto, nesse dia, Ohm deu de ombros e Tia Godji continuou levando todas as refeições para ele.

Como Ohm podia ser tão chato? Nanon tapou o rosto com as duas mãos. Ele era chefe no trabalho, porém  não tinha o direito de mandar na sua vida pessoal! Nanon bufou ao repassar toda a discussão que os dois tiveram, visto que, por mais que ele tivesse certeza do que queria, Ohm só precisou direcionar um olhar sério para encerrar o assunto.

Sério nao era a melhor palavra para definir o rosto de Ohm naquele dia, a palavra mais adequada seria assustador. Foi assustador ao ponto de Nanon ter dado um passo para trás, coagido somente pelo seu olhar.

“Fraco!” Ele murmurou sozinho “Eu fui fraco.”

Nanon se levantou, foi para a janela e esperou para acenar para o chefe. Depois, enquanto se trocava, ele riu do quanto seu comportamento era patético por se submeter às vontades dele.

A manhã tinha sido particularmente difícil de lidar, porque os pensamentos continuavam brotando em sua mente. Ele se esforçava para não focar mais nisso, no entanto era tão complicado quando Ohm estava sentado ao seu lado, lendo o jornal, compenetrado, com a cabeça baixa e olhos fixos nas notícias. Suas mãos fortes seguravam o papel fino com delicadeza.

Essa dualidade de Ohm perseguia Nanon; seu chefe conseguia ser bruto e suave ao mesmo tempo. A lembrança daquele dia não o abandonava, por mais que o rosto de Ohm fosse assustador, também era incrivelmente excitante.

Nanon soltou o ar pela boca, num suspiro lamurioso, pois tinha prometido a si mesmo nunca mais se tocar pensando em Ohm; tinha sido um deslize e isto ficaria restrito somente àquela noite. Seu receio em fazer isso outras vezes, era cometer algum erro na frente do chefe e acabar denunciando suas fantasias e desejos.

Ele não podia perder esse emprego, afinal precisava do dinheiro!

Este era o pensamento recorrente em sua cabeça, porém a verdade era que, em menos de um ano, ele já havia juntado o valor que tinha planejado e poderia se mudar para a capital na hora que quisesse.

Ele não queria perder esse emprego, era a outra conclusão a que ele chegava quando era um pouco mais honesto consigo mesmo.

De certa forma, ele havia se acostumado com este lugar e seria muito ruim voltar a  viver na insegurança, sem saber onde estaria no dia seguinte, se estaria passando fome ou frio, até mesmo sem saber se estaria vivo. Essa perspectiva era angustiante. Pela primeira vez na sua vida, ele tinha uma certa estabilidade, conforto e a certeza de que estaria aquecido e alimentado na semana seguinte e esta era uma sensação boa, acolhedora e tranquila, mesmo que sentisse falta da adrenalina e movimento de uma cidade maior.

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