Tempo

Parte 17

Na segunda-feira, Ohm tinha total convicção de que disfarçaria melhor sua timidez e acreditava que em breve conseguiria falar com Nanon sobre o que eles faziam.

Ohm ainda ficava travado perto dele porque nunca teve sentimentos tão incompreensíveis por alguém. Sua evolução era lenta neste aspecto, no entanto, havia alguma melhora do seu ponto de vista. Desta vez, quando ele o fez gozar, Ohm o ajudou a levantar e sorriu antes de sair. Não era muito, eles poderiam ter conversado, mas o que o deixava mais envergonhado, era o fato dele nunca ter precisado fazer isso antes.

A facilidade do casamento arranjado o fez pular a etapa de conquistar sua esposa, já que os dois eram filhos obedientes e aceitaram o que foi determinado pelos pais. Quando foram apresentados, a conversa foi inusitada, ambos tentavam descobrir gostos e interesses em comum e existiam muitos pontos que favoreciam a criação deste vínculo de companheirismo. Eles sabiam que a amizade facilitaria a convivência, pois passariam a vida inteira juntos. Pelo menos deveria ter sido assim.

Eles não precisavam se amar, somente saber conviver e, por sorte, conseguiram criar um laço afetivo.

Com Nanon, tudo era diferente. Como ele deveria se comportar? O que ele esperava de Ohm como pretendente? Ele poderia se considerar um pretendente? Eles tinham pulado tantas etapas, que o angustiava a possibilidade dele o enxergar como um homem indecente ou alguém que não deveria ser levado a sério.

Ohm apoiou os cotovelos na mesa e tapou o rosto. Ele precisava ser mais corajoso. O que ele temia? O que o assustava? O fato dele não ter tido outras experiencias na vida além do casamento não era uma desculpa para agir como um moleque bobo.

Ele era um homem honrado e se comportaria desta forma.

Quando Nanon entrou, parecia sério e Ohm respirou aliviado porque eles estavam repetindo esse comportamento há alguns dias, então pelo menos a noite passada não havia mudado nada entre eles aparentemente, esta era a esperança de Ohm. Nanon tinha dito que ele não precisava fazer nada e não pareceu incomodado ao se ajoelhar pela segunda vez.

A tranquilidade de Ohm não durou por muito tempo, porque no decorrer da manhã, ele notou que não havia aquela alegria habitual no olhar de Nanon. Ele sempre parecia disposto a fazer uma piada ou uma brincadeira para desconcertar Ohm e,  neste dia, ele parecia fechado e mais retraído.

Para Nanon, os pensamentos do dia anterior ainda o acompanhavam, e de certa forma, isso facilitava manter sua atenção voltada somente para o trabalho. Ele sabia que deveria fazer seu serviço, juntar dinheiro e se preparar para ir embora antes que as coisas ficassem piores.

Cada pergunta era respondida sem brincadeiras ou gracejos. Apesar da vontade de observar Ohm aumentar a cada minuto, Nanon usou todo seu autocontrole para manter seu profissionalismo.

Ele sabia que Ohm almoçava sempre no mesmo horário, por isso saiu um pouco antes e disse para Tia Godji que estava faminto e ela apertou sua bochecha antes de deixar que ele fizesse seu prato.

Quando Ohm o chamou para almoçar, Nanon agradeceu e disse que não estava com fome.

Uma ruga se formou entre as sobrancelhas de Ohm, que ficou em silêncio e saiu.

Ao voltar, Ohm não tinha mais aquela timidez da manhã e a conversa fluiu um pouco melhor. Ele insistia em perguntar coisas que exigiam explicações mais detalhadas de Nanon. Era o mesmo tipo de relação que eles tinham estabelecido no primeiro mês: sérios, sem intimidade e atentos aos valores e negociações que estavam sendo feitas.

A tarde estava abafada e o céu tinha escurecido por causa de uma tempestade que se aproximava. Nanon abriu alguns botões da camisa em uma tentativa torpe de diminuir seu desconforto. O suor escorria pelo seu pescoço e o calor era tanto que ele tinha impressão de que o papel dissolveria sob a umidade das suas mãos e isto o obrigava a enxugar os dedos nas calças a cada minuto.