Parte 18

143 23 313
                                    

Ventava forte e Ohm foi até o quarto de Marie para ver se estava tudo bem. Ela tinha medo de tempestades, mas tirando o assovio do vento nas frestas das janelas, quase não havia outros barulhos, nem raios ou trovões. Ela dormia profundamente abraçada à sua boneca nova e isso aqueceu o coração do pai.

Ele fechou a porta com cuidado e desceu as escadas rumo ao escritório. A tempestade dentro dele gritava tão alto quanto o vento lá fora e Ohm tinha desistido de tentar dormir. A conversa da tarde tinha despertado muitos sentimentos dentro dele, que, apesar de estar feliz por finalmente ter expressado seu desejo por Nanon, também aumentou sua insegurança ao ouvi-lo falar tão abertamente sobre suas outras relações.

Este pensamento sempre esteve latente na consciência e no coração de Ohm, mas escutar a respeito das experiências anteriores dele fez nascer um medo crescente de que Nanon pudesse se interessar por outra pessoa e ir embora. Ele poderia ir atrás de outros homens mais determinados do que ele, afinal seus desejos não eram uma novidade como eram para Ohm.

Sua pouca experiência com relacionamentos amorosos o deixava aparvalhado sobre que caminho seguir, mas Ohm precisava mostrar para Nanon que ele era diferente, que sua pouca experiência poderia ser compensada com afeto e carinho, seu interesse por ele ia além do que os outros homens tiveram.

Seria burrice perdê-lo por causa das suas inseguranças.

Ele fechou a porta do escritório e saiu para a varanda da sua casa. Se sua intenção era sincera e real, ele deveria falar com Nanon agora, antes que a tempestade chegasse, principalmente porque os dois já tinham perdido tempo demais.

Ele caminhou apressado até o ateliê e encontrou Nanon sentado na janela com as pernas penduradas para o lado de dentro da casa.

“Boa noite, senhor!”

Nanon colocou o indicador na cabeça, como se erguesse um chapéu imaginário e deu seu sorriso de deboche.

De banho tomado e com a cabeça mais fria, Nanon tentava entender o que acontecia com Ohm, pois a forma como ele se comportava era sempre estranha e inesperada. Cada vez que ele conseguia construir um muro de certezas, que o protegeria da estupidez dos seus sentimentos, Ohm fazia algo e, como um furacão, destruía todas as suas convicções.

“Boa noite, Nanon!”

Ohm sabia que seria recebido com sarcasmo e de algum modo, essa reação previsível de Nanon o deixou mais confiante, já que era a maneira como ele se comportava quando tudo estava bem. Ele caminhou até a porta, entrou e a fechou após passar.

Nanon desceu da janela, mas não se aproximou, só se encostou no beiral e cruzou os braços na frente do peito.

“O que o senhor precisa?”

A casa estava na penumbra, iluminada por uma única vela em uma luminária,  mas Ohm não precisava enxergá-lo para saber que feição ele tinha naquele momento, era reconfortante conhecê-lo tão bem assim.

“Nós não terminamos nossa conversa.”

Nanon bufou, foi até a mesa e sentou em uma das cadeiras e apontou para que Ohm se sentasse à frente dele.

“Você quer conversar? Tudo bem, vamos conversar. Quer chá? Água?” Nanon pegou dois copos que estavam de boca para baixo sobre a mesa e os virou e esperou pela resposta dele.

“Você tem o licor?”

“Se é só uma conversa, você não precisa de álcool.” Nanon viu Ohm se acomodar do outro lado da mesa e ficou um pouco decepcionado por perceber que ele não tinha outras intenções “Vai ser só uma conversa?”

TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora