Parte 44

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Treze dias e ele já tinha se habituado a brincar com sua aliança para se distrair quando ficava nervoso. Há treze dias Ohm tinha colocado este anel em seu dedo e Nanon não se lembrava mais como era estar sem ele.

Ohm andava de um lado para o outro na sala e Nanon, sem saber como acalmá-lo, girava a aliança ao redor do dedo. Ele não precisava levantar o rosto para ver a movimentação do marido, pois a sombra dele dançava aos seus pés.

Os passos de Ohm o deixavam inquieto.

Quando ele parou em frente a janela, Nanon respirou aliviado por cinco segundos. Como não havia sinais do carro na estrada, Ohm deu as costas para a paisagem da fazenda e voltou a andar pelo cômodo.

Nanon tentava fingir tranquilidade, mas o fato é que ele também estava nervoso, porque esta seria a primeira vez que encontraria Marie depois de ter sido pedido em casamento.

Ainda causava um arrepio pensar nesses termos: pedido de casamento.

Não era só um pedido, eles fizeram votos! Nanon suspirou e sorriu ao lembrar que tinham sido votos sinceros mesmo que improvisados dentro da banheira.

Ele conferiu as horas no relógio de pulso e depois olhou para o anel para se assegurar de que ainda estava ali, afinal era isso o que tinha: o anel, um pedido e os votos. Nunca haveria um casamento de verdade.

Isso não era importante porque ele e Ohm se amavam e, na sua opinião, uma cerimônia servia somente para mostrar aos outros qual era o status do relacionamento entre um homem e uma mulher. Eles eram homens e não precisavam provar nada a ninguém. Ohm o amava e eles estavam juntos nessa ideia louca dele, Nanon dizia a si mesmo tentando se convencer.

Não era oficial, mas era real. Era a vida dele.

Deles.

Eles passariam a vida juntos.

E Marie sabia.

O coração de Nanon bateu alto em seu peito e ele olhou em volta procurando pelas abelhas que zuniam ao seu redor, mas se deu conta de que o zumbido agudo vinha do seu próprio ouvido. Seu pulmão pressionou suas costelas e o sufocou, aumentando sua ansiedade. O sapato de Ohm batendo no chão, andando de um lado para o outro, batia na mesma cadência do seu coração e isso o enlouquecia.

Nanon fechou o punho, a aliança ficou espremida entre seus dedos, machucando sua pele. Ele alisou o relógio, balançou a cabeça tentando afastar aquele som que tapava sua audição e respirou fundo. Ohm ainda andava pela sala quando ele levantou em um pulo, assustando o marido, que parou de se mover.

“O que houve?” Ele perguntou ao ver Nanon andar na sua direção com os punhos fechados e o semblante parecendo transtornado “Non? O que aconteceu?”

Ohm não reconhecia aquele olhar nem a postura dele ao caminhar vindo ao seu encontro. O olhar perdido como se não o enxergasse e as mãos fechadas parecendo disposto a brigar em nada  condiziam com as piadas que ele contou durante o café da manhã para distraí-lo até a chegada da sua filha.

Os últimos passos de Nanon ficaram mais velozes conforme se aproximava de Ohm, que ficou parado, sem reação, até sentir o corpo dele se chocar com o seu. Os braços de Nanon o prenderam pelo pescoço em um abraço apertado e Ohm envolveu sua cintura e depois alisou suas costas.

“Non, o que aconteceu? Fala comigo!” Ohm balbuciava suas perguntas enquanto sentia o coração dele bater contra seu peito.

“Vai ficar tudo bem?” Nanon perguntou e Ohm o apertou como se tentasse fazer os dois virarem um só.

“Sim, está tudo bem e vai ficar tudo bem!” Ohm o beijou seguidas vezes na bochecha e no pescoço, onde seus movimentos limitados pelo abraço apertado permitiam.

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