Parte 11

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Ohm disfarçou o constrangimento e embaraço por não ter entendido as palavras de Tia Godji, mesmo assim seguiu o conselho dela. Após trancar a porta do seu quarto, ele se despiu e foi tomar banho.

Sua musculatura estava tão tensa, que ele tinha a impressão de ter corrido três vezes mais do que fazia nas manhãs quando, na verdade, só tinha caminhado a pequena distância entre as casas.

Ele deveria ir até lá? Ele conseguiria? Nanon o aceitaria?

Isso era inapropriado e condenável, no entanto…

Nanon era tão atraente, o jeito como ele sorria o irritava e excitava.

Ohm gemeu alto e depois grunhiu irritado e desesperado.

Ele não poderia se interessar por um rapaz.

Ainda mais aquele rapaz.

Ele já era um homem.

Este homem.

Nanon.

Nanon o fazia perder o juízo.

“Isso é errado!” Sua mão fazia um som alto conforme ele a movia e batia ritmadamente “Isso é tão errado!”

O sorriso e os comentários dele o deixavam nervoso e com raiva. Sim, era raiva que atiçava seu íntimo e provocava essa ereção. Seus olhos seu cheiro, seus cabelos, seu jeito entediado de se sentar e trabalhar, tudo o irritava, tudo o que Nanon fazia o tirava do seu eixo.

Ele tinha raiva e com raiva ele moveu sua mão com mais intensidade e viu seu gozo se espalhar por toda parte.

Ofegante e aliviado, Ohm tentava se convencer de que tinha sido um desejo passageiro. Isso poderia acontecer, não é? Ele já tinha se sentido assim na época da faculdade.

Seu casamento já tinha sido arranjado e, por ter sido prometido à sua esposa, ele evitava ir aos bordéis com os amigos e acabava passando muitas noites conversando com seu colega de sala, Singto. A conversa entre eles fluía com facilidade e ele era carinhoso e amoroso. Ohm lembrou dos sonhos estranhos que teve com o colega algumas vezes.

Era carência e, assim como naquela época, isso passaria, ele só precisava se dar um tempo.

No entanto, as circunstâncias eram diferentes, depois deste tempo, ele não teria uma esposa esperando por ele. Ohm balançou a cabeça negativamente, ele não queria outra esposa. Ela tinha sido única e nenhuma outra mulher poderia assumir esse lugar no seu coração.

Quando ele desceu as escadas, Marie tinha colocado a boneca sentada na cadeira ao lado e mostrava para Tia Godji os brincos e o colar que tinha ganhado. Parecia que uma parte da sua vida continuava a mesma e ele conseguiu relaxar: Marie  ainda era sua bebê.

Tudo o que tinha acontecido foi um surto e o banho o tinha limpado e não havia mais motivos para se preocupar, tudo voltaria ao normal.

Pai e filha conversaram sobre a viagem, Ohm contou a respeito da corrida, omitindo a forma como ele e Nanon tinham entrado no autódromo, afinal não era um bom exemplo para ela. Mentir também não era decente, mas ele pensaria sobre isso em outro momento. Ele respirou fundo porque era mais uma indecência para sua lista do dia.

Nem bem o jantar havia acabado, Marie arregalou os olhos, se endireitou na cadeira, virando o corpo em direção ao ateliê por alguns segundos para, em seguida, voltar a olhar para o pai. Ohm demorou para perceber o que tinha acontecido, porém a filha, mais atenta,  tinha notado que o som do piano ecoava ao longe.

Marie sabia que não era a mãe tocando, mas por um momento sua mente a enganou e seu coração apertou de alegria e saudade. Ela nem teve tempo de lidar com esta mistura de sentimentos, pois seu pai, visivelmente irritado, empurrou a cadeira para trás e saiu pisando duro. Ela precisava correr e impedir que ele fizesse algo com Tio Nanon. Não era culpa dele a raiva que seu pai sentia ao ouvir o piano ser tocado.

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