Parte 13

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Naquela manhã, Nanon já tinha fumado quatro cigarros debruçado sobre a janela. A noite tinha sido horrível porque ele mal conseguiu dormir, cada palavra dita durante a discussão ficava repetindo ininterruptamente em sua cabeça.

Ver Ohm correndo pelo outro lado da propriedade, o deixou ainda mais nervoso. Ele bateu as mãos no beiral da janela e andou até o pequeno guarda-roupa que tinha no quarto, se arrumou e foi até a porta.

“Você deveria ir embora, juntar suas coisas e sumir.” Nanon falou em voz alta antes de seguir, abatido e se sentindo derrotado, para a casa principal. Por que ele tinha a impressão de que era impossível sair dali?

Tia Godji estava agitada com o trabalho e mandou que Nanon se sentasse na cozinha e aguardasse, enquanto ela levava as coisas do café da manhã para a mesa de Ohm e Marie.

“Você está com cara de que comeu algo estragado, filho!” Tia Godji comentou entre uma das idas e vindas até a cozinha.

“Talvez eu tenha comido mesmo.” Nanon respondeu sem pensar muito e se encolheu quando  viu Tia Godji empunhar ameaçadoramente uma frigideira.

“Minha comida é sempre fresca. Você tem frequentado outras cozinhas?” Ela o repreendeu de brincadeira e Nanon riu.

“Eu nunca trocaria sua comida, Tia! Tudo o que a senhora faz é perfeito.” Nanon riu “Acho que engoli alguns sapos ontem.” Ele abriu os braços e Tia Godji balançou a frigideira mais uma vez na sua frente antes de abraçá-lo.

“Você é um bom garoto e eu tenho orgulho de você. Não desista e tudo vai ficar bem.” Ela falou e saiu mais uma vez, o deixando sozinho, mas com o coração aquecido pelo carinho tão maternal.

Ele acariciou seu relógio e repetiu mentalmente que tudo ficaria bem como se fosse um mantra.

Por um tempo, ele quase esqueceu o que tinha acontecido, mas a movimentação no outro cômodo da casa e as conversas entre Ohm, Marie e Tia Godji fizeram Nanon perder o apetite mais uma vez. Seria mais prudente não ficar no mesmo recinto com o pai e filha por um tempo.

Ele se levantou e deu dois passos em direção ao escritório antes de parar e sentar mais uma vez. Ele tinha cogitado adiantar o que pudesse e sair antes de Ohm começar a trabalhar. Além de Tanapon ser uma boa companhia, sempre havia algo em que ele podia ajudar o encarregado. Porém, uma dúvida aparecia a toda hora em sua cabeça desde a briga: e se Ohm pensasse que ele estava fazendo algo pelas suas costas? Afinal seu chefe havia deixado claro que não confiava nele. Nanon se debruçou sobre a mesa, sentindo-se anestesiado e inerte, embora sua cabeça não o deixasse em paz.

Alguns minutos após a saída de Marie, Tia Godji o espantou da sua cozinha e ele se arrastou para o escritório. Ohm estava lá, parado, olhando pela janela, vestindo uma roupa clara, que Nanon achava particularmente atraente.

Não, ele não deveria pensar nisso! Ohm o desprezava e Nanon tentou manter este pensamento em mente. Quanto antes ele fosse embora daquela casa, mais cedo ele se veria livre de todo este tormento.

“Bom dia! Marie está melhor?” Nanon o cumprimentou por formalidade e perguntou sobre a criança verdadeiramente preocupado.

“Sim.” Ohm virou com rapidez ao ouvir a voz de Nanon “Ela disse que sente falta da mãe.”

“Esse sentimento nunca vai embora.” Nanon sussurrou e foi para sua mesa.

“Nanon, eu queria conversar sobre ontem, porque eu…”

“Eu prefiro trabalhar, se o senhor não se importar.” Nanon disse com uma voz cansada.

“Tudo bem.” Ohm olhou em volta, parecendo perdido, e mexeu em alguns papéis.

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