Parte 33

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Os comentários e suposições sobre a investigação corriam sem acanhamento pela cidade e as pessoas não eram muito gentis em suas palavras.

Os únicos que pareciam sentir realmente a falta de White e Mond eram seus familiares. Entretanto, também corria à boca pequena, que haviam muitas dívidas deixadas para trás e estes parentes se queixavam de não ter como quitá-las.

As especulações variavam entre a morte deles ou o sumiço para fugir de agiotas.

“Ou morreram por causa dos agiotas!” Alguém disse alto no bar, após beber mais do que devia e alguns copos tilintaram ao fundo.

Essas conversas fluíam entre todas as camadas da sociedade daquela região. E, por causa disso, Thai ligou algumas vezes para o irmão, demonstrando genuína preocupação com sua segurança.

Menos de uma semana depois da investigação na fazenda, ele comunicou que o visitaria.

Como era a primeira vez que o irmão pisaria em suas terras desde que tinham brigado, Ohm estava inquieto. Ele tentava se convencer de que era pela volta do irmão à casa onde os dois cresceram e passaram parte da juventude juntos.

O sonho de Thai sempre foi morar na cidade, então, logo após o seu casamento, Ohm comprou a parte do irmão na fazenda. Quando os dois brigaram, anos depois, as palavras de Ohm foram duras e categóricas: o irmão não era mais bem-vindo ali.

A volta dele simbolizava um recomeço para os dois e era isto o que o assustava. Ohm insistia que era somente isso que se agitava dentro dele.

No entanto, uma pequena ponta de insegurança espetava seu coração  ao pensar que apresentaria Nanon ao irmão.

Completamente atordoado com a possibilidade do seu romance ser descoberto, Ohm andava de um lado para o outro na casa, conferindo a organização e limpeza dos cômodos.

Toda essa movimentação era acompanhada pelo olhar atento de Nanon.

Seu relógio marcava nove horas e quinze minutos e o atraso dos visitantes parecia deixar Ohm ainda mais nervoso. Nanon tinha se encostado em uma das pilastras da varanda e via Ohm arrumar a camisa repetidas vezes, enquanto olhava a poeira que subia longe na estrada.

“Marie, seu pai vai acabar arrancando o botão da camisa de tão impaciente que está.” Nanon disse.

Ohm, pela primeira vez naquela manhã, pareceu se dar conta do quanto estava ansioso.

“Tio Nanon está certo, pai.” Ela ajustou a camisa dele e sorriu “Pronto! Agora você está lindo!”

“Obrigado, filha!” Ohm beijou o topo da cabeça de Marie.

“Ele está lindo, não é, tio?” A garota perguntou.

“O chefe é o homem mais lindo desta região.” Nanon disse sem corar e Marie riu.

Por outro lado, Ohm sentiu seu rosto arder de vergonha.

“Ele é o mais forte, o mais inteligente, o mais educado, o melhor patrão!” Nanon continuou.

Tia Godji se escondeu atrás do pano de prato, mas sua risada foi acompanhada pelos demais.

“Eu entendi, Nanon. Eu vou te dar um aumento por fortalecer minha autoestima!” Ohm baixou os olhos e coçou a nuca, encabulado.

Marie achou curioso ver o pai tão acanhado e, ao mesmo tempo, isso pareceu tão fofo, que ela o abraçou.

“Tio Nanon merece! E a Tia também!”

“Não diga isso, menina! Eu recebo um salário justo!” Tia Godji a repreendeu com receio da conversa ser impertinente.

“Marie tem razão!” Ohm falou, observando o carro estacionar “Veremos isso na segunda-feira, Nanon. Por favor, me lembre!”

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