Parte 30

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Nanon viu Ohm sair, fechar a porta e sorriu.

Os dois tinham sido mais imprudentes do que nos dias anteriores, mas isso era completamente irrelevante para todos os sentimentos que se alvoroçavam dentro do seu peito. Ele não se importava com mais nada, agora que Ohm tinha dito que o amava também. Ele se virou para o lado e cheirou o travesseiro inundado com o aroma de Ohm antes de se levantar para tomar banho.

A água escorria pelos seus cabelos e Nanon mirou o seu reflexo no espelho.

“Você sorri feito um bobo!” Ele disse para a imagem feliz que o encarou de volta.

Ainda emanando felicidade, ele cumprimentou Tia Godji ao entrar na cozinha e agradeceu pela refeição que ela tinha deixado preparada. Ele sempre tomava café da manhã com ela quando dormia com Ohm, ou melhor, quando dormia na casa de Ohm, ele se corrigiu mentalmente.

Ele se perguntava se sua felicidade era muito aparente e achou mais prudente tentar se conter, pois não queria levantar suspeitas sobre o que tinha acontecido, afinal era perceptível que ela o sondava de canto de olho.

“Esse mingau está especialmente delicioso hoje!”

Realmente a comida estava maravilhosa, mas ele esperava que isso a distraísse da sua escancarada felicidade.

Ele já estava no escritório quando Ohm entrou e fechou a porta apressadamente. Seu beijo parecia angustiado e seu olhar o assustava.

“O que aconteceu?” Nanon perguntou, aflito.

“Encontrei Tia Godji quando saí do seu quarto hoje de manhã!” Ohm falou e sua mão tremia um pouco.

Nanon entendia o medo dele e não o julgava. Contudo, esse pavor estampado em seu rosto só tornava evidente aquilo que ele queria a todo custo esconder: o que os dois viviam era um conto de fadas. Essa constatação o atingiu com força, seu estômago doeu e o mingau parecia pesar dentro dele.

“Acho que ela já suspeitava disso.” Nanon contou da conversa que ele e a governanta tiveram algum tempo atrás e esperava que isso o acalmasse “Eu acho que na época ela desconfiava,  mas o que me tranquiliza é que ela disse que apreciava nossa... é... bom... nossa amizade.”

Nanon deu uma risada fraca e sem jeito e Ohm franziu a testa.

“O que eu quero dizer, Ohm, é que parecia ter algo subentendido na maneira como ela falou isso.”  Nanon completou.

“Suspeitas não são fatos.” Ohm falou atemorizado.

“E você tem medo do quê? Tia Godji pareceu satisfeita com… com isso.. com essa situação que ela suspeita que a gente tem.” Nanon falou e sua voz foi morrendo aos poucos.

Ohm o olhou por um tempo e o beijou de novo e de novo sem dar espaço para que ele pensasse em algo além dos dois.

“Me desculpe!” Ele falou e seus lábios roçaram os de Nanon ao pronunciar cada palavra “Me desculpe! Eu me desesperei. Eu já te disse, eu não me arrependo de absolutamente nada relacionado a você. Eu não me arrependo da gente, do que a gente tem.” Ele sorriu e Nanon o abraçou.

“Vai ficar tudo bem.” Nanon não tinha certeza disso, porém não queria inquietá-lo novamente.

Os dois voltaram a trabalhar e no meio da manhã, quando Tia Godji veio trazer o lanche de Ohm, ele baixou os olhos, envergonhado.

Ela encarou Nanon por um tempo, sem fazer as brincadeiras de costume e ele não conseguiu disfarçar sua apreensão. Ela também não tinha dito uma única palavra para Ohm. Toda essa cena parecia passar em câmera lenta e Nanon estranhou ainda mais o fato de não ter notado nenhuma diferença no tratamento dela com ele no café da manhã. Por que agora tudo parecia tão intrincado?

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