Parte 36: O antes - continuação

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“Perth…” Chimon sussurrou.

“Meu nome é Tanapon!” Ele disse em voz baixa e com uma certa irritação “Só a minha família me chama de Perth. Meu pai diz que minha esposa e meus filhos também vão me chamar assim!”

“Desculpe!” Chimon balbuciou, pois não percebeu que tinha falado em voz alta, e juntou as mãos em frente ao rosto mais uma vez.

“Aqui está, senhora! Muito obrigado pelos seus serviços. Eu prometo fazer o melhor assim como meu pai me ensinou. Meu nome é Tanapon e a senhora pode falar comigo sempre que precisar de algo, conforme meu pai disse.” Ele entregou o pagamento  e a avó agradeceu.

Chimon mordia o canto da unha e o observava conversar com a avó. Ele era tão educado e falava de maneira tão bonita. Ele era real? Chimon puxou com os dentes um pedaço da unha para conter a vontade de tocá-lo e saber se ele era de verdade.

Todas as vezes que ia e vinha com a avó para buscar as roupas para lavar, ele aproveitava a oportunidade para observar o encarregado. Chimon nunca tinha se sentido assim antes e desde que o tinha conhecido, suas noites eram torturantes. O sono demorava para vir, seus sonhos eram confusos e quentes e, geralmente, ele acordava molhado e pegajoso.

Era bem vergonhoso se sentir assim e o pior é que não existia ninguém com quem conversar. Ele observava a reação negativa das pessoas mais velhas quando um homem parecia estar interessado em outro. Chimon nunca contaria para avó e nem para os amigos, afinal, ele nem tinha amigos ali.

Se sua situação era triste e solitária, depois de um tempo, passou a ser mais conturbada, porque os outros garotos da vila começaram a zombar dele, dizendo que ele lavava roupas. Ele gritava que ajudava a avó, não era ele quem lavava, mas seu descontrole só aumentava a perseguição dos garotos maiores.

Em uma tarde, após revidar a uma provocação e ser perseguido por um grupo de meninos, para conseguir fugir, ele pegou uma pedra e atirou com toda sua força em um deles. Quando o sangue começou a escorrer do supercílio do seu perseguidor, Chimon se desesperou e correu o mais rápido que conseguiu e se escondeu no estábulo.

Sua entrada repentina e alvoroçada assustou os cavalos, que ergueram as patas no ar e relincharam. Ele não queria chorar, ele não iria chorar, por mais que o nervosismo tentasse tomar conta dele. Chimon imitou os sons que os mais velhos faziam quando cavalgavam, sons que geralmente diminuíam a agitação dos bichos. Apesar do medo, ele tocou a cabeça e a crina de um deles. A sensação era tão boa, que ele sorriu, mesmo que estivesse apavorado.

“Você leva jeito para lidar com eles!”

O garoto não tinha notado que Tio First estava ali e o observava. Apesar de ter feito um elogio, sua voz assustou o menino, que rodou sobre os pés até ficar de frente para o tio.

“Por que você está chorando?”

Tio First era um homem bom e sempre o tratou com educação e naquele momento, ele realmente parecia preocupado, mas Chimon tinha tanto medo de ser punido por brigar, que seu primeiro impulso foi fugir.

O senhor o segurou e, mesmo sendo bem mais velho, ele ainda tinha bons reflexos e o soco de Chimon passou longe do seu rosto. O homem segurou suas duas mãos com mais força e o encarou. Ele não parecia bravo pelo comportamento do menino, somente consternado. Sem outra alternativa e envergonhado pelas suas ações, ele contou o que vinha acontecendo.

“Eu preciso de um ajudante.” Ele disse e sorriu.

Deste dia em diante, ele continuou carregando baldes e os pacotes de roupa suja para a avó até o rio, mas, enquanto ela lavava, ele corria para junto do Tio First.

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