Parte 21

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“Bom dia!”

Ohm entrou no escritório, fechou a porta, caminhou até Nanon, segurou seu rosto com as duas mãos e o beijou. Um beijo calmo, lento e carinhoso.

A dinâmica dos dois havia mudado um pouco desde a visita ao haras. Ohm o beijava todas as manhãs ao entrar no escritório, sempre da mesma forma, sempre com o mesmo sentimento. Além disso, Ohm não fazia questão de disfarçar quando o olhava trabalhar e, toda vez que levantava da sua cadeira, ele acariciava o ombro de Nanon ou até mesmo beijava o topo da sua cabeça. Eram carinhos que ele não esperava receber e nem sabia como reagir.

O primeiro impulso de Nanon era fazer algum comentário espirituoso a respeito disso, mas continha sua vontade, porque, apesar de não estar habituado a este tipo de atitude, no seu íntimo, ele ansiava por esses momentos. Ele conhecia histórias assim pelos livros e pelo cinema, porém Nanon nunca se imaginou vivendo algo parecido; era incrível e assustador. Ele simplesmente aceitava porque tinha a impressão de que, se pensasse demais, poderia acordar e descobrir que tudo não passava de ilusão.

Enquanto seus dias eram cheios de carinhos e cuidados, suas noites pareciam longas e entediantes. Nanon esperava por ele, em sua casa, noite após noite, contudo Ohm parecia estar levando a sério sua fala sobre não ser sobre foder e chupar.

Levando insuportavelmente a sério!

Nanon estava deitado na cama, seu braço pendia para fora do colchão e ele segurava um pedaço fino de corda, que estava esticada no chão. Ele mal se movia e seu único pensamento era como ele se sentia desprestigiado. Nanon riu ao pensar nessa palavra: já tinha passado um mês desde que ele e Ohm tinham dormido juntos e nada mais tinha acontecido e, neste momento, nem mesmo Victoria Paulette queria se aproximar dele. O olhar de desprezo que a gata lançou quando viu a corda sendo agitada em sua direção deveria ter sido muito parecido com o olhar que Nanon deu ao ser convidado para correr.

Ele queria tanto ficar perto de Ohm fora do escritório que até aceitaria a oferta dessa vez. Ele grunhiu e se virou na cama, cansado só de se imaginar tentando seguir o ritmo do chefe.

“Nanon?” Tia Godji o chamou do lado de fora do ateliê.

Nanon levantou apressado e assustado pela batida na porta naquele horário e, para aumentar seu nervosismo, ela tinha vindo a pedido de Ohm, que o chamava para ir vê-lo.

Por que Ohm não tinha vindo pessoalmente?

Ele não sabia o que pensar a respeito e a voz do medo, que andava quieta e escondida, ganhou forças para gritar dentro dele novamente. Seu medo dizia que Ohm tinha se enjoado ou enganado a respeito do que estavam fazendo e o colocaria para fora, como um grande erro que cometeu na vida.

“Foi um deslize.” Nanon conseguia imaginar essas palavras saindo da boca de Ohm.

Contudo, um fio de esperança surgiu no seu íntimo e Nanon riu, lavou o rosto e bateu com as duas mãos nas bochechas.

“Ele não vai te chamar para dormir com ele, Nanon, não seja louco!” Ele tinha um sorriso amargo, junto com um aperto no peito e uma certa tristeza, que o acompanhou no caminho até a casa.

O melhor modo para evitar a decepção era não criar expectativas.

Assim que entrou, uma mulher de pouco menos de trinta anos estava em pé ao lado de Ohm e os dois conversavam animadamente. Eles pareciam à vontade juntos e ele inclusive tocava de leve o braço dela, que não se afastava nem mesmo corava com essa intimidade.

Marie estava na sala e parecia se divertir com a conversa dos adultos.

Nanon olhou para suas roupas e se sentiu um pouco inapropriado. Mesmo estando fora do seu horário de trabalho, Ohm exalava poder e sofisticação e ela tinha a mesma energia, ambos usavam roupas simples, mas suas posturas os tornavam muito mais elegantes.

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