III Capítulo

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Andreia

= Tudo por Causa de Uma Sopa de Legumes =

Observo com cuidado a sopa de legumes sobre o carrinho de entregas que devo levar para a mesa dezesseis, à espera talvez que um pouco de trabalho me distrairia dos meus problemas. Infelizmente, durante as aulas no Centro mais cedo passei a metade do tempo desanimada e na outra metade pedindo Ao Senhor que o tempo passasse depressa.

E eu que pensava que o meu apartamento seria a minha última casa aqui na Terra; era perfeito: fica no Centro da Cidade, é perto do meu trabalho e lá tenho bons amigos na vizinha.

Sorrio tristemente sem querer dar mais qualidades a algo que acabei de perder. O melhor é ficar atenta no restaurante e na sopa acabada de sair de uma panela a fumegar. Deve estar tão quente que se o homem da mesa dezesseis não tomar cuidado, vai queimar a língua.

Quero avisá-lo o que lhe espera, mas simplesmente entrego o pedido com o melhor sorriso gentil que tenho com a ideia ingénua de que isso vai me livrar de algum problema futuro, mas o homem, cabeludo e com cara de *nenhum amigo pelo modo elevado como os seus olhos e nariz se comportam, simplesmente bufa como um toro enraivecido e solta do mesmo modo um “ que atraso para atender os clientes”. Contudo, não posso reclamar, afinal, hoje o movimento está um pouco maior que nos dias anteriores e por coincidência — ou não — muita gente não veio trabalhar hoje. Phill foi acompanhar a irmã numa consulta importante, Magda foi participar do casamento da irmã gémea e a Elsa foi visitar o tio na Bélgica.

Tudo isso num único dia de trabalho!

— Menina… — Ouço a voz irritada à minha trás e retrocedo. O homem de há pouco parece todo vermelho, mais do que os seus cabelos ruivos; parece estar prestes a explodir.

— Sim, senhor? — Inclino-me um pouco em sua direcção, com educação e prontidão como exige meu serviço. — Existe algum problema?

— Claramente sim, caso contrário, porquê a chamaria? — responde seco fazendo-me respirar fundo. Por um momento, fico até desconcertada com tanta grosseria. — Olhe, sua sopa está fria. Não vou conseguir comer isto, muito menos sem pão a acompanhar. Então, aconselho-a a trocar essa porcaria a menos que queira uma má avaliação no meu canal de crítica gastronômica.

Meus olhos se arregalaram, enquanto, os seus seus lábios se esticam com superioridade.

— Aaah… Já deve saber quem sou. Stephen Braham. Tenho o canal de gastronomia do YouTube mais visitado em território nacional. E não duvide que as pessoas realmente acreditam quando lhes digo que um lugar não vale a pena a visita. — Ele explana os seus méritos todo orgulhoso e eu arqueio uma sombracelha, completamente incrédula.

As pessoas o seguem?

O que as pessoas andam a fazer na Internet?

— Ah, é mesmo? — Ele confirma com um ar juvenil. Não parece ser muito mais velho que eu e com essa roupa de turista e português arrastado, tenho as minhas dúvidas se ele é natural da parte Sul de Abrascão, onde o Português é Língua predominante. — Que estranho, eu nunca ouvi falar do ti… — Quase mordo a língua com a parada brusca que faço nas minhas palavras, com medo medo que os olhos de águia da minha gerente estejam de olho em mim. — Digo, do senhor antes.

— Isso é porque tu deves ser um desses homens das cavernas que não sabem usar a net. Agora, minha sopa, fillet e vinho branco gratuitos. — Sua arrogância faz o meu sangue borbulhar, mas tento não transparecer apesar, deste homem parecer ser uma pessoa muito desagradável. — Do que estás à espera? Se precisares de devida motivação, eu posso falar com o teu gerente. Talvez, ele lhe ensine boas maneiras.

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