Mitigar

VII Capítulo

Andreia

= Pessoas Do Passado =

Olho empolgada para o horário.

Daqui a nada tenho uma sessão fotográfica para realizar. Rebecca não pára de sorrir, assim como eu não consigo parar.

Estou tão feliz que mais um pouco desta felicidade dentro do meu coração e serei capaz de flutuar!

— Eu não te disse que era uma boa ideia? — Rebecca diz rapidamente ao passar por mim com um carrinho de entregas para fora da cozinha.

Eu mal tenho tempo de agradecê-la pela milésima vez por ter-me avisado que a empresa VIDAMINA não procurava bular-me ou algo parecido; na verdade, ela apenas precisava de um fotógrafo qualificado para uma sessão comercial de uma marca de telemóveis. E quem diria que a empresa achou engraçado trabalhar com a garçonete maluca que expulsou a tempo um vigarista de um restaurante. Além disso, quem diria que eles estivessem dispostos a pagar bem para isso.

E melhor que isso, talvez eu consiga bons trabalhos daqui para frente e fique bem mesmo que Bianca me despeça por causa da tag de livrar o mundo das parasitas ou outro qualquer motivo. Digo… Se ela voltar.

Há muitos dias que não tenho notícias da Bianca e mesmo que mande algumas mensagens, inclusive com imensos pedidos de desculpas, ela ou não as responde ou simplesmente diz que está ocupada demais para conversar.

Começo a ficar preocupada com ela, mas, não vale a pena ficar muito tempo introspectiva, não quando tenho muito trabalho a fazer no restaurante, como, entregar o pedido da mesa sete.
Porém, antes mesmo que possa sair da cozinha com pratos de Bife à Milanesa e Strogonoff, posso ver o meu gerente substituto adentrar o lugar com uma expressão pouco amigável no rosto, mas não deixo de sorrir, apesar dele ter ignorado o meu pedido de desculpas pelo desastre da tag.

Fico até envergonhada apenas por lembrar da minha determinação em desculpar-me pelo mal que fiz; estava animada, mas dois dias atrás, Blue Thomas sequer olhou nos meus olhos quando tentei falar com ele ou ao menos se dignou a aceitar. Disse que estava muito ocupado… Os seus papéis por assinar eram mais importantes que eu, então, não havia muito a fazer.

Era óbvio que ele estava apenas a evitar-me, por isso, vou ajudá-lo ao focar as minhas forças no meu trabalho e ignorar a sua amada presença. Isso não é muito difícil de fazer… Quero dizer, se ele sair da frente do meu carrinho.

— Devo perguntar porquê tamanha felicidade? — Blue cruza os braços enquanto fala comigo mais alto do que o necessário e não se importa em impedir a minha passagem. Claro que isso chama a atenção de alguns dos colegas de trabalho, mas ele não parece se importar, afinal, não é ele quem está embaraçado. — Não andaste a aprontar nada, certo?

Reviro os olhos para o intrometido.

Depois de pedir-lhe uma folga na tarde de hoje, Blue não pára de olhar para mim de maneira desconfiada, como se eu fosse fazer alguma coisa de errado.

Era assim que ele olhava para mim quando éramos mais novos e amigos. Mas, apesar de no passado este meu estado indicar futuros problemas, parte-me o coração saber que ele ainda tem essa opinião sobre mim. Que talvez, ele pense que não encontrei em Cristo aquela felicidade que buscava no álcool ou mesmo no George.

Ele acha mesmo que o álcool ou mesmo um noivo fugitivo substituem O Senhor?

Pois bem, se Blue ainda pensar que sou a mesma pessoa de antes, então, ele está enganado e já pode seguir com os seus afazeres e continuar a evitar-me.