XXI Capítulo

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Blue Thomas

= Cuidado Onde Colocas o Pé =

Vários lugares desta cidade têm um terreno acidentado. Devo ter cuidado quando estou no caminho da Mira Sem Volta ou na Ponte da Abundância, mas não conheço um território mais acidentado e baldio que a minha relação com a Andreia.

Insisto não querer saber dela, mas na menor das oportunidades corro em sua direcção. Não, não posso voltar a criar expectativas numa relação falhada ou aproximar-me demais ou vou ceder. Isso é o certo a se fazer, não tenho dúvidas. Então, por quê liguei para ela?

Sabia que a Andreia estaria a chorar, sabia que teria esta vontade imensa de vê-la e limpar as suas lágrimas, mas ainda assim liguei.

— Claro que não está. — Concluo quando não obtenho uma resposta para a minha pergunta. — Eu vi o vídeo.

— Vídeo? Que vídeo? — Sua pergunta sai num tom choroso e sonolento. Ela parece terrivelmente cansada e enquanto observo as ondas do mar, posso perceber que também estou no mesmo estado. Ainda assim, não sei se tenho coragem para abrir outra lata de cerveja quando ainda tenho um novo assunto para resolver.

— O vídeo em que uma mulher ameaça te atacar. Onde estás? — pigarreio ao perceber a urgência contida na minha voz.

— Alguém filmou a cena? — Não respondo, não quando ela começa a chorar alto, o que faz com o que a minha caixa torácica se comprima cada vez mais. — Que vergonha… Que vergonha…

— Andy, onde é que estás? Eu vou até aí. Só tens que dizer-me onde é que estás. — Com a pressão do momento levanto-me sem poder conter-me. Muito menos quando uma resposta não chega, qualquer uma. — Andreia!

— Isto foi um erro. Eu não quis mandar-te uma mensagem, eu quis mandar para a Rebecca…

— Continuas a mentir. — Irrito-me ao pensar se é mesmo uma boa ideia ir ter com ela.

Meu Deus, meu Deus, o que eu faço?

— Eu não estou a mentir. Porque mentiria ou melhor, por quê ligaria para ti depois do nosso último encontro na praia?

— Andreia, não é o momento para falarmos sobre isso. Eu só quero saber onde estás, saber se estás bem e se posso ajudar. — Respiro fundo, completamente desanimado. — Estás na casa do Abuelo?

Tudo o que ela faz é continuar a chorar no outro lado da linha, então, eu desligo a chamada e procuro pelo contacto do velho Gonzales. Quase desisto quando ligo para ele pela quinta vez, mas ao atender, não demora para informar-me que de facto a sua neta está na casa dele.

— Ela está ferida? — pergunto aquilo que mais me aflige no momento. No vídeo é apenas claro que a Andreia colocou-se na frente de duas moças para as proteger do ataque uma mulher aparentemente descontrolada, não o que resultou disso. Depois, têm apenas vídeos da mesma mulher a lutar contra outra e, por fim, das duas a serem levadas pela polícia.

— Não, a minha pequena não está ferida. A única que parece ferida é a Helena, a menina que Andreia trouxe para casa.

Sinto-me dividido ao receber a notícia, mas não deixo de agradecer Ao Senhor por aquela teimosa estar bem.

Abuelo, peço-lhe que não deixe que a Andreia e essa jovem saiam amanhã de casa. Eu vou buscá-las e levá-las ao hospital.

— Ficarei muito agradecido, meu neto. — Antes que responda, o velho Pedro se adianta num tom entristecido. — Tentei falar com a Andy sobre a minha situação, sobre a minha doença, mas não pude. Ela começou a chorar quando falei-lhe sobre perdoar os seus pais. Correu antes que pudesse ouvir a verdade.

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