Andreia
= Mais Algumas Cartas e o Amor Acontece=
Quando penso numa coisa que eu não queria fazer hoje, era aceitar boleia da Bianca e, talvez, noutra altura, eu teria decidido não aceitar, principalmente quando Blue estará na viagem, mas neste momento, prefiro não pensar em coisas que me afastam dele.
O Blue e o irmão Russel ainda parecem pensativos sobre a reunião que acabou de acontecer e tudo que posso fazer para não aumentar seus fardos ou lhes causar tristeza, é ser paciente com a Bianca e com o Abuelo que praticamente fugiu quando lhe disse que queria voltar para casa com ele.
Neste momento, tudo que posso fazer é concentrar-me no lindo dia que está fora do carro pertencente à Bianca, enquanto, o meu coração bate mais rápido que o normal ao perceber que o Blue tem vestido uma camisola de frio que lhe ofereci há muitos anos atrás. Lembro-me de tê-la comprado maior do que o seu tamanho para que durasse mais tempo, mas ela já está muito velha e, que alegria seria poder comprar-lhe outra se não tivesse a certeza de que ele vai recusar o presente; talvez até, ele vai reclamar e pedir que nunca mais cruze o seu caminho.
Ah, isso sim, seria esforço e dinheiro mal gastos.
Contudo, talvez ele aceite se for outra pessoa a entregar-lhe a camisola. Acho que o Abuelo não se vai importar de fazer-me este pequeno favor e se se importar, vou lembrar-lhe que não foi nada simpático ou coisa de avô ele fazer-me vir com Bianca, apesar, de irmos para o mesmo lugar. Mas, talvez Bianca me faça esse favor porque ela também não tinha nada que sugerir que eu e seu querido sobrinho nos sentassemos nos bancos de trás.
É quase como se eles estivessem a tentar juntar-nos, mas ninguém em sã consciência faria algo assim. Afinal, porque o Blue me escolheria com tantas boas opções dentro da Igreja?
— Então, Andy, como está a ser trabalhar no Centro? — o irmão Russel pergunta depois de muito tempo de silêncio e tensão dentro do carro. Fico surpresa pela interacção e antes de responder, não sei exatamente o porquê, direciono o meu olhar para Blue, mas ele apenas revira os olhos com certa dificuldade, afinal, um deles está levemente arroxeado.
Não deixo de rir da situação antes de finalmente responder à questão que me foi posta.
— Está a ser muito bom. Amo trabalhar com as minhas crianças, apesar delas serem muito *energeticas e não as conseguir acompanhar de vez em quando.
— Eu também amo trabalhar com elas. Ainda bem que encontraste algo que gostas de fazer e ainda mais para anunciar O Envagelho, querida irmã.
— É verdade. Todas as minhas lições de desenho têm algo sobre Cristo para contar. E, apesar de ser por meio da fotografia que O Senhor me levou até Ele, não consigo separar o desenho do processo. Amo representar as maravilhas disponíveis na Natureza e ensinar isso é um presente sem igual para mim.
Suspiro profundamente, com leveza.
— Sempre tive uma dúvida, Andreia: de que parte de Abrascão tu és? Ou melhor, és natural de Abrascão?
Sorrio com a pergunta.
O meu sotaque pesado sempre é uma denúncia de que o Português não é a minha primeira língua e, por mais, que seja desconfortável vez ou outra ter que saber que isso é tão evidente, tento sempre responder com paciência quando as pessoas fazem-me essa pergunta.
— Nasci em Pontenau e não sei se é de conhecimento do irmão, mas lá a língua mais falada é o espanhol e o naunau. Que são de facto, as línguas que sei melhor, mas cresci e vivi boa parte da minha vida em Sarimpi e tive que aprender o Português para adaptar-me.
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Mitigar
RomanceAndreia é uma jovem cristã que deseja recomeçar os seus passos depois de receber a conversão. Numa nova cidade, mas com pessoas que muito marcaram as suas lembranças, ela terá que lidar com as consequências dos seus erros passados, enquanto, tenta r...