XXII Capítulo

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Andreia

= Um Conversa Pode Resolver Tudo=

Engulo em seco.

Não pelo medo de estar num Hospital ou pelas constantes imagens de pessoas doentes que passam pelo meu campo, mas sobretudo pela pergunta que o Blue acabou de me fazer.

— Não vais responder? — Blue pergunta sentado do meu lado enquanto esperamos alguma informação de Helena que entrou há pouco tempo no consultório. — Eu apenas perguntei com que frequência lês a Bíblia, Andreia. Se responderes claramente, isso poderá ajudar-me a perceber o porquê das tuas palavras de hoje mais cedo.

Mais cedo…

Blue abraçou-me de livre e espontânea vontade, como antigamente. Ele tomou a iniciativa e isso só pode significar que podemos voltar a ser amigos, que ele me perdoa.

Oh, como isso seria maravilhoso!

— Na verdade, comecei há pouco tempo a ler a Bíblia com intenção. Antes, lia apenas versículos *aliatórios, sem nenhum cuidado. — Baixo a cabeça, envergonhada comigo mesma por não levar à sério a leitura da Palavra que fala dO meu Senhor. — Mas, eu lembro-me, Blue, tu disseste que ser um cristão não é ser um idiota. Honrar ao meu Senhor, não é? É isso que eu quero fazer.

Espero que Blue diga alguma coisa depois disso, mas ele permanece quieto, calmo. Pelo que sei, ele lê há anos a Bíblia. Ele foi educado de uma maneira cristã pelo pai, então, deve saber há muito tempo algo que acabei de entender.

— E que livro estás a ler agora? — Tento captar algum julgamento dentro da sua pergunta, mas ela parece muito sincera, sem um resquício de arrogância sequer.

— Efésios.

Antes que Blue possa exportar seus pensamentos sobre o livro, You Raise Me Up preenche o momento. É o toque de chamada dele desde que éramos adolescentes. Mas, ele não atende, apenas desliga a chamada e volta a olhar para mim com intensidade, preocupação e algo a mais que não sei identificar. Rapidamente, desvio o olhar, um pouco envergonhada, mas eu mesma não sei ou entendo o motivo.

É algo tão simples que não deveria fazer o meu coração bater de modo tão descontrolado ou o Blue soltar uma risada.

— Poderias contar-me um pouco mais sobre como conheceste a Helena?

Essa pergunta logo faz-me ficar desconfortável. Mas não hesito em contar-lhe, pelo menos, a parte mais importante.

— Ela é filha de um senhor que me acolheu depois que saí da casa do Abuelo. Ele era um bom homem e antes de falecer, ele se converteu. Pelo menos, tenho fé nisso. — Suspiro, enquanto, reparo que um paciente, em aparente estado de urgência, é levado numa maca. Isso faz-me lembrar de quando Blue foi esfaqueado; ele nunca mais voltou a comentar sobre como as coisas ficaram. Se ele prendeu a mulher que o fizera ou a deixou escapar; quem me dera saber de quem se trata para eu mesma denunciar. — Mas, antes disso, ele pediu-me que cuidasse das suas duas filhas. Que garantisse que elas não se desviariam de um bom futuro.

Respiro profundamente, ao sentir os meus olhos formigarem e, do mesmo modo, o peso das minhas próprias palavras.

Eu não vou chorar…

Eu não vou chorar...

Eu não vou chorar.

— Então, eu fiz tudo que podia: incentivei Helena e Alice, a mais nova, a continuarem a estudar. De vez em quando, muito sorrateiramente, sem que a mãe delas soubesse, levei-as à comer alguma coisa, à Igreja, ao cinema, em todos os lugares que pude. Também orei com elas, mas creio que dentro disso tudo faltou ler a Bíblia. Não li muito a Bíblia com elas. Na verdade, não me lembro de uma única vez ter lido com elas.

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