XIX Capítulo

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Blue

= E no Momento Certo Verei =

Enquanto os olhos cheios de anseio dirigem-me um olhar, percebo que esta é a primeira vez que nos vemos no espaço de quase uma semana; foi quase uma semana sem uma dor de cabeça originada de cartas mal escritas ou de sua voz puéril. Foi quase uma semana de paz sem a Andreia para agora descobrir onde ela está e o quanto parece feliz ao não saber nada sobre mim.

— Blue?

Andreia se aproxima e eu afasto-me.

— O que fazes aqui? Estás melhor agora, não é?

Ela se aproxima de novo e eu afasto-me mais uma vez.

— Podes parar quieto? Eu só quero saber como estás! — Ela diz ao segurar o meu braço esquerdo. — O meu chefe vai ficar preocupado se eu demorar.

Ah...

Afinal, noventa cartas não significam nada.

— Então, por quê não voltas para ele agora e páras de fingir que te importas comigo? — Sugiro, apenas para ver os olhos se arregalarem e ela deixar instantaneamente o meu braço. — Tantas mensagens, Andreia, mas tudo porque a Bianca te pediu. Mas, não precisavas ter feito isso, muito menos vir falar comigo agora. Não poderias simplesmente ter me ignorado?

— De onde vem essa conversa? — Andreia engole em seco. — Por quê parece que estou a ser cobrada de alguma coisa quando és tu quem diz que devemos agir como estranhos?

Suspiro fundo sem conseguir arranjar uma resposta decente enquanto Andreia demonstra estar furiosa comigo.

— Esquece, isso é tudo uma grande perda de tempo, então, finge que não me viste.

Começo a caminhar no lado oposto do dela, pronto para voltar para casa, mas Andreia coloca-se à minha frente às pressas. Ela está inegavelmente chateada, mas eu também estou, afinal, é sempre o mesmo. Andreia sempre me troca com qualquer homem que aparece na sua frente. Recusou-se ver-me por uma semana, mas está aqui na praia quase depois das vinte e três com alguém que ela julga ser mais importante na sua vida.

E, talvez, para ela, até seja.

— Fui visitar-te três vezes, Blue, mas enquanto estava lá ou fingias que eu não estava ou zombavas dos meus esforços. Tudo que faço desde que cheguei nesta Cidade é desculpar-me contigo, mas continuas tão ressentido, que não me deste nenhuma hipótese. Eu já entendi, está bem, eu não mereço perdão, mas pára de ser tão *coerente! — Ela grita a última parte num tom choroso. Isso faz-me recuar um passo literal, mas não nos meus pensamentos. — Por quê és tão idiota?

Respiro fundo, controlando-me para não gritar de volta.

— E quando eu te disse que não és merecedora de perdão?

— As tuas atitudes disseram mais que isso esse tempo todo e nem venhas negar! — Andreia cruza os braços, mas logo começa a limpar as lágrimas dos seus olhos. Esta é a segunda mulher que faço chorar hoje e nem sequer tenho um lenço para entregar, mas ainda bem. Estou farto de ajudar a Andreia a resolver os seus problemas enquanto ela me trata como nada. — Como disse és o grande de um *coerente!

— Incoerente! Querias ter dito “ incoerente”. Por quê nunca ouves o que eu te digo? — grito de volta enquanto Andreia encolhe os ombros.

— Porque és um hipócrita, Blue Thomas. Só falas comigo quando te convém e depois descartas-me como se eu não fosse nada, como se eu não tivesse sentimentos. Por acaso, tens noção do quanto isso dói?

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