Mitigar

XII Capítulo

Blue

= Uma Surpresa No Momento Errado =

Reviro os olhos em meio à uma gargalhada quando percebo que Russel, meu melhor amigo, não veio apenas informar-me sobre Amy Reynolds, mas também almoçar e ficar aqui por um tempo.

— O que vai ser? — pergunto ao dár-lhe espaço para entrar no meu apartamento. Faz meses desde a última vez que o vi pessoalmente, mas ele parece exatamente igual, tanto que sequer aparenta ter aparado a barba preta ou a sua pele alva parece ter sofrido algum dano. 

— Massa. — Ele bate levemente no meu ombro como sinal de cumprimento, com o seu sorriso habitual gerado de uma boa disposição que eu admiro. Com certeza, tê-lo na minha vida é uma prova que O Senhor ouve as nossas orações.

Como filho único, eu sempre quis ter um irmão, sobretudo, depois que decidi seguir Cristo de todo o meu coração. Queria um companheiro de caminhada e orava fervorosamente por uma irmandade como de Jonatas e David, mas, confesso, que não esperava encontrar um melhor que o dos meus pensamentos ou de encontrá-lo na situação em que encontrei.

— Só comes massa… Tens a certeza que estás preparado para o trabalho missionário? — reclamo, mas sorrio ao dirigir-me à cozinha. — Então, alguma novidade?

Espero uma resposta rápida, mas Russel ainda se coloca à vontade na minha casa ao deixar a sua mala na sala-de-estar. Desde que nos conhecemos aqui em Cem Dentes há quatro anos, Russel tem sido meu companheiro de peregrinação. Dentro e fora da Igreja temos construído uma amizade, algo que seria difícil ou mesmo impossível em perspectivas humanas, uma vez, que sua família também foi prejudicada pelas façanhas da minha mãe. Inclusive, foi esse mesmo acontecimento e a sua vontade de procurar pelo traste que nos desapareceu das mãos que nos leva agora nesta jornada.

— Vou para Angola no próximo mês para uma missão. — Seu tom descansado faz-me suspirar de descontentamento, enquanto, os meu pé esquerdo bate continuamente no piso. — Finalmente, vou conhecer a província Benguela. Lembras-te de que te disse uma vez que...

— Falava da investigação, Russ. — Corto o seu relato prontamente.

— Ah, sobre isso. — Ele sorri ao tirar o seu velho chapéu panamá da cabeça. — Estou sem novidades, a única coisa que queria acrescentar é que deves estar preparado para conhecer a Amy. Ela pareceu-me ser uma pessoa levemente explosiva.

— Anotado.

Escolho os melhores tomates para fazer o molho, enquanto, lembro-me do que deixei em cima da mesa de vidro no meio da sala-de-estar. Rapidamente, fico alarmado e tenciono segurar na caixa azulada antes que Russ perceba, mas chego tarde demais. Ele já está com o objeto nas mãos e um semblante apreensivo na cara.

— Não me digas que são cartas da Violetta. — Quase posso tocar com as mãos o desgosto na sua voz.

— Vienna. — corrugo-o, já de ombros caídos e voltando à cozinha ciente de um interrogatório vai começar. — E, não. São de alguém muito pior.

— Pior do que a Violetta? Ela passou dos limites, mas isso para mim não é nenhuma surpresa, eu já tinha te dito que as intenções dela não eram de simples amizade e que deverias ter cuidado.

— Vienna. — digo contragosto. — Agora, não adianta dizer essas coisas, Russ. Felizmente, nada aconteceu entre nós e ela até mandou uma mensagem com um pedido de desculpas que eu decidi aceitar. E, certamente vou orar por ela, pela nossa amizade.

— Está certo, mas seja lá o que fores fazer daqui para frente, não deves, em hipótese alguma, colocar a ti mesmo numa situação de tentação. — Russel coloca-se do meu lado e antes de começar a procurar por um pacote de massa nas prateleiras, ele lava as suas mãos. — Eu sei que gostas muito da Vio… dela, mas se não colocares limites podes acabar por complicar a vida para os dois, principalmente, quando te mostras relutante a não amar alguém que não seja a mulher do teu passado.