XXIV Capítulo

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Blue

= Provas de Uma Terrível Culpa =

Andy, vem comigo. Vou levar-te para casa agora. — Uma versão mais jovem de mim segura o braço esquerdo da moça de cabelo pintado com cores fortes. Ela está totalmente embriagada enquanto dança ao som de uma música ensurdecedora do bar mais horrendo da minha antiga cidade.

— Vai embora, babá. Ninguém te chamou aqui — Andreia responde enquanto desfaz-se por completo do meu toque.

Ainda que eu tente não ficar magoado com as suas palavras, já é tarde demais, mas não deixo de seguir-lhe até que ela se coloque nos braços de um sujeito qualquer. Cerro os punhos e decido ir finalmente embora depois de uma corrida de duas horas atrás dela.

Foi a primeira vez que não segui a Andreia até ao fim. Que não implorei que ela voltasse comigo e, consequentemente, foi quando ela teve sérios problemas pela primeira vez com essa escolha inconsequente.

Sempre lembrei desse momento com muita amargura, odiando Andreia por sempre escolher coisas que nos afastavam, por não me amar quando eu a amava tanto, mas hoje, enquanto acordo na sala-de-estar do Abuelo, com as terríveis dores de cabeça e, pior, com as lembranças de como discuti com Bianca, Russel e a Andreia, percebo que estava enganado. Toda aquela minha pretensão inicial de que nunca cometeria os mesmos erros ou diria coisas tão terríveis quanto Andreia fez e disse foi jogada por terra e pergunto-me se ainda há perdão para mim depois de tudo, afinal, pelo tempo que fiquei sem o fazer: sem pedir perdão pelos meus pecados, sem orar, parece que já não sei como o fazer.

Estava enganado, Senhor…

Estava enganado.

— Bom dia, neto. — Prendo a respiração ao perceber que não estava só com os meus pensamentos, mas a vergonha logo atinge-me ao perceber o olhar decepcionado do senhor Gonzáles.

— Abuelo… E-eu…

— Não esperava isso de ti, meu neto, devo admitir. — O homem de idade senta-se do meu lado.

— E quão terrível decepção devo ter-lhe causado, mas eu precisava espairecer. O que mais poderia fazer? Parece que todo peso do Mundo está sobre as minhas costas. Todo mundo quer que eu faça sempre alguma coisa, que eu tome conta de tudo, mas eu não sou capaz... Eu não sou capaz de fazer tudo. — Trato de virar a face para que este homem não veja as minhas lágrimas, sobretudo, as de amargor.

Oh, como O Senhor Jesus tinha razão: Pedro ainda o negaria e é muito melhor tirar a trave no meu olho primeiro antes de chamar atenção à alguém.

— Claro que não és capaz, meu neto! Então, porquê guardas tudo isso dentro de ti? Sempre ouves os meus problemas e de toda a gente, mas nunca compartilhas os teus. Gostaria muito de saber se os contas à alguém, se os compartilhas com O Senhor ao menos.

Respiro profundamente angustiado. Talvez esteja com medo que Andreia atravesse a sala-de-estar e veja-me neste estado. Helena ver-me assim também seria deplorável. Mas, estou a colapsar e a pose inicial de instraponível, foi completamente aniquilada; essa pose já não existe mais.

— O Senhor já sabe de tudo o que vivo, Abuelo. Ele sabe o quanto a minha alma se debate com tanto sofrimento. Estou a pagar por erros que não são meus e não tenho outro refúgio a não ser o álcool. E, com o álcool, posso ao menos fingir que está tudo bem.

— Meu neto, não te faças escravo da bebida ou de qualquer outro que não seja Cristo — O velho Gonzales diz antes de pedir que una a minha mão à dele, para que oremos juntos.

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