IV Capítulo

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Andreia

= Seja Forte e Corajoso =

É incrível o quanto um olhar pode dizer muito mais que uma frase. O modo como a pessoa respira… A sua inquietude com as mãos ou a calmaria que vem antes de uma grande tempestade.

Deus nos fez de uma forma tão especial que ainda sem palavras conseguimos transmitir as nossas expectativas, pretensões, medos e vontades.

Então, pelo pouco que Blue demonstra, através do seu olhar, consigo perceber o quanto ele está ressentido comigo; ele nunca vai me perdoar, mas eu já sabia disso esta manhã e antes de sair do restaurante também, então, porquê preciso ser lembrada disso agora?

— O que fazes aqui? — pergunto com toda a indelicadeza do meu coração ao futuro herdeiro dos Thomas.

Como resposta, Blue suspira profundamente antes de revirar os olhos. Ele nem se dá ao trabalho de responder, apenas adentra a casa do meu avô sem que lhe deia permissão, afinal, eu estava entre ele e a porta.

— Podes ao menos respeitar-me dentro da casa do meu avô? Eu não te deixei entrar! — digo ao me lembrar de hoje mais cedo, quando depois do horário de trabalho e em frente aos meus colegas, Blue começou a gritar comigo como “ responsável” substituto da Bianca. Disse que eu sou uma respondona mal-educada, e que eu deveria tratar melhor os clientes se não quisesse ir para o olho da rua.

E para completar, sei que ele não veio pedir desculpas. Blue Thomas nunca voltaria a pedir-me desculpas, nem mesmo estando errado; provavelmente, o que ele veio fazer foi terminar a sua repreensão de mais cedo. Apenas não sei quem lhe disse que ele poderia fazer isso por baixo do meu próprio tecto... Quero dizer, do tecto do meu avô!

— Nunca antes precisei de autorização para entrar nesta casa e nada do que digas vai mudar isso. — Ele empurra algumas caixas com os pé e senta-se ao lado do meu avô que parece ter perdido o dom da fala por tanto desconforto visível no seu rosto enrugado. — Vim tem uma conversa séria contigo, então, vou pedir-te que te acalmes.

— Queres dizer uma conversa mais séria do que aquela em que tu gritas comigo em frente de todo mundo no trabalho? — acuso, mais magoada do que pensei que estava com o ocorrido. — Vou dispensar, então, já podes ir embora.

Muito expressivamente da minha decisão de dispensar uma conversa com este idiota, faço-lhe o favor de escancarar a porta para que ele se retire, mas isso não resulta, apenas tenho a atenção do meu avô que pede que me acalme; logo, em seguida, o mais velho retira-se para o próprio quarto, mas eu sei que ele vai ouvir tudo, não apenas por causa das paredes finas desta casa, mas porque nada nunca lhe escapa.

Cruzo os braços.

Seria muito mais fácil discutir em espanhol que é a minha língua materna, mas tudo que tenho é o meu fraco português para isso, então, ele terá que servir.

— E o que querias que eu fizesse, senhorita Maxime? Que batesse palmas e te desse uma medalha depois da estupidez que fizeste mais cedo?

— Tu não me chames assim! — Finalmente, grito perdendo a paciência. Estou tão alterada que receio começar a chorar, mas não me dou por vencida. Não vou chorar na frente dele.

Nunca mais!

— É o teu sobrenome, quer queiras, quer não. Podes trocar o teu sobrenome quantas vezes quiseres ou fugir do teu passado, mas não vai adiantar. Ainda és uma Maxime. — Ele engole em seco. Parece também muito alterado.

— Vai-te embora, Blue! Sabes perfeitamente que a última pessoa com quero discutir na Terra sobre o meu sobrenome, és tu. Não preciso dos teus conselhos, não preciso de ti aqui. Já agiste como o chefe mandão no restaurante, já fizeste o teu trabalho muito bem.

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