XX Capítulo

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Andreia

= Veste a Armadura,Vais Precisar =


Pressiono o meu pobre telemóvel velho com as mãos, enquanto, tento memorizar os versículos 10 à 17 de Efésios 6. Devo vestir a armadura da fé, dizem os versículos, mas quando? E como saberei que o tenho vestido?

— Andy, as fotos que te pedi? — Quando o chefe Karl aproxima-se de mim com uma expressão nada boa, fico confusa. Mas, ele não parece chateado comigo.

— Acabei de mandar, chefe.

A informação parece animá-lo, mas não o suficiente. E, apesar de pensar em perguntar sobre, fico mais atenta ao vê-lo colocar um anel dourado no dedo anelar esquerdo: o mesmo que vi no seu dedo desde que o conheci.

— Não te preocupes, Andy, este anel serve apenas para afastar mulheres por quem não estou interessado.

Fico confusa com a explicação e quando *internalizo as minhas dúvidas ao meu chefe, ele ri antes de afastar-se e dizer que sou " muito engraçada". De que modo? Eu não sei; tudo que sei é que estou realmente empenhada em começar a leitura Bíblica e levar essa tarefa seriamente, mas não compreendo a maioria das coisas que leio, por isso, sigo por memorizar versículos que parecem saltar das páginas como a de Efésios 6.

— Haja dissimulação! — Ouço a senhora Yolanda, da equipa artística comentar para duas das suas colaboradoras. — Essas táticas de boa moça não funcionam mais nos tempos modernos. Ela deve estar a pensar que o Karl acredita nela.

A senhora Yolanda sorri largamente quando percebe que estou atenta à conversa, mas nada me incomoda mais do que sentir o meu braço ser envolvido por uma colega que pouco fala comigo.

— Não vais dizer nada? — Alicia, parte integrante da área artística, pergunta-me enquanto suavemente recupero o meu braço. Ela está com um sorriso malicioso; o mesmo que tem quando deseja falar sobre a vida das outras pessoas.

— Sobre o que? — pergunto, sem tirar os olhos do aplicativo da Bíblia, ainda que os meus pensamentos estejam longe dele e o meu estômago embrulhado.

— Ah, não te faças de tonta, miúda! — A mulher, provavelmente, dez anos mais velha que eu, cabelos curtos e olhos angulosos, responde com zombaria. Respiro profundamente aborrecida, mas não digo imediatamente nada. — Sei que ouviste perfeitamente o que aquela redonda da Yolanda acabou de dizer. Então, como a boa alma que sou, estou aqui para me oferecer para te ajudar. Posso, sem sobra de dúvidas, colocar Yolanda no seu lugar.

O meu coração bate fortemente com essas palavras, assustado. Prefiro antes passar por essa situação do que pedir ajuda em alguém como Alicia. Afinal, ela está sempre envolvida em alguma intriga. E, com certeza, parece ser exatamente com um tipo que costumava ser antes da minha conversão, alguém que não desejo nunca mais ser.

É agora que devo vestir a armadura ou ainda é cedo demais?

— Não é necessário, senhora Alicia.

— Sonsa. — Alicia diz antes de se levantar.

— Não sou a única. — respondo baixo, logo arrependida por proferir essas palavras, mas feliz por não terem sido ouvido. Isso poderia causar uma grande confusão; tudo que menos preciso hoje.

[…]

Quando volto, finalmente, para casa, páro a minha caminhada até o quarto e atiro-me no sofá onde o abuelo está sentado. Sem qualquer cerimónia, abraço-o.

— A minha menina está exausta… — Ele diz com um sorriso e beija o topo da minha cabeça. — Ainda bem que preparei o jantar.

— Muito obrigada, Abuelo. Preciso mesmo de comer e descansar. — Coloco a minha mão sobre a minha barriga, infeliz por ter recusado comer com Choi e os Vita logo depois do trabalho, mas precisava desesperadamente da minha cama com cheiro de lavanda.

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