o começo do meu sonho

9.5K 505 17
                                    

(Maria Carolina's view)

  Minha vida nunca foi fácil. Cresci no meio do casamento conturbado dos meus pais e aprendi desde cedo a carregar o peso e a dor dos traumas que me causaram; talvez seja por isso que sempre fui tão decidida e certa do que queria, e assim, ainda no ensino médio, descobri uma paixão: o direito. Especificamente, a promotoria.

Promover justiça e defender os interesses da sociedade se tornou o meu único e certeiro objetivo de vida — e assim foi. No terceiro ano, minha aprovação: direito UERJ. Logo depois da conclusão, minha OAB. E aos 25 anos me tornei oficialmente promotora de justiça do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

Apesar de recém-formada, não mostrava medo nem vulnerabilidade no trabalho. Minha personalidade forte impressionava os colegas, que me julgavam até mais velha. E assim se deu o início da minha vida dos sonhos: um emprego bom e estável, meu apartamento na Barra da Tijuca, meu tão sonhado carro. Tudo estava no seu devido lugar, até surgir um caso de violação aos direitos humanos no Ministério Público.

Era uma denúncia incomum. Uma denúncia à tropa de elite da Polícia Militar: o BOPE.
O BOPE sobe as favelas do Rio quando a polícia convencional não dá jeito. Mas sua maneira de lidar com as situações era bem diferente: a faca na caveira no símbolo deles deixava isso bem claro; e a queixa era justamente essa: a violenta forma de trabalho deles.

Eu sou recém-formada. Não sei muito bem como proceder com esse tipo de coisa, mas fui orientada a visitar a sede deles e comunicar sobre a denúncia, buscando uma possível... solução?
Trabalho difícil pela frente, mas, por mais que eu esteja nervosa e confusa, me mostrar vulnerável não é uma opção.

-Bom dia! Preciso conversar com algum responsável daqui. — Digo, entrando na tal sede, que fica em Laranjeiras. O prédio era antigo, não tão bem conservado.

-Quem é você? Denúncias são feitas em outra delegacia. — Disse o homem da recepção, que claramente não queria estar trabalhando.

  Respirei fundo pra não dar uma má resposta; não estava nem um pouco afim de perder a paciência logo cedo. Fechei os olhos, e os abri, em seguida, respondendo:

-Sou Promotora de Justiça. Doutora Maria Carolina Venturini. — Falo, enquanto mostro minha carteirinha. -Recebi uma denúncia e ficaria muito grata se o senhor me informasse onde está o responsável da unidade.

Ele revirou os olhos e me deu as coordenadas da sala do tal capitão: Roberto Nascimento. Seu nome era famoso na mídia, mas eu nunca tinha parado pra ver seu rosto. Os corredores eram longos e policiais passavam de um lado pro outro, me olhando e me estranhando. Tento ignorar, pra não perder a paciência.

-Entra. — Ele disse, quando eu bati na porta.

Justiça e Amor  | Capitão Nascimento Onde histórias criam vida. Descubra agora