dois extremos

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(Maria Carolina's view)

  Quando entro na sala, o coroa alto com o cabelo começando a ficar grisalho me encarou. Ele era sério, parecia não gostar de brincadeiras. Seu olhar transmitia autoridade e força; na sua farda, o sobrenome "Nascimento" e seu tipo sanguíneo.

-Roberto Nascimento? — Pergunto, estendendo a mão para cumprimentá-lo.

-Pois não? Visitas não são permitidas aqui.

  Eu estava certa: o capitão não estava pra brincadeira. Me apresentei e percebi o seu choque quando disse que sou promotora; ninguém acredita.

-Violação dos direitos humanos é o que aqueles vagabundos fazem dentro da favela, porra!   Ganham rios de dinheiro traficando droga, acabando com a vida de muita gente. Meu trabalho não é palhaçada, e no meu batalhão ninguém mexe! Você vai arquivar essa merda desse processo, ou vai ter um problema sério comigo. Você entendeu?

  Eu já devia estar preparada pra esse tipo de resposta. O cara é capitão do BOPE, e, definitivamente, não ligava pra direitos humanos. Terei um longo problema pela frente.

-Eu não tenho nada a ver com o seu batalhão, Nascimento. Só estou fazendo meu trabalho, e vou até onde ele me pedir. Vou levar o caso pra frente, e é melhor não me ameaçar. Tenha um bom dia.

Saí sem me despedir.

  Esse caso vai me dar uma baita dor de cabeça. Levar a denúncia pra frente poderia causar muito mais do que o fim do BOPE ou a melhoria dele, afinal, não é com qualquer pessoa que eu vou lidar; são pessoas que não ligam se for preciso puxar o gatilho e levar alguém pra vala pra conseguir o que querem. São violentos, sem coração, sem piedade. No BOPE, não existe segunda chance.

  Voltei pro Ministério Público e segui com as outras demandas do dia. Tive que tomar umas três xícaras de café pra conseguir terminar a pilha de processos que eu tinha que revisar. Pedi ajuda à Joana, minha secretária, mas mesmo assim aquela papelada parecia não ter fim.

   Joana é minha amiga de faculdade. Nos conhecemos ainda no primeiro período, e quando terminamos o curso, ela queria direito criminal, assim como eu. Quando passei no concurso, trouxe ela comigo pra ser minha secretária, mas acima de tudo, uma grande amiga. Somos como irmãs: no tempo livre, vivemos uma na casa de outra, bebemos, saímos e compartilhamos histórias. É uma pena que não tenhamos mais tanto tempo pra isso como antes.

-Você viu o capitão na delegacia hoje, doutora? — Ela disse em tom de deboche.

-Vi, e ele é um babaca. Mal consegui explicar a situação pra ele! Começou um sermão dizendo que no batalhão dele ninguém mexe, que o trabalho dele não é palhaçada, e sei lá mais o quê. Antes que eu me estressasse, vim embora e não resolvi nada do que precisava.

-Ele é um gato, Maria! Se ele falasse assim comigo, eu ia sair de lá apaixonada. Você não sabe aproveitar as chances que a vida te dá, né?

-Vai se tratar, Joana! O cara deve ser uns vinte anos mais velho que eu, e deve ser até casado. Assuntos de trabalho, somente. Eu nem achei ele tão bonito assim!

  Eu achei ele bonito sim, mas ela não precisava saber disso. Mas ele realmente deve ser bem mais velho e se bobear, tem até mulher. Fora que seria praticamente impossível rolar alguma coisa entre uma promotora de justiça e o capitão do BOPE: são dois opostos. E eu tenho MUITO mais o que fazer do que ficar dando moral pra esse capitão.
                   
  Quando eu finalmente chego em casa, agradeço aos céus por finalmente ter chegado o fim do dia. Abro um vinho e peço comida japonesa enquanto termino umas poucas demandas no computador, afinal, estava morta e só queria descansar. A paz só reina, infelizmente, até meu celular apitar: Nascimento. Como ele conseguiu meu número? Puta que pariu!

   Saquei o joguinho na mesma hora: despertei interesse nele e olha que nem precisei fazer nada

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  Saquei o joguinho na mesma hora: despertei interesse nele e olha que nem precisei fazer nada. Bem que Joana disse, mas, eu não estava interessada e nem ia me entregar tão fácil assim. Seria no máximo, um entretenimento.

  Uns dez minutos depois do fim da conversa, escutei a campainha tocar. Eu não estava esperando ninguém, e não sou de receber visitas. Além disso, pra alguém subir, precisa passar na portaria antes, e pedir autorização, o que não foi o caso. "Deve ser algum vizinho", eu pensei.
Mas, pra minha surpresa, não era ninguém pedindo um pouco de açúcar ou algo do tipo: Nascimento estava na porta do meu apartamento.

-Quem te deixou subir? Você não pode entrar aqui assim.

  Ele entrou sem cerimônia, como se já conhecesse a casa, e apoiou as mãos na minha mesa de jantar.

-Acho que você esqueceu que eu sou policial. Quero que você arquive esse caso, Maria. É esse seu nome, não é?

  Já havia sacado tudo: ele não veio atrás da denúncia.

-Ou o quê, capitão? Vai mandar me prender? Ou tentar me matar? — Eu disse também apoiando minhas mãos do outro lado da mesa, jogando seu jogo. Longa diversão pela frente.

-Pirralha do caralho! —Ele gritou, enquanto bateu na mesa e veio em minha direção, passando uma de suas mãos no meu pescoço e me pressionando contra a mesa de jantar. Senti meu corpo arrepiar e uma sensação estranha nas pernas. CARALHO!

-Você tá me deixando louco desde cedo, doutora. O que você tem? — Ele pergunta, chegando cada vez mais perto do meu ouvido.

-Vai ter que descobrir, capitão. Você não veio pela denúncia. Veio por mim. Veio porque te deixei doido quando entrei na sua sala hoje, não foi? — Respondo, também no seu ouvido enquanto sinto seu membro duro que ele pressionava cada vez mais contra mim.

-Desgraçada.

  Ele contorna meu corpo com seus braços e me puxa mais pra perto, até encontrar meus lábios. O beijo era feroz e violento, mas uma delícia: o suficiente pra me deixar molhada. Agarrou meu cabelo em um rabo de cavalo e puxou pra trás, beijando meu pescoço e me fazendo soltar suspiros cada vez mais altos. Eu sorria maliciosamente, olhando fixamente eu seus olhos. Eu entendi seu jogo, e apesar de querer continuar, não gosto de sair por baixo. Quando ele chegou em meus seios, o empurrei levemente, fazendo ele se afastar de mim.

-Pensou que eu ia te dar tão fácil assim, capitão? — Eu disse enquanto me aproximava de sua boca. -Não sabe com quem está se metendo.

-Você não passa de uma pirralha. É melhor que faça o que eu mandei.

Ele saiu e bateu a porta, sem despedida e sem se explicar. Meu coração ainda estava acelerado e minhas pernas tremiam; tento realizar o que acabou de acontecer, mas demoro um tempo. Terei um longo trabalho pela frente.

Justiça e Amor  | Capitão Nascimento Onde histórias criam vida. Descubra agora