bomba-relógio

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(Maria Carolina's view)

Não dava mais pra negar: eu estava totalmente nas mãos do capitão. Totalmente rendida. Que droga! Minha marra ia toda embora no momento que nossos olhos se cruzavam: e depois disso, nada mais importava. Beto tinha algo diferente, que eu ainda não descobri exatamente o que é, mas que não me deixava ficar longe dele por muito tempo.

Três dias que ele não dá sinal. Eu já tinha me acostumado com esse vai e vem, mas o capitão me fazia desejá-lo cada vez mais, incansavelmente. Sentir saudade. Desejo. Parecia loucura. As cenas dos nossos momentos ecoavam o dia inteiro na minha cabeça, me deixando louca. E eu odiava ter que admitir isso.

Ele disse que não tinha mais idade pros meus joguinhos: que aquilo era conversa de moleca. Talvez fosse verdade. Posso até ter pego pesado, mas, ainda assim, era uma loucura... pensei que ainda fosse demorar muito pra eu começar a gostar de alguém, ainda mais, sendo o capitão do BOPE. Reconhecer isso ainda é difícil, tá?

Sonhei com ele hoje. Numa operação, trocando tiro com traficante, e ele era baleado. Acordei com uma sensação horrível, como se fosse verdade. E como se tivesse acontecido com alguém muito próximo, sabe? Odeio quando isso acontece, porque na maioria das vezes, acontece na vida real também. Meus sonhos sempre são avisos.

Fiquei um tempo pensando se mandava mensagem ou não. Eu já tinha me rendido duas vezes, e não queria me render de novo. Deixei de lado e fui trabalhar. Só um julgamento hoje. Que milagre!

Joana estava inquieta. Entrei na sua sala pra pegar uma papelada, e reparei seu olhar pesado e suas pernas que balançavam incansavelmente. O cabelo longo e loiro estava preso num coque feito sem elástico. Sem maquiagem, parecia não ter dormido essa noite.

-Maria, tem um minuto?

-Claro. O que aconteceu?

Ela respirou fundo antes de falar, passando as mãos no rosto.

-A denúncia do BOPE andou. Provavelmente eles já receberam a intimação. Maria, você sabe... não é gente que se brinque. Fico preocupada com você. O capitão sabe que você fez isso?

-Agora já deve saber. É literalmente o meu trabalho, Joana... não tem muito o que fazer. Quando conversamos, ele disse que se eu continuasse com o caso, ia derrubar minha carreira aqui dentro. Mas a gente ficou, foi bom, enfim. Não acho que ele vá fazer algo pra me prejudicar.

-Você ficou louca, Maria? O cara te disse com todas as letras que vai acabar com você. E você está... tranquila?! Você sempre foi tão esperta, amiga... não se deixe levar só porque tá dando pra ele.

-Ele não vai fazer nada. Relaxa. Tá tudo sob controle. E... e foi você que começou com esse papo de capitão! Se você não tivesse falado dele, isso nem estaria acontecendo! — Falei, tentando tirar a culpa de mim.

Por mais que eu tivesse respondido de forma confiante que nada ia acontecer, eu estava preocupada com isso também. Mas não com Beto. Meu medo era, sei lá, o coronel? O governador? Nem eu sabia direito.

O caso da audiência hoje foi muito delicado: feminicídio. Era o artigo que mais mexia comigo, desde a faculdade. O que passa na televisão não é nem um porcento do que realmente acontece, todos os dias. Toda vez que eu pego um caso desses eu fico um bom tempo abalada: viro noites buscando argumentos (por mais que eu ache que uma coisa dessas NEM PRECISA de argumento), meu estômago revira. Não consigo comer. Me dá medo.

Fim do dia de trabalho. O cara foi preso! Agora sim eu estava em paz. Na verdade, só por um tempo: nem dez minutos. Saindo do fórum, avistei uma viatura preta no final da rua: Beto. Ele parou, provavelmente de propósito, bem na frente do meu carro.

-Resolveu aparecer, capitão? — Perguntei, apoiando os braços na janela aberta do carro. Ele estava fardado, e eu amava vê-lo assim.

Justiça e Amor  | Capitão Nascimento Onde histórias criam vida. Descubra agora