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(capitão nascimento)

   As três malas que ocupam a mala do meu carro são TODAS de Maria Carolina. Inacreditável. Não me conformo com essa necessidade que ela vê em levar tanta merda, mas, se eu reclamar, ainda é capaz de eu levar um fora. A caminho do aeroporto, continuo preocupado, mas ao mesmo tempo, feliz de estar indo ver minha família depois de uns bons anos. Como o batalhão ficaria sem mim? E se alguma coisa grave acontecesse e eu não estivesse lá pra resolver? Minha cabeça estava à mil.

   Chegamos no aeroporto e, por um milagre, as duas malas que a doutora despacha não excedem o peso; uma delas fica, pra ir com ela no avião, além da bolsa enorme que ela carregava. Depois de todos os processos, revista, Policia Federal e algumas voltas pelas lojas do lounge do aeroporto, o que nos restava era esperar, já que ainda eram 23h. Longo caminho pela frente. Maria sugere que fôssemos pra sala vip que ela tinha direito por causa da OAB, e eu concordo.

-Quero beber.

-Eu tô cansado, criança. Você não consegue ficar quieta? Já me fez rodar um monte de lojas, não é possível que não esteja cansada também.

-Você só reclama! Puta que pariu!

   Eu não tenho mais nenhum tipo de escolha desde que começamos a viver juntos. Sentamos numa mesa afastada, de frente pro enorme paredão de vidro que dava vista pra pista de voo do Galeão. Um tempo depois, Maria volta com uma garrafa de vinho e duas taças; não consigo negar, apesar de umas horas de sono serem o meu único desejo naquele momento.

-Avisou à sua mãe a hora que vamos chegar?

-Sim, ela vai nos buscar. Disse que meu irmão está radiante, e ansioso pra te conhecer. — Respondo, levando a taça até minha boca. -A casa dela é enorme; tem um piscina de frente pro lago. Meu padrasto tinha uma lancha, mas nessa altura, já deve ter trocado por outra ainda maior.

-Onde fica?

-Numa cidadezinha perto de Orlando, Winter Garden. É mais residencial mesmo, mas em quinze, vinte minutos, no máximo, estamos no centro .Você vai gostar, pequena.

   Conversa vai, conversa vem, o álcool sobe e o sono também. A doutora, por sua vez, continua elétrica, empolgada com o voo que se aproximava. Novamente, me pego pensando no quanto aquela pirralha, quinze anos mais nova que eu, tinha virado a minha vida de cabeça pra baixo; me fazendo ver o mundo de outra forma, e me ensinando a amar de novo. Olhava as aeronaves subindo e descendo da pista, pensando no que estava prestes à acontecer: Maria ia conhecer o que eu tenho de mais precioso na vida.

   Ouvimos a chamada com o número do nosso embarque, e ela, que estava distraída no celular, dá um pulo da poltrona em que estava acomodada.

-Vamos logo. Vai ficar uma fila enorme.

-Calma, criança. Quanto desespero.

    Ela me apressa enquanto eu acabo com a garrafa, e partimos pro portão, que era o último daquele longo corredor. Quando sentei na poltrona do avião, meu único desejo era dormir pelas próximas nove horas que passaríamos no céu, mas Maria não deixou que isso acontecesse.

-Não dorme.

-Por quê, criança? — Respondo, com os olhos já fechados.

-Eu tenho medo.

-Ah, Maria, fala sério. Puta que pariu. Devia ter trazido um calmante pra dormir.

-Eu trouxe, mas não adiantou.

-Ah, e aí eu que tenho que ficar acordado só porque a dondoca tem medo? Me erra. Fecha o olho e dorme, porra.

-Babaca.

Coloco minha mão virada pra cima na sua coxa, sugerindo que ela segurasse, mas permaneço com os olhos fechados. Segundos depois, sinto o aperto forte entre meus dedos, confirmando que ela entendeu o recado. Meu sono, porém, não durou muito tempo; umas duas horas depois, escuto a criança me chamando.

-Não consigo dormir. Tô entediada.

-Quantos anos você tem mesmo, Maria Carolina? Porra, parece uma criança. O que você quer?

-Conversar.

-Assiste um filme. Eu quero dormir. Olha a hora.

-Eu já assisti! Vamos ver algum juntos agora. Por favor.

    Eu ainda não aprendi a negar um pedido dela, então, faço o que ela pede, levantando o encosto de braço que nos separava, a trazendo pra perto. Ela encosta a cabeça no meu ombro, escolhe o filme, e passamos assim algumas próximas horas do voo. Depois de um tempo, percebo que ela finalmente conseguiu dormir: parece uma criança. Solto ar pelo nariz, rindo, fazendo carinho em seu cabelo. Finalmente, eu também durmo de novo, acordando só quando escuto o aviso do pouso.

-Odeio essa parte. Me dá nervoso. — Maria diz, acordando, ainda sonolenta.

-Relaxa, pequena. Tô aqui com você.

    Nem acredito quando finalmente o avião toca a pista de pouso: estava prestes a ver minha mãe e meu irmão depois de muito tempo, e ainda, trouxe a mulher dos meus sonhos comigo. As malas demoraram um bom tempo pra passar na esteira; A doutora ficou inquieta, achando que elas tinham sido extraviadas. Uns quinze minutos depois, a última mala finalmente aparece, e seguimos à caminho do portão de saída daquele aeroporto enorme: quartos de hotel pelos quatro cantos do salão; centenas de pessoas indo e voltando, mickey mouse pra todo lado.

Avisto minha mãe de longe: era impossível não reconhecer aquele cabelo loiro impecável e seus olhos azuis que chamavam atenção por onde ela passava.

-Tava morrendo de saudade. — Digo, soltando as malas e abraçando ela. Impressionante como não existe nada parecido com abraço de mãe, não é?

-Você está lindo, meu amor! Que saudade que eu tava. Então essa que é a famosa Maria Carolina? — Ela pergunta, dando um sorriso e indo cumprimenta-la. -Que sorte a do meu filho, de ter alguém tão bonita do lado. Prazer, Sofia.

-O prazer é meu! Eu é quem tenho sorte, seu filho é maravilhoso. Salvou a minha vida, sabia?

-Vou querer saber de tudo. Bento está em casa ansioso, doido pra ver vocês. Vamos?

    Passando pela estrada, passava um filme na minha cabeça; apesar de ir poucas vezes, estar naquele lugar me fazia esquecer o mundo no Brasil. Talvez por ter minha mãe por perto, não sei. Estava feliz. Sem angústia. Sem estresse. Um milagre, eu diria.

NOTAS
oi, gente! como vocês estão? eu tô chocada com a proporção que isso aqui tomou! não esperava o tanto de carinho q venho recebendo. Obrigada!

sei que vocês estão ansiosos pro andamento da história, mas queria que vcs entendessem que é MUITO, MUITO difícil entrar na cabeça do Nascimento pra fazer o personagem. No começo, pensei que vocês não gostariam da personalidade dele com a Maria Carolina, por ser diferente do comum, mas fiquei aliviada quando vi que todo mundo aprovou. Peço paciência pros próximos capítulos, vcs estão batendo a meta muito rápido e eu tô muito feliz com isso! ainda tem muita coisa pra rolar, conto com vocês pra engajar os capítulos. Beijos, ana. ❤️

Justiça e Amor  | Capitão Nascimento Onde histórias criam vida. Descubra agora