efeito surpresa

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(capitão nascimento)

    Chego no batalhão com o sangue fervendo. Eu ia descobrir quem era aquele filha da puta, mais cedo ou mais tarde. Entro na minha sala, puxo no banco de dados da PM o nome "Pedro" e "Defensor Público". Bingo. Consigo toda sua ficha. O cara era mesmo irmão da Joana, trabalhava em São Paulo até ano passado, depois foi transferido. Podia ter ficado por lá mesmo. Eu precisava resolver milhões de coisas pra invasão no Turano hoje, mas estava mais preocupado em acabar com a vida desse arrombado do que com o sono do Papa.

-Aí, Matias. Tenho uma missão pra você.

-Sempre, capitão. Manda.

-Preciso achar esse filha da puta aqui. Você conhece? — Pergunto, mostrando a foto do sujeito no computador.

-Pô, capitão. É o Pedro. Defensor Público. Estudamos juntos uma vez, mas ele foi embora, acho que pra fora do país. Mas voltou. Vi ele deixando aquela promotora lá no Pontões um dia desses enquanto passava com a viatura. Aquela que entrou com a denúncia, sabe?

-Deixando em casa? Puta que pariu. Que porra é essa, Matias?

-É, ué. Vi ela descendo do carro dele.

-Puta que pariu.

-Qual foi, capitão? Vai dar merda?

-Vai dar merda pra caralho, Matias. A promotora é minha mulher.

-Eita, porra. Acabou a vida dele então.

-Vou atrás desse filha da puta. Anda, vem comigo.

-Eu tô de plantão, capitão. Não dá pra sair daqui agora não, o Coronel vai ver.

-ANDA, PORRA!

Entramos na viatura e fomos direto pro prédio dele. Matias desce, e pergunta se ele está. O porteiro concorda com a cabeça. Ele volta, e eu espero pacientemente o arrombado resolver sair de casa. Meia hora, uma hora, uma hora e meia. Nada dele.

-Porra, capitão, na boa. Vai dar merda isso. O coronel vai dar falta de mim e de você também.

-Quero que se foda ele e o batalhão. Eu vou esperar. Se quiser ir embora, pode ir.

Depois disso, uns quinze minutos depois, ele aparece. Desço da viatura, com o sangue subindo pelos olhos, e vou em direção ao seu carro, que estava no final da rua. Por sorte, estava deserta. Enquanto ele abre a porta, eu puxo seu braço, e o viro, segurando brutalmente em sua camisa, pressionando-o contra o veículo. Dou uns três socos no seu rosto, o suficiente pra fazer o nariz dele sangrar e seus olhos ficarem roxos.

-Olha aqui, seu filha da puta. Se eu te ver de gracinha de novo com a minha mulher, você tá morto. Eu acabo com a sua vida! TÁ ENTENDENDO? TÁ ENTENDENDO, PORRA?

-S-sim senhor. Foi mal, eu não sabia que ela era comprometida! Qual foi, cara! — Ele responde, com medo.

-AGORA SABE, PORRA. AGORA SABE.

Solto sua roupa e volto pro carro. Meu corpo suava frio e minhas mãos sujas de sangue tremiam. Minha capacidade de perder a cabeça tão fácil me assustava, e assustou Matias também.

-Bora Matias, bora! Acelera porra.

Voltando pro batalhão, Maria manda mensagem. Eu estava tão puto que era melhor nem falar com ela, mas respondo, antes que ela começasse a me perturbar mais ainda. Meu problema nem era com ela, e sim, com ele. Por cobiçar o que era meu. Não queria subir o morro sem falar com ela, mas meu orgulho falava mais forte. Segui meu trabalho pelo resto do dia.

 Segui meu trabalho pelo resto do dia

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-Nascimento? Matias? Onde estavam?

-Fazendo uma ronda, Coronel.

   Carvalho olhava desconfiado, mas eu estava pouco me fudendo. O ódio subia cada vez mais: não tomei meus remédios hoje. Merda. Volto pra minha sala, resolvo mais algumas coisas e por volta das cinco da tarde, começo a organizar a equipe pra subir. Mais uma vez, dois carros, fuzil pra fora. Mas, o que não esperávamos, era que eles já sabiam que a gente ia voltar (na verdade, todo mundo esperava, mas o Carvalho não escuta ninguém. Eu avisei que ia dar merda isso).Estavam preparados dessa vez. Perdemos o efeito surpresa.

  O tiro comia entre as vielas do Turano; eles estavam muito bem preparados. Só não tanto quanto o BOPE. Naquela altura, já deviam ter morrido uns 30 vagabundos no morro. Foi uma operação intensa, e eu estava morto, só queria ir pra casa. Missão cumprida. Já organizando os carros pra descer de volta pro batalhão, de repente, escuto um disparo. Atrás de mim. Tento desviar, mas ele pega no meu braço. Merda. A dor era absurda. Abaixo, arrastando as costas no carro, segurando o braço, tentando conter a dor: tentativa falha.

-O CAPITÃO TÁ BALEADO! BORA, PORRA! VAMO EMBORA!

   Não lembro quem me ajudou a entrar na viatura, devo ter desmaiado. Fechava os olhos de tanta dor, minha pressão abaixa e me sinto fraco. O sangue escorria pelas minhas mãos, que ainda tentavam conter a dor.

-Cadê o Matias? — Pergunto, com a voz fraca.

-Aqui, capitão. Relaxa, já estamos chegando no hospital. Aguenta aí.

-Avisa a promotora... avisa a ela.

   Ele fica confuso, mas concorda. Chegamos no hospital, e eu não me lembro do que acontece depois que me colocam na maca. Só me lembro de acordar no quarto, e meu braço doía. Maria estava sentada no sofá ao lado da cama, com as mãos no rosto, provavelmente desesperada e chorando. Não queria que ela me visse daquele jeito.

-Beto! Ai, caralho... você ainda vai me deixar maluca. Puta que pariu, não faz mais isso.

-Desculpa.

-Você está bem? Tá sentindo dor? É melhor eu chamar a enfermeira pra avisar que você acordou.

-Não, porra. Fica aqui. Perto de mim.

   Ela segura minha mão, fazendo carinho. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, e eu sentia minha consciência pesar por ter brigado com ela mais cedo. Eu era um babaca mesmo. Ela passa a mão pelo meu rosto, dando um beijo na minha testa. Eu só queria minha casa.

-Vai ficar tudo bem. — Ela diz.

-Não queria que você passasse por isso.

A enfermeira entra, verifica minha pressão, faz aquelas perguntas bestas, checa o medicamento na minha veia. Aparentemente, estava tudo bem: e graças aos céus por isso. Eu não posso ficar longe do batalhão por muito tempo.

-Por pouco não pegou no osso. Você está bem, capitão. A cirurgia foi um sucesso. Deve ter alta em breve.

Maria suspirava aliviada. E eu também.

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