riscos

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(Maria Carolina's view)

Roberto é inacreditável.

  Eu não estou de acordo com essa ideia e nem quero voltar junto com ele. Talvez o meu orgulho esteja falando mais alto, mas não concordo nem um pouco com o que está acontecendo. Na verdade, eu ainda nem REALIZEI o que está acontecendo; voltar pro Brasil de um dia pro outro definitivamente não estava nos meus planos. Não é possível que não tenha nenhuma outra pessoa pra comandar essa merda de operação! Ele está afastado! Não deveria ser assim.

-Não acredito que você vai fazer isso.

-É meu trabalho, Maria Carolina. Meu trabalho, porra! — Ele responde, enquanto colocava algumas roupas na mala.

-Não é possível que não tenha ninguém pra ficar no seu lugar! Tem um monte de gente naquele batalhão!

-Eles não querem outra pessoa. Eles querem que EU vá. E eu vou.

-Eu não vou com você.

-Não estou te pedindo pra ir.

-Você tá colocando o seu trabalho acima da sua família. Parabéns. — Digo, saindo do quarto.

-Porra, Maria! Vem aqui, vamos conversar.

   Não volto atrás; estava realmente chateada com a situação. Os dias estavam sendo ótimos, e ainda faltavam duas semanas pra voltarmos oficialmente pra casa. Nem aqui ele conseguiu esquecer o trabalho; falhei na minha tentativa. Ou melhor, ele falhou; a minha parte foi feita. Descendo as escadas, sinto minha pressão cair; minha visão fica turva, e me escoro no corrimão. Me sinto fraca. Sofia vê meu estado, se levantando do sofá pra me ajudar.

-O que houve, querida? Vem cá, segura em mim. É a pressão de novo?

-Sim... Fiquei nervosa. Vai passar.

-Brigou com Beto?

-Ele vai voltar pro Brasil. Chamaram ele no batalhão...

-Do nada assim? Quando? Hoje? Eu vou falar com ele, Roberto é muito teimoso.

-Acho que não vai adiantar muito. Já tentei de tudo, ele já está até arrumando as malas. É uma operação, a mesma que ele estava comandando antes de ser afastado. Agora querem que ele volte a comandar...

-Você vai com ele? Ele é muito teimoso, sempre foi. Fica calma, Maria. Se ele quer ir, não esquenta a cabeça.

-Tenho medo dele se machucar de novo.

-Sei bem como é isso, mas tentar impedi-lo não vai adiantar. Vou pegar água pra você. — Ela diz, indo até a cozinha. -Maria, não é querendo me meter, mas... você tem que ver o que é isso que está sentindo. É a terceira vez que você passa mal, querida.

-Acho que não é nada. Só fiquei nervosa mesmo. Daqui a pouco passa. Cadê o Bento?

-Saiu com o pai. É melhor que ele nem veja o Beto ir; vai chorar e tudo. Está melhorando?

-Sim.

-Vou tentar falar com ele. Fica aqui, qualquer coisa grita.

Milhões de coisas passavam pela minha cabeça. Quando Sofia disse que eu deveria ir ao médico, a possibilidade de estar grávida ocupou minha mente. Penso no meu trabalho, no trabalho de Beto, e como seria se realmente fosse verdade: com a vida que levamos, um bebê agora não cairia bem. Eu sou nova, ainda tenho muito o que viver; não quero essa responsabilidade. Tento parar de pensar nisso; minha principal preocupação no momento era essa merda de operação. Meu coração ardia em deixar ele ir sozinho, mas meu orgulho infelizmente fala mais alto.

-Conseguiu?

Sofia balança a cabeça em negação, descendo as escadas.

-Vai tentar pegar um voo daqui a pouco.

-Puta que pariu.

-Ele disse que volta.

-Nem adianta. A operação não vai acabar em quinze dias. Não queria fosse desse jeito. A ideia era justamente esquecer o trabalho... — Respondo, levando as mãos ao rosto.

-Quer sair pra distrair a cabeça? Podemos jantar num restaurante aqui perto. Não fica assim, Maria... você sabe que não vai adiantar, infelizmente.

-Só vou pegar minha bolsa.

   Quando entro no quarto, Beto está fechando a mala. De primeira, ele finge não me ver; retribuo a indiferença. Vendo eu pegar a bolsa, resolve parar com a criancice.

-Vai pra onde?

-Tentar esquecer o que você está fazendo. — Respondo, já em direção à porta.

-Eu estou fazendo o que é certo. Porra, Maria...

-Não vou discutir. Se você acha que está certo, vá em frente. Mas não conta comigo.

   Eu e Sofia partimos, tentando ocupar a mente com outras coisas. Tivemos uma "noite das meninas" : conversamos sobre moda, compras, produtos de beleza... também fomos numa farmácia (que foi, por sinal, uma perdição, já que as farmácias dos Estados Unidos têm tudo e mais um pouco) , mas me neguei a comprar um teste; estava certa de que não era nada demais. No caminho de volta pra casa, a angústia e o medo tomam conta de mim. Tento não pensar, mas era inevitável. A estrada não estava movimentada; fazia frio em Orlando.

-Será que ele já foi? — Pergunto, preocupada.

-Ele não falou o horário que ia. É um teimoso mesmo...

-Não acredito que ele vai fazer isso. É a vida dele em risco de novo! Era melhor eu ter ido junto.

-Ele não vai querer que você vá. Deixe ele ir. Vai dar certo, a operação vai acabar e vocês voltam, juntos, em breve.

   Sofia tenta me acalmar, mas mesmo assim, falha na tentativa. Minha cabeça continua trabalhando incansavelmente, sinto meu corpo suando frio. Quando chegamos em casa, ele não estava mais lá. Merda.

-Bento, o seu irmão tá ai? — Pergunto, tentando disfarçar meu nervosismo.

-Não, tia. Achei que ele estava com vocês. Cadê ele, então?

-Deve ter ido na farmácia ou no mercado. Daqui a pouco ele está aí. — Respondo, disfarçando.

    Subo pro quarto, e sua mala já não estava mais lá; ele realmente tinha ido. Merda. Sento na cama e lágrimas descem pelo meu rosto, não sei se por medo, fracasso ou nervosismo. Sinto um misto de raiva, orgulho, receio e todos os outros sentimentos ruins.

-----------NOTASoi, amores! como vcs estão? recebi alguns pedidos pra fazer um grupo pra comentar sobre a história

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NOTAS
oi, amores! como vcs estão?
recebi alguns pedidos pra fazer um grupo pra comentar sobre a história. gostei da ideia e vou colocar em prática! quem quiser entrar, me manda mensagem (ou aqui ou na dm do tiktok) que eu adiciono no grupo!! ok?

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