impulso

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(Maria Carolina's view)

    Bem que dizem que o tempo cura tudo: e assim estava sendo. Estava bem mais calma diante de todos os acontecimentos anteriores, tentando ocupar minha cabeça com novas coisas, mesmo ficando em casa quase todo o tempo: sentia falta do trabalho, mas estava feliz de poder ter, finalmente, um descanso. Fazia tempo que eu queria trocar meu carro, e depois do que aconteceu, eu não tive escolha.

-Qual você gostou mais?

-O da primeira agência.

-Então pronto. Vai ser esse, amor.

Eu estava radiante com a ideia do carro dos meus sonhos, mas tinha outra coisa ocupando ainda mais os meus pensamentos: Beto queria muito ver a mãe, mas não tinha tempo. Agora ele tem, e quero que ele aproveite esse tempo da melhor maneira possível: eu não ia sossegar até convencê-lo de ir, o que estava sendo difícil. Ele estava pensando no batalhão, no que o Carvalho ia falar, mas era tão simples: ninguém precisava saber.

Voltamos na primeira agência. Dou mais uma olhada no carro, nos detalhes e nos acessórios. O vendedor oferece pra que eu faça um test-drive, mas eu nego. Tinha absoluta certeza do que queria. Fechamos tudo e acertamos os documentos, e eu estava muito, muito feliz: era como realizar um sonho de criança.

-Pra casa, doutora? — Beto pergunta, entrando no carro dele, enquanto eu entro no meu.

-Quem chegar primeiro ganha.

Saímos da agência e esquecemos do mundo lá fora: multas, limite de velocidade e os outros carros na pista não importavam. Piso fundo no acelerador, passando entre os outros veículos, que por sorte e por milagre, não eram tantos na Avenida das Américas naquela hora. Beto avança na minha frente: merda! Eu não hesito em pisar ainda mais fundo, chegando próximo ao seu carro, enquanto ria, sem acreditar na idiotice que estávamos fazendo: me sentia uma adolescente. Por fim, já perto da rua de sua casa, eu consigo passar na frente: ganhei.

-Não sabia que você tinha síndrome de Dominic Toretto, doutora.

-Só às vezes. — Respondo, rindo. -Como eu ganhei, vou escolher o que eu quero. Vamos viajar.

-Isso não. Tira essa merda da cabeça, Maria. Eu não posso sair daqui agora, e nem você!

-Mas que caralho, ninguém precisa saber! E outra, foram eles que te afastaram do batalhão. Não podem falar nada.

-Não vou falar de novo. Não vamos.

   Era o que ele achava. Convencer o capitão estava difícil, então eu decidi resolver esse problema sozinha. Quando chegamos em casa, espero ele ir tomar banho, abro meu notebook, e pronto: resolvi. Passagens compradas pra Orlando. Acho que esse era uma das minhas maiores qualidades e maiores defeitos ao mesmo tempo: eu não sossego até conseguir o que eu quero, mesmo que seja por impulso. Imprimo as passagens e as deixo em cima da cama, e quando ele sai do banheiro, escuto lá da sala:

-Eu não acredito que você comprou essa porra, Maria Carolina!!!! Você tá ficando maluca? Que parte do EU NÃO POSSO IR você não entendeu, caralho??? — Ele grita, indo até o sofá, onde eu estava calmamente sentada, com as passagens na mão.

-Eu não vou discutir. Nós vamos, e acabou, capitão.

-Você é maluca. MALUCA! Pra que dia é isso? DOMINGO??? HOJE É SEXTA FEIRA, MARIA CAROLINA!!! EM CIMA DA HORA ASSIM, PUTA QUE PARIU!

   Eu continuo tranquilamente sentada, com a mão apoiada no rosto e o cotovelo no braço do sofá, esperando o surto dele terminar.

-Avisa a sua mãe. E arruma as malas.

-Você só pode ter ficado maluca. Você nem sabe se eu tenho visto americano, porra! Saiu comprando assim, sem mais nem menos, Maria Carolina!

-Você tem, eu já vi. Seu passaporte estava na gaveta da mesinha do lado da cama. Acha que eu sou idiota?

-Idiota não. Mas maluca você com certeza é.

-Vai ser bom, Beto. Relaxa, ninguém precisa saber.

   Ele demora um tempo pra absorver a informação, enquanto eu começo a ver tudo que eu tinha que fazer e arrumar até, no máximo, amanhã.

-Vou em casa buscar umas coisas.

-Eu vou com você. Só espera um pouco, vou ligar pra minha mãe.

  Enquanto isso, coloco algumas roupas na máquina de lavar, pra colocar na mala depois. Escuto algumas partes da ligação; a mãe dele ficou radiante com a notícia.

-Mãe, eu não vou sozinho, tudo bem? ... É, eu tô namorando... Sei que não falei nada mãe, desculpa.... Quando chegarmos, vai ver como ela é linda.... Maria Carolina.... Te amo, mãe. Manda um abraço pro Bento.

-Namorando? Não tava sabendo dessa, capitão. Ninguém me pediu em namoro.

-Precisa?

-Você é inacreditável. — Digo, balançando a cabeça em negação.

-Ué. Achei que não precisava.

Não respondo. Eu não estava chateada, nem nada do tipo, mas o que me impressionava era ela ser um completo sem noção às vezes. Ele me acompanha até meu apartamento, e me assiste arrumar a mala. Eu ando por todo o quarto, tentando lembrar onde estavam as roupas que eu queria; pego minhas bijuterias, remédios, cosméticos, sapatos e confiro se não estou me esquecendo de nada.

-Que tanto de roupa, Maria Carolina. Pra que isso tudo? Puta que pariu. — Ele diz, enquanto eu organizo tudo na mala.

-Me deixa, capitão. Toma conta da SUA mala.

-Que biquíni é esse aqui? Não vai levar não.

-Me erra, Roberto. Vou levar sim.

-Tá maluca? Mais fácil ir pelada, porra.

-Vai se fuder. — Respondo, mandando o dedo do meio. -Quem é Bento? Escutei você falando com sua mãe.

-Meu irmão.

-Você nunca me falou dele. Ele mora lá também?

-Sim, ele nasceu lá. Tem onze anos. A gente se viu poucas vezes, mas ele me adora. Vai ficar todo bobo quando te conhecer.

Justiça e Amor  | Capitão Nascimento Onde histórias criam vida. Descubra agora