vulnerável

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(capitão nascimento)

Ficar afastado do BOPE era tudo que eu NÃO precisava naquele momento. Quando chego em casa, imediatamente ligo pro Coronel, tentando fazê-lo voltar atrás da decisão.

-Porra, Carvalho. Não tem necessidade dessa porra.

-Nascimento! Ordens são ordens. Descansa.

-Puta que pariu. E a missão do Papa, porra? Vai dar merda isso.

-Vamos dar um jeito, Nascimento. Fique tranquilo.

Merda. Meu sangue fervia de ódio por aquilo ter acontecido, eu me sentia fraco e incapaz. Maria não queria me deixar sozinho, e eu não queria ter que dar trabalho à ela. Mas ela não me escutava. Meu braço ainda doía, mas nada de extraordinário. Tomo um banho, sinto os pontos doerem enquanto a água cai sobre eles e a sensação de não poder ir pro batalhão consumia minha mente por completo. Me sentia um inútil, e por mais que a promotora não tivesse culpa de nada disso, descontava minha raiva nela.

-Tá sentindo alguma coisa?

-Não, Maria Carolina. Porra!

-Qualquer coisa grita. Vou tomar um banho rápido.

Pra não continuar xingando a coitada, prefiro não responder. Tento me ajeitar na cama, mas o braço dói, e eu não consigo deitar de lado. Que inferno. Minha cabeça não para de pensar, e eu não consigo dormir, por mais que tentasse uma, duas, três vezes. A audiência do caso é amanhã, e eu não poderia ir. Não poderia protegê-la. Mais uma vez, eu sinto que falhei na maior das minhas missões.

-Tenta dormir, Beto... você tá sentindo alguma coisa?

-Raiva, Maria. Só raiva. Você não entende que aquele batalhão é a minha vida? O meu trabalho? A minha missão? É como se você deixasse de advogar pra sociedade de uma hora pra outra. Como você se sentiria, porra????

-Eu sei que você tá chateado, mas não tem nada que você possa fazer pra mudar isso agora. O que cabe é você se cuidar. Vai ser bom, você já não andava bem faz tempo. Você sabe disso.

   Gostava da forma que ela era realista com as coisas, mas ao mesmo tempo ouvir aquilo me fazia ficar pior ainda.

-E a audiência?

-Vai dar tudo certo. Não aconteceu nada até agora, e nem vai acontecer. Relaxa, capitão.

Os sintomas do estresse começavam a aparecer mais uma vez: as batidas do meu coração aceleram, minha cabeça dói. Maria deita do meu lado, e passa a mão pelo meu rosto, tentando me acalmar. Me sinto um merda. Depois de um tempo ali, parado, pensando um milhão de coisas, finalmente consigo pegar no sono. Não sei quanto tempo dormi, mas acordo com o barulho de alguma coisa caindo no chão, fora do quarto. Levanto, com a pressão um pouco baixa e visão escura, mas vou até a cozinha e vejo a doutora cozinhando.

-Eu não tô com fome, Maria. Não precisa fazer comida.

-Mas você precisa comer. Não adianta. — Ela responde, pegando a panela vazia que tinha caído no chão.

   Sento na bancada da cozinha e encosto os cotovelos na mesma, levando as mãos ao rosto e coçando os olhos, ainda sonolento. Fico um tempo em silêncio, apenas vendo ela cozinhar, e admirando aquela mulher por completo: sua beleza, seu corpo, seu jeito, tudo nela me encantava, mesmo eu sendo péssimo pra demonstrar.

   Quando o strogonoff fica pronto, ela monta o prato e me entrega. Eu tento negar, mas não adianta: ela não ia sossegar até eu comer. Meu estômago estava embrulhado, mas mesmo assim, obedeço as ordens da doutora (só dessa vez).

-Muito bom, criança. — Eu digo.

-Eu sei. Promotora, enfermeira, chef de cozinha... mil e uma profissões. — Ela responde, convencida.

   Jantamos juntos e conversamos mais uma vez sobre tudo: ela tentava me distrair do que estava acontecendo, e até que consegue. Sinto que o mundo para quando estou com ela, e eu amava aquilo, mesmo não admitindo. Eram por volta das oito da noite, quando o interfone toca.

-Quem é? — Pergunto, enquanto ela atende.

-Matias. Veio te ver.

    Não queria que ninguém me visse daquele jeito, mas até que a visita foi boa. Conversamos sobre minha recuperação, sobre o batalhão, e sobre a vida.

-Como estão as coisas no batalhão? Não aguento mais ficar trancado aqui sem poder fazer porra nenhuma, Matias. Puta que pariu. — Digo, passando a mão no rosto.

-Tá tudo bem, capitão. Já estão procurando alguém pra ficar no seu lugar nesse tempo, a gente segura a barra. Fica tranquilo.

-O coronel não soube da surra no defensor não? — Pergunto, em tom baixo, pra Maria não escutar. Ela estava no quarto.

-Nada. Tudo em paz.

-Amanhã é a tal da audiência da denúncia. Vê se consegue dar uma fugida pra vigiar Maria pra mim. O Governador tava na cola dela pra arquivar o caso, mas ela não quis. Ainda acho que ele vai tentar alguma coisa.

-Sempre, capitão. Deixa comigo.

   A conversa flui por mais um tempo, até ele ir embora e eu, pra cama. Não demoro pra pegar no sono: parece que os remédios me deixam mais cansado e calmo. Tão calmo que eu dormi como criança: só acordei no dia seguinte: o temido dia da audiência. Maria estava arrumando o cabelo quando eu acordei, e estava linda, como sempre.

-Tô ficando com ciúmes desse pessoal do fórum que te vê todo dia assim. Está linda, doutora. — Digo, me ajeitando na cama.

-Para de bobeira! — Ela responde, rindo. -Você está bem?

-Sim, mãe. Sem dor.

-Vai à merda! A audiência deve demorar, tem comida pronta no fogão. Não esquece de tomar os remédios.

-Mais alguma coisa, doutora?

-Babaca.

-O Matias vai te vigiar. Toma cuidado, por favor.

-Não acredito que você vai fazer ele sair do batalhão pra isso. Não precisa, Roberto! Não vai acontecer nada.

-Não vou discutir. Cadê sua pistola?

Ela bate em sua cintura, mostrando que a arma já estava lá. Seu olhar acabava comigo.

Ela termina de se arrumar, se despede de mim e vai. Ligo pra Matias, e aviso que Maria está saindo.

-Ciente, capitão. Já tô aqui embaixo.

 Já tô aqui embaixo

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