(Maria Carolina's view)
Três dias se passaram e eu tinha milhões de demandas no trabalho, mas minha mente só conseguia se concentrar em uma coisa: Capitão Nascimento. O que aconteceu naquele dia? As cenas ainda passavam pela minha cabeça constantemente: sua mão me enforcando, seu olhar de desejo. Por mais que tentasse esquecer, parecia impossível. Quando lembrava, sentia meu corpo arrepiar.Tinha duas audiências, algumas reuniões e muita, mas muita papelada pra resolver. E ainda era segunda feira. Socorro!
-Doutora Maria Carolina?
-Pois não? —Disse, sentada na minha mesa, quando fui surpreendida por um rosto familiar na porta: era um policial que estava na delegacia no dia da denúncia. Só não conseguia lembrar seu nome...
-Tenente Lima. Prazer em conhecê-la.
Fiz sinal para que ele sentasse.
-O Capitão Nascimento pediu pra que viesse até aqui, conversar sobre a denúncia. Doutora, é uma situação muito delicada ... não tem como mudar o nosso trabalho. Levar o processo a diante causaria graves problemas para nós, e também pra você. Se tornaria alvo das autoridades, infelizmente, é assim que funciona. A senhora aparenta ser nova no ramo, mas é importante que fique ligada em como a banda toca no Rio de Janeiro. De amigo pra amiga, se é que me permite: arquive o caso. Será melhor para ambos.
Diferente do Capitão, Lima foi educado, me mostrou os riscos do processo, explicou tudo detalhadamente. Mas mesmo assim, meu título de promotora não me deixava fazer o contrário. Promover justiça é literalmente a minha função.
-Tenente, eu entendo a situação, entendo o problema que seria causado, mas, como promotora de justiça, é meu dever seguir com o processo. Agradeço o alerta e dou minha palavra: farei o máximo para não causar danos ao batalhão. Diga ao Capitão que estou à disposição caso ele ainda tenha alguma dúvida.
Eu estava começando a ficar com medo de onde estava me metendo, mas não tinha escapatória: era o meu trabalho. Tem só um ano que eu tomei posse no concurso, mas, mostrar vulnerabilidade nunca foi uma opção pra mim. Seguir com o caso era minha única opção, com medo ou não. Quem não arrisca, não ganha.
Não passaram nem dez minutos que o Tenente havia saído da minha sala, e meu celular apitou.
Droga! Eu não gosto de sair por baixo. Enquanto depender de mim, o capitão não vai me ter tão fácil. O grande problema é minha carreira em jogo. Meu emprego dos sonhos, meu apartamento. Minha vida tinha acabado de começar. Não dá nem pra imaginar a merda que seria ser afastada do Ministério Público nessa altura do campeonato, depois de tanto esforço. Eu não sei o que ele é capaz de fazer; sei que ele me quer, e por um lado penso que ele não faria nada pra me prejudicar. Por outro, penso que ele faria de tudo.
Mais uma audiência e já eram 17h. Fui deixar umas coisas na minha sala e pedi pra Joana finalizar o que faltava; eu não conseguia raciocinar mais nada.Saindo do fórum, me deparei com um Jeep Compass preto, que por sinal, era o carro dos meus sonhos. Ainda não tinha chegado nesse nível.
-Que demora, promotora.
-Você acha que eu fico o dia inteiro com a bunda pro alto, né? Estava em audiência!
-Mais respeito comigo, pirralha. Você me deve um favor. Na verdade, muitos favores.
-Não te devo nada.
-Me deve a transa que deixamos de dar, mas isso é assunto pra outra hora. Já que vai levar o caso pra frente, se não quiser perder sua carreira, vai ficar me devendo muitas coisas.
-Achou mesmo que eu ia te dar tão fácil assim? Não sou nenhum tipo de puta, capitão. O que você quer?
-Vamos beber, só isso.
-Se estiver tentando me embebedar pra dar pra você, é melhor nem tentar.
-Não sou tão burro assim, pirralha. Quando eu for te comer, vou fazer você implorar por mim.
Ele estacionou o carro numa rua distante do bar, o que já me deixou intrigada e alerta.
-Por que estacionou tão longe? — Eu perguntei enquanto saí do carro.
-Você é tão inocente, promotora. Quer que todo mundo saiba que veio beber comigo?
Não respondi.
Sentamos no balcão do bar. Até que o lugar era legal, tinha música ao vivo, era escuro, não estava tão cheio.-Duas cervejas, por favor.
-Eu não bebo cerveja, capitão. — Respondi. -Uma caipirinha de limão.
-Eu esqueço que você ainda é uma pirralha. Só bebem coisa de adolescente. Fala sério, promotora.
-Você me chama de pirralha o tempo todo, mas pelo visto, gosta de mim. Por que me trouxe aqui?
-Já disse. Você me deve favores.
-Não devo, capitão. Se quisesse acabar com minha carreira, já teria feito algo. Está tentando me chantagear, pra ficar com você.
Eu sou boa em duas coisas: no meu trabalho, e na lábia. Saco tudo, na hora, desde nova. Sei exatamente quando brincam comigo e quando me querem. Uma boa canceriana, eu diria.
-E pelo visto você quer ficar comigo. Se sabe que não vou fazer nada, o que te trouxe aqui?
-Quero que saiba que eu conheço seu jogo. Sei que fiquei na sua cabeça. Que você está doido por mim. Mas não vai me ter tão fácil, capitão. Ah! Acho que vai gostar de saber que tirei minha calcinha antes de sair do fórum.
-Filha da puta. Vamos pra casa.
-Não tão cedo, capitão. Ainda aguento uns três copos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Justiça e Amor | Capitão Nascimento
FanfictionMaria Carolina é uma promotora de justiça recém-formada vivendo a vida que sempre sonhou, até ser surpreendida por Roberto Nascimento, capitão do BOPE, e amor da sua vida.