sonho ou pesadelo?

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(Maria Carolina's view)

Tive um sonho estranho essa noite.
Voltava pro trabalho, num novo fórum; não era o que eu trabalhava até então. Mas, algo parecia estar diferente: ainda em casa, me despedia de Beto, e na bancada da minha cozinha, uma mamadeira. Puta que pariu. Minha cabeça não me deixa em paz. Ontem, custei à dormir, pensando em mil e uma coisas; entre elas, essa história da gravidez.

Levanto por volta das 9, depois de muito rolar na cama, ainda pensativa. Pela janela, vejo o sol iluminando todo o bairro; fazia calor e não havia nenhuma nuvem no céu. Penso como as coisas estariam no Rio naquele momento: o caso da denúncia, que por um pouco período de tempo, eu apaguei da mente; Beto, a operação, e a situação dele no batalhão. Será mesmo que ele conseguiria voltar?

-Alô?

-Oi, Jojô. Que saudade.

-Vai morar aí, é? Tô morrendo de saudade também.

-Boba! Já já eu volto. Como estão as coisas aí?

-Tudo normal, eu acho. Aconteceu alguma coisa?

-Não. Bom, eu acho que não.... Ai, Joana, na verdade... eu acho que tô grávida.

-OI? Eu vou ser tia!? É sério?

-Eu não sei, não fiz teste. Pensei que era coisa da minha cabeça, mas hoje eu sonhei, Joana, SONHEI com uma mamadeira na minha cozinha!

-Você já falou isso pro Roberto? Ele não tá aí, né...

-Ele tá aí, no Rio. E não, eu não contei. Eu acho que não era a hora certa disso acontecer...

-Agora já foi, né! Pensasse isso antes de transar.

-Joana!

-Ué! É verdade. Faz um teste, e me conta depois. E ah, fica tranquila, tá tudo bem aqui. Seu caso andou, viu? Matias já prestou depoimento.

-Eu te ligo. Se cuida, Jojô.

   Desço as escadas da casa decidida a resolver esse problema. Bento assistia alguma coisa na tv da sala, mas parecia estar incomodado; seu olhar estava triste.

-Bom dia, pequeno. Tudo bem?

-Aham. — Ele responde, sem empolgação e sem tirar os olhos da televisão.

-O que foi, Bento? Aconteceu alguma coisa?

  Ele demora um certo tempo pra virar o rosto pra mim; respira fundo, bufando.

-Beto não vai voltar?

-Vai. Logo logo ele vai estar aqui de novo.

-Quando?

-Ele ainda não tem certeza. Mas vai ser em breve, meu amor. Não precisa ficar assim. Cadê sua mãe?

-Acho que lá fora.

Sofia arrumava algumas coisas no bar. Enquanto eu ia em sua direção, seu rosto se alegra.

-Bom dia, querida.

-Bom dia! Pode me emprestar seu carro, por favor? Preciso dar um pulo na farmácia.

-Claro. A chave está em cima da bancada.

No caminho, minha cabeça não consegue parar de pensar. Eu não sei se quero voltar a trabalhar, se quero ir embora ou ter um filho. Minha mente está uma confusão há semanas, meus olhos estavam fundos de tanta preocupação. No rádio, minha playlist favorita; a estrada estava movimentada.

 No rádio, minha playlist favorita; a estrada estava movimentada

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    Prefiro não responder agora.

   Antes de voltar pra casa, passo no starbucks e fico um tempo estacionada enquanto degustava meu café com leite; prestava atenção nas pessoas entrando e saindo da loja; mães com filhos pequenos, adolescentes, enfim. Pensava no futuro daqui pra frente se realmente fosse tudo verdade.

    A casa estava vazia quando cheguei. O silêncio ecoava pelas paredes e eu subo direto pro banheiro do meu quarto. Antes, me olho no espelho, tentando me convencer de que independente do resultado, tudo ficaria bem. Acho que foram os três minutos mais longos da minha vida: o tempo não passava. De jeito nenhum. Meu corpo tremia antes mesmo de olhar o resultado; minhas mãos suavam frio até o alarme do meu celular tocar, avisando que os minutos acabaram. Respiro fundo uma, duas, três, infinitas vezes, mas nunca o suficiente pra me acalmar.

   Finalmente tomo coragem, e no mesmo momento em que olho pro exame, ele cai das minhas mãos; eu estou grávida.
Sinto uma mistura de emoções; meu corpo treme e acho que minha pressão caiu também. As lágrimas descem nos meus olhos, tanto por medo, quanto por felicidade. Foi uma sensação inexplicável; eu estava carregando outro ser dentro de mim. Estava carregando o meu filho, o filho de Beto. Não conseguia acreditar que era real.

   Sento na cama e passo um tempo ali tentando processar a informação. Não quero contar pra Beto agora; só quando ele estiver aqui. Também não sei se contar pra Sofia era uma boa ideia, nem pra Bento. Estava perdida; eu não sei como essas coisas funcionam. Me sinto ansiosa só de pensar como seria: eu não sei cuidar de bebês. Eu sou promotora de justiça. Roberto é capitão do BOPE. Minha casa não tem nem espaço pra uma criança!

   O que Beto acharia disso? O que A MÃE DELE acharia disso? Nós não somos nem casados; não que isso seja um problema, mas, sei lá, eu não sei como funciona a cabeça da mãe dele. E eu também não estava planejando.... casar?

   Escuto a porta abrir. Sofia chega, e eu ainda não sei se conto ou não. Meu rosto estava vermelho e meus olhos inchados de tanto chorar; não tinha escapatória, ela ia saber que algo aconteceu. Depois de um bom tempo, quando finalmente desço, ela está sentada na sala, tomando uma xícara de café.

-Pensei que não ia sair do quarto. — Ela diz, brincando. -Você está bem, Maria?

-Sim. Só estava cansada, mas está tudo bem. Cadê o Bento?

-Levei pra casa de um amigo. Ele está triste, quer que o irmão volte logo. Sabe como são as crianças.

-É. — Concordo, meio sem jeito. -Ele falou comigo.

-Liguei pra Beto agorinha, mas ele não me atendeu. Deve estar no batalhão.

-Eu esqueci de responder ele! Ainda bem que você me lembrou. — Respondo, me lembrando de responder a mensagem de antes.

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⏰ Última atualização: Sep 03 ⏰

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