Prefácio

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Verão de 2002

— Poncho! Me segura! Me segura! — gritou Anahí, preparando-se para cair de costas durante o exercício de confiança no acampamento do último ano do ensino fundamental.

Fazia anos que tinha uma quedinha por Alfonso. Agora que estava terminando o nono ano e começaria o ensino médio no outono, as coisas pareciam estar melhorando. De pernas depiladas, novo batom rosa nos lábios e um rabo de cavalo alto, ela sabia que estava bonita. E Alfonso logo, logo saberia também, assim que ela caísse (literalmente) em seus braços.

— Hã... ok — respondeu ele, atrás dela. — Estou quase pronto.

— Ok. — Sentindo-se nervosa de repente, Annie respirou fundo algumas vezes. — Vou cair!

— Pode vir! — avisou Poncho.

Anahí sentiu o vento nas costas quando endireitou o corpo e se jogou para trás. Mas não parou de cair: não havia nada que a pudesse amparar. Bateu na grama com um baque e olhou para cima.

Dulce Maria enrolava uma mecha de cabelo entre os dedos, rindo de algo que Alfonso dizia. Aquele cara tinha a capacidade de concentração de um peixinho-dourado!

— Seu babaca! — Anahí bateu com o punho no chão — Poncho? Somos parceiros, e existe um motivo para o fato de essa atividade se chamar exercício de confiança! Você deveria ter me segurado!

Ele arregalou os olhos.

— Ai, droga! Me desculpe, Annie. Dulce não sabia o que era para fazer e não tinha parceiro, então eu disse que ela poderia ficar com a gente.

— Ah, mas...

— Nossa, Poncho, ainda bem que me ofereci para ser sua parceira! Vamos precisar de duas pessoas para segurar essa garota. Ela parece uma baleia inchada. — Dulce riu e cutucou Poncho, o que fez o estômago de Anahí embrulhar.

Ela sabia que não era tão magra quanto Dulce ou as outras garotas. Umedeceu os lábios, insegura, e sofreu a dor da rejeição que se abateu sobre ela. Enquanto o silêncio se prolongava, sentiu as lágrimas que brotavam e um nó na garganta.

Anahí olhou para ele, que estava com as bochechas um pouco vermelhas, mas Alfonso não disse nem uma palavra. Ele não a defendeu. Ele não fez nada.
Talvez essa tenha sido a pior parte.

A total falta de reação.

Ele poderia ter rido da piada também. Isso ao menos deixaria Anahí irritada o suficiente para socar a cara dele. Em vez disso, Alfonso a olhou com pena, como se o que Dulce dissera fosse verdade.

Como se concordasse com aquilo, mas não soubesse de que modo dizer isso a ela.

Anahí sentiu os olhos se encherem de lágrimas, então os baixou à grama, que já lhe causava coceira.

— E aí, gente, estão prontos para o exercício?

Maite Perroni foi até eles e sorriu, deixando Anahí ainda mais insegura. A única garota em quem Alfonso confiava era Maite. Anahí e Alfonso compartilhavam a melhor amiga, o que era uma droga, na opinião dela. Fazia com que ela sempre se sentisse sobrando, como se fosse um brinquedo estranho e com defeito, que nunca se encaixava em lugar nenhum.

Alfonso abraçou a recém-chegada.

— Estávamos só aquecendo.

— Legal. — Maite olhou para Anahí. — Vamos lá! Levante-se daí, preguiçosa!

Dulce Maria caiu na gargalhada.

— Exercício, Annie. Já ouviu falar nisso?

Maite olhou de cara feia para Dulce e estendeu a mão para Anahí.

— Ignore. Ela só está chateada porque seus peitos são maiores que os dela.

Revirando os olhos, Anahí se levantou e deu uma última olhada na direção de Alfonso. Era o fim da quedinha que sentia por ele. De verdade. Afinal, que garota quer se apaixonar por um cara que não a resgata quando ela mais precisa dele?

Ela queria um homem como os que via nos filmes e na TV. Um herói de verdade, que a salvasse. Homens de verdade usavam armas e espadas para lutar pelas mulheres que amavam.

No ano anterior, quando a turma assistiu ao filme Romeu e Julieta, Anahí precisou esconder as lágrimas que escorriam por seu rosto durante a última cena. Era aquilo que ela queria: um homem tão apaixonado que a seguisse até o outro mundo!

Na época, quando disse aquilo em voz alta, Alfonso a olhou como se ela fosse maluca. Bem, ele é que iria se dar mal, no final das contas! Anahí encontraria o homem da sua vida! E, por ela, Alfonso Herrera poderia... morrer.

Será?

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