Dezenove

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Estava tudo bem.

Tudo bem, tudo bem demais.

Tinha "tudo bem" de mais naquela frase. Sim, Alfonso estava se saindo muito bem em se convencer de que ficar no mesmo quarto de Anahí não o mataria. Seria como no acampamento da escola. Só que, desta vez, enquanto a garota estivesse dormindo bem longe dele, Alfonso saberia exatamente o que estaria perdendo.


Passou a mão pelos cabelos e tentou se concentrar em sua tarefa: encontrar roupas para Anahí. Bem, ficar sem roupas também era sempre uma opção... Ele sorriu, então se lembrou da ameaça que ela fizera e continuou a procurar.

Ao abrir a porta de cima do armário, encontrou algumas cuecas e uma camiseta da época do ensino médio. Iriam servir. Quando subiu as escadas até a suíte, estava quase convencido de que aquilo não seria nada de mais. Quase.

Anahíjá estava na cama, com as pernas cruzadas e os braços atrás da cabeça, o que destacava os seios no vestido de um jeito tão atordoante que Alfonso precisou fechar os olhos por um segundo. Ele retirava o que tinha dito: não seria nem um pouco como no acampamento, nem um pouco mesmo.

— Encontrei roupas para você. — Ele as jogou na cara dela. Bem, talvez fosse um pouco como no acampamento, já que ele continuava a irritar as garotas de quem gostava. Onde é que estava o charme dele? Tinha desaparecido, pelo visto.

— Obrigada — murmurou ela, tirando as roupas da cara. — Ei, eu me lembro desta camiseta. — Ela riu e a segurou na frente do peito. — Homem do ano, é?

Alfonso coçou a cabeça e desviou o olhar.

— É, bem, foi há muito tempo. — Ele tinha sido eleito Homem do Ano no ensino médio, o que, para um adolescente cheio de hormônios, basicamente significava que ele era algum tipo de deus do sexo enviado à Terra para dar atenção a todas as mulheres das redondezas. Amava aquela blusa. Toda vez que a usava... Bem, basta dizer que, sempre que isso acontecia, chegava atrasado à aula.

— Eu odiava essa blusa. — Anahí a colocou na cama e suspirou.

— Odiava? — Alfonso se sentou ao seu lado e pegou a blusa. Nossa, ele já tinha sido assim tão pequeno? Na época, achava que tinha o corpo musculoso e esculpido como o de um deus grego. Patético. Hoje em dia, a camiseta nem mesmo caberia.

— Odiava. — Anahí se apoiou nos braços. — Achava idiotice as pessoas votarem em uma coisa tão besta e as garotas levarem aquilo tão a sério. Tipo: "Ai meu Deus! Viu Alfonso Herrera hoje? Ele é tão sexy, e está com aquela camiseta. Você sabe o que isso significa!"

— Droga, como você sabia?

— Todo o mundo sabia. — ela riu. — Quando você usava esta blusa, era porque estava pronto para algumas... atividades extracurriculares atrás do estádio. As garotas iam para os armários, passavam batom, encurtavam um pouco as saias e esperavam que você as escolhesse. Então, sim, eu odiava essa blusa. — Ela suspirou. — E não é que as coisas tenham mudado muito. Agora, ao menos você consegue escolher sem precisar da camiseta, né?

Ele não soube o que responder. Será que devia concordar? Ou apenas mentir, na cara de pau? Porque, tecnicamente (e infelizmente, também), ela estava certa.

— Enfim... Preciso trocar de roupa. — Ela o encarou com uma expressão significativa.

Ele não se moveu.

— Então... — Ela gesticulou para a porta. Ele deu de ombros.

— Posso fechar os olhos, se você quiser ser tão puritana, mas, antes, deixe que eu justifique rapidamente minhas ações...

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