Vinte e sete

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Apesar de não estar namorando Alfonso, tudo o que Anahí queria fazer depois que ele a deixou em casa era abrir uma garrafa enorme de vinho e assistir a reality shows bem ruins. Por que isso? Afinal, ele não tinha feito nada de errado.

Além, é claro, de ser atraente a ponto de deixá-la tonta e de tratá-la como uma princesa, para, então, acusá-la de ser alcoólatra. Ela sorriu, abriu a garrafa de vinho e serviu uma taça. Marichello já estava dormindo, mas Anahí não conseguia tirar da cabeça os acontecimentos do dia. Como qualquer outra garota, queria dissecar cada detalhe de cada conversa que tivera com Alfonso, até que conseguisse entender o significado de tudo. Será que ele só estava sendo legal? Virando a página e tomando jeito, ou coisas do tipo? Ou será que era só uma estratégia para levá-la para a cama outra vez?

Será que só estava agindo daquele jeito até conseguir o que queria? Para começo de conversa, será que ele a queria, ou só tinha se cansado do estilo de vida de playboy? Para aumentar a lista crescente de problemas de Anahí, ele ainda tinha dito que não haveria imprensa no casamento. Talvez, se ela apresentasse a situação de forma diferente e fosse completamente sincera, se dissesse que perderia o emprego, assim como ele, se não cobrisse o evento...

Será que ele tinha ficado com pena dela? Por outro lado, ela era muito boa no que fazia. Aquele único incidente não a definia. Só precisaria de alguns detalhes do casamento, de algumas fotos, e tudo ficaria bem. Ninguém nem ficaria sabendo que fora ela quem tinha vazado a informação para a imprensa. Além disso, será que eles não prefeririam que fosse uma amiga a cobrir um dia tão especial, em vez de uma pessoa qualquer, com uma câmera na mão? Será que seria certo pedir-lhes tal favor? Ainda mais com todo o estresse do casamento?

Ela não queria ser motivo de torná-lo ainda maior, e, para ser sincera, não era problema de Maite que o chefe dela fosse um babaca egoísta sem escrúpulos. O tiquetaquear do relógio no silêncio do quarto não importava. O barulho lembrava um programa de perguntas e respostas.

Ela se colocou no lugar de Maite. O que a amiga faria? Ela sempre fazia a coisa certa, não importavam as consequências. Anahí, por outro lado, não estava se casando com um Herrera milionário. Precisava de dinheiro para comer! Depois de ter perdido o lugar como apresentadora do jornal, sabia que aquela era sua última chance. Se não conseguisse as fotos, seu sonho de aparecer no jornal estaria acabado de uma vez por todas. E se ela pedisse a Maite? Ou a Andres? Ou a vovó?

Sua cabeça começou a latejar.

O telefone tocou e ela olhou para a tela. Era um e-mail, que ela abriu depressa. Duas palavras. Era tudo. Duas palavras e uma interrogação.

E aí?

Era de Mark. A única coisa em que ela conseguiu pensar como resposta foi um palavrão. E mais nada. Como se precisasse de outro sinal, a foto de Maite brilhou no celular. Ela precisava de conselhos, de palavras sábias, de alguma coisa, qualquer coisa. Ou — quem sabe? — de mais uma conversa com o chefe. Talvez ele desistisse, se ela lhe explicasse a situação.

Resmungando, fechou os olhos por um segundo, permitindo que o estresse do dia fosse embora. O emprego era uma necessidade. Ponto final. Alfonso Herrera? Bem, ele estava mais para um desejo, e ela nem sabia dizer se ele havia perdido a cabeça ou encontrado um coração naquele corpo musculoso.

Resmungando, sentou-se no sofá e ligou a TV. Logo sentiu os olhos pesarem e caiu no sono.

O barulho da TV a acordou. Devagar, Anahí se levantou do sofá e pegou o controle, com a intenção de desligá-la. Mas, quando encontrou o botão, algo na tela chamou sua atenção.

— Quê? — Ela aumentou o volume, sentindo-se, já, mais acordada do que nunca.

"O playboy milionário Alfonso Herrera voltou a figurar na cena noturna. Ele foi visto no centro da cidade, no lugar do momento, o Brazeel and Ice. Fontes afirmam que o viram ir embora não apenas com uma, mas com duas mulheres. Rumores ganharam destaque desde a semana passada, quando Alfonso foi afastado do cargo na Herrera Enterprises. Mulheres de toda a Seattle devem estar felizes, pois o solteirão mais famoso da cidade está de volta."

O controle caiu da mão dela. Tremendo, ela tomou um gole de vinho. Babaca! Ele estava brincando com ela, se divertindo, e de novo ela tinha entrado nesse joguinho! Quantas vezes, nos últimos dias, tinha jurado que não iria se apaixonar, mas, ainda assim, tentara justificar seus sentimentos, dizendo a si mesma que ele estava diferente?

Era óbvio que onças não viravam gatinhos.

E Alfonso Herrera podia dormir com quem quisesse. Era o fim, de verdade.

4/5

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