Vinte e nove

168 17 4
                                    

— Ei, babaca! — chamou uma voz feminina irritante, que interrompeu seus sonhos. — Acorde! Está na hora de pegar o avião! Precisamos embarcar agora!

— Por que está gritando? — sussurrou Alfonso , levando as mãos às têmporas. — E que troço é esse que você está usando?

Anahí parou na frente dele, com as mãos nos quadris. Usava um vestido rosa brilhante diretamente saído do catálogo da Victoria's Secret.

— Filha da mãe, apague as luzes! — Ele cobriu os olhos com uma das mãos e continuou xingando.

— Ah, desculpe. — ela continuou a falar alto. — Meu vestido brilhante faz sua dor de cabeça piorar? Que tal um shot de tequila, hem?

Só de pensar naquilo, Alfonso sentiu o estômago revirar. Ele tinha conseguido dispensar as gêmeas, mesmo estando completamente bêbado, e ainda assim a mulher de quem ele gostava parecia prestes a esfaquear suas partes íntimas!

— Não — respondeu, rouco. — Nada de álcool.

— Você se divertiu ontem à noite? — ela cruzou os braços. Os olhos azuis brilhantes estavam límpidos como o céu da manhã. Mas. Que. Merda. Ele agora era poeta? Bateu no peito e pigarreou. Ah, que bom. Estava batendo no peito. Tinha recorrido ao estilo dos homens das cavernas para provar que ainda era macho.

Adeus, último resquício de masculinidade! Alfonso sacudiu a mão no ar, como se acenasse uma despedida. Então percebeu que ainda devia estar bêbado.

— Levante-se logo daí. — Anahí chutou sua cadeira.

— Não. — Ele precisava de comida. Como é que tinha chegado ao aeroporto? De táxi? Certo, um táxi, e ele pagou ao taxista, pegou as passagens e passou pela segurança ainda tonto e cheirando à festa da noite anterior.

Mas que engraçado. Exatamente como na última vez que tinha voado.

— Por que você está sorrindo? — ela agarrou seu antebraço e o puxou, para que se levantasse. — E por que está com cheiro de bunda? Pelo menos tomou banho?

Seu cérebro começou a funcionar devagar enquanto ele relembrava os acontecimentos da manhã. Tinha se esquecido de fazer as malas, então correu pela casa, tropeçando nos móveis, para conseguir estar pronto a tempo, e quase não se lembrou de pegar o celular e ligar para um táxi, mas não tomou banho.

— Hã... Não deu tempo.

— Você foi para casa às nove, ontem à noite. Deve ter sido uma noite difícil.

Ele decidiu não responder. Em vez disso, apoiou-se nela enquanto entregavam os cartões de embarque e seguiam até o avião. Pelo menos não seria um voo longo. Ele também sabia que vovó voaria na primeira classe, então não haveria ameaças de bombas, reações alérgicas nem prisões.

Aliás, onde vovó estava?

Quando entraram no avião, ele olhou ao redor. Ela não estava na primeira classe, pelo que ele tinha visto. Nem na econômica.

— Onde está vovó? — perguntou a Anahí, odiando a rouquidão ainda presente na voz.

— Ela foi ontem à noite. Alguma coisa sobre uma emergência de casamento. Você usa o celular, ou só fica olhando para ele e pede a Siri que leia as mensagens?

Ele olhou para o chão com uma expressão culpada e decidiu não responder.

— Então — continuou ela. Sério, por que ela ainda estava falando? Não sabia que ele estava prestes a vomitar a própria alma? Revirando os olhos, ela afivelou o cinto de segurança de dele. Ótimo, ele tinha virado um bebê de dois anos!

Simple PastOnde histórias criam vida. Descubra agora