Dez

198 14 6
                                    

— Puta merda, ela está de sacanagem! — Alfonso olhou para o prédio com um misto de horror e confusão. — Espero muito que a gente esteja com o endereço errado.

Anahí arrancou o pedaço de papel das mãos dele.

— Deixe-me ver.

— Eu sei ler, sabia?

Revirando os olhos, ela examinou o papel.

— Inacreditável.

— O quê? — Ele se inclinou por cima do ombro dela, olhando o papel mais uma vez. O perfume de Anahí o atraía, e isso o deixava tenso.

— Você saber ler.

— Muito engraçado!

— É o endereço certo. — Anahí bateu no peito dele com o papel e andou até a porta escura. — Acho que devíamos... Devíamos entrar?

— Claro que não. — Alfonso cruzou os braços. — Sem chance.

— A lista diz que a Madame nos espera à uma da tarde! Vamos nos atrasar se não entrarmos.

Alfonso umedeceu os lábios e olhou outra vez para o prédio. Nas vitrines havia imagens de casais dançando. As mulheres riam e jogavam confetes para o ar. Parecia um desses comerciais toscos sobre absorventes internos.

— Não. E quem é chamada de Madame, hoje em dia?

Anahí revirou os olhos.

— É o nome dela. Por quê? Está com medo de desenvolver um par de peitos? Tem medo de que suas bolas desapareçam?

Alfonso bufou com desdém.

— Tudo bem, vamos lá. — Irritado, ele agarrou o braço de Anahí com a mão esquerda e abriu a porta com a direita.

Lá dentro estava escuro.

— Viu? Endereço errado. — Alfonso soltou o braço de Anahí e pegou o celular no instante em que uma música começou a ser ouvida no ambiente. Então alguns refletores se acenderam e o cegaram momentaneamente.

— Que porra é essa?

Foi aí que começou a cantoria.

Anahí, ao seu lado, ficou tensa. Mais luzes foram acesas, embora Alfonso não tivesse nem ideia de onde elas vinham. Ainda estava um pouco cego por conta do primeiro clarão. Tentou dar um passo para o lado, mas bateu em uma mesa. Apoiando as mãos no tampo, olhou para baixo.

E viu fotos de strippers do sexo masculino sem blusa. Ele se endireitou rapidamente, mas então esbarrou em alguma coisa dura, que oscilou. Alfonso se virou, tentando estabilizar o objeto. Era uma estátua nua. De um homem.

Como é que ele ia tocar naquilo? A escultura tinha sido colocada na mesa de um jeito que deixava as pessoas frente a frente com o órgão sexual masculino. Esticou a mão para segurá-la pela cintura, quando sentiu Anahí esbarrar nele. Ela parecia travar a própria batalha contra um enxame de balões na forma de... é... partes íntimas.

— Mas que droga! — Anahí segurou a mão dele. — Precisamos correr.

— Parece o inferno, só que pior — concordou Alfonso, agarrando-a pelo braço.

— Bem-vindos, bem-vindos! — cumprimentou uma voz amplificada por um alto-falante.

— Meu Deus. É oficial: estamos nos Jogos Vorazes!  — Alfonso segurou Anahí e a empurrou para trás de si. — Só deixe que eu morra primeiro, Senhor! Por favor, deixe que eu morra primeiro.

— Estava esperando vocês! — anunciou a voz feminina, alegremente.

— Não me sinto melhor com esse seu pedido, não, Poncho — sussurrou Anahí, atrás dele. — Aliás, só é romântico se sacrificar por outra pessoa quando a morte não é a melhor opção, pezinho de valsa!

Simple PastOnde histórias criam vida. Descubra agora