Onze

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Mas o que tinha acabado de acontecer? Os dois estavam brincando e rindo, e, de repente, em questão de segundos, Anahí estava falando de vagabundas e batendo a porta na cara dele. O que ele tinha dito? Ela parecia apressada, então Alfonso não quis irritá-la fazendo-a esperar enquanto ele pegava o número dela.

Pensou que estivesse agindo como um cavalheiro, ou ao menos tentando ser um.

Mas, segundo Aanahí, tinha agido como um babaca. Mulheres. Será que algum dia conseguiria entendê-las? Enquanto deixava o estacionamento, refletindo sobre todos os motivos pelos quais beijar ele outra vez seria uma péssima ideia, o celular tocou.

— Que foi? — Estava rouco.

— Opa! Dia ruim? — Andres riu.

— Tive aula de dança. O que você acha?

— Sinto muito. Espere, você disse que teve aula de dança?

— Não vou repetir — respondeu Alfonso, seco. — Ah, aliás, é capaz de vovó não poder ir ao casamento.

— Sério? Por quê?

— Vou matá-la. Hoje à noite. Ou então vou colocar algum tranquilizante nas vitaminas dela.

— Ah! Bem, não use Benadryl. Ela já tem tolerância a esse.

— É, bem, depois do que aconteceu com Maite, acho que todos podemos dizer que temos tolerância. Posso jurar que usei uma caixa inteira na última vez que tive crise alérgica.

— Fico feliz que ainda esteja respirando. — Andres riu.

— Não seja babaca. O que você quer?

Andres riu mais uma vez.

— Primeiro me conte mais sobre a dança.

Dança do acasalamento — corrigiu Alfonso, pegando a saída para a loja de smokings. — Foi tudo bem. Annie salvou a minha pele. Madame, e sim esse é o nome dela, queria um novo brinquedinho.

— Como é?

— Um brinquedinho, uma distração, um homem com quem brincar e que pudesse vestir como quisesse. Era provável que você nunca mais me visse.

— Assustador.

— Você não faz ideia. De qualquer forma, acabei de deixar Annie no trabalho e vou tirar as medidas para o smoking.

— Beleza.

A ligação ficou silenciosa.

And? Está aí?

— Estou. — O irmão ficou quieto outra vez. — Preciso perguntar uma coisa.

— Não, não vou doar um rim para você, peça à vovó.

— Ela só tem um.

— Por isso mesmo.

Andres suspirou.

— Não é isso. É...

— Ok, agora você está me assustando.

— Então, você sabe que o papai vai levar Maita até o altar, né?

Alfonso acabara de estacionar e suspirou.

— Sei.

— Ela, hã... — Andres soltou um palavrão. — Ela queria saber se teria problema se você... se você fosse com eles.

— Eu? — gritou Alfonso. — Por que ela iria me querer ao lado dela? Isso é uma piada? Se sim, não é muito engraçada...

— Pare de gritar! — Andres soltou outro palavrão. — Viu? Sabia que você iria surtar. É só que... Você e Maite foram melhores amigos por tanto tempo, e, mesmo com esses dois anos complicados, você ainda é importante na vida dela. E ela quer homenageá-lo.

Droga.

Alfonso nunca chorava. Nunca.

A última vez que chorara fora quando os pais de Maite morreram. E, mesmo assim, ele se trancara no dormitório e bebera até esquecer que tinha chorado lágrimas de verdade. Mas desta vez... sentia uma vontade absurda de chorar até não aguentar mais. Porque não devia ser ele a levar ela até o altar. Nem o pai dele. Devia ser o pai dela. Parte dele, uma parte pequena, se sentia culpada do que acontecera e achava que todos estariam vivos e felizes se fosse possível voltar no tempo e consertar algumas coisas.

— Poncho, está me ouvindo?

— Estou — respondeu, rouco. — Posso... hã... Posso pensar no assunto?

— Claro.

— Certo. — Alfonso bateu no volante com uma das mãos. — Preciso ir. Diga oi a Maite por mim.

— Ok. A gente se fala depois.

Alfonso desligou o carro e bateu no volante de novo. Uma vez não tinha sido o bastante. E bateu de novo, e de novo, até que a mão ficou tão dormente que ele teve certeza de que precisaria colocar gelo depois.

Um dia ele contaria tudo a Maite. Explicaria que o pai dela tinha... salvado a vida dele.

Sentiu um gosto amargo na boca ao pensar no passado — no passado como um todo. Será que Bill sentiria orgulho dele e das escolhas que fizera? Ou será que faria o que fizera oito anos antes... Que o faria cortar lenha e cavar buracos até que seus dedos sangrassem — até que ele percebesse o enorme erro que tinha cometido?

Praguejando, Alfonso saiu do carro e caminhou até a loja de smokings. Precisava pensar naquele convite — pensar na possibilidade de levar Maite até o altar —, mesmo que isso significasse que não seria ele o homem a esperá-la no fim do caminho. Nunca tinha merecido um amor como aquele e provavelmente nunca o mereceria.

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