Vinte e dois

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Maite chutou Andres para acordá-lo. Ele ainda estava roncando no sofá. Coitado. Estaria exausto no voo de volta para casa.

— O quê? — Ele se sentou de repente e soltou um palavrão. — Sério? Você me chutou? Por que não me acordou com um beijo, sexo, ou...

— Temos um problema.

— "Nós" não temos nada. — ele esfregou os olhos. — Eu é que tenho um problema. Passei a noite na droga do sofá. Estou com torcicolo e, se não dormirmos na mesma cama logo, vou ficar maluco.

— Onde está sua decência? — ela deu um soquinho na perna dele, forçando-o a se sentar para que ela pudesse ocupar um lugar no sofá.

— Perdi. Não quero encontrar. — Andres bocejou. — Por que foi que você me acordou, mesmo?

— O problema.

— Ah, isso. — Ele suspirou. — Posso tomar um café antes, pelo menos?

— Não — retrucou ela, irritada. — É sério!

— Caramba. Você está...?

— Por que é que todo o mundo me pergunta se estou grávida? Como é que isso poderia acontecer se não estamos dormindo juntos?

Andres pareceu realmente pensar no assunto. Revirando os olhos, Maite segurou a mão do noivo.

— Concentre-se. Acho que tem alguma coisa errada com Poncho.

Andres soltou uma risada curta.

— Se eu ganhasse dinheiro toda vez que alguém me dissesse isso...

— Fique quieto. Estou falando sério! Ele parecia triste de verdade! Estava todo deprimido e...

— Bom dia, Poncho! — gritou Andres, quando o irmão desceu as escadas.

— Oi. — Alfonso acenou. — Annie já está no carro?

Maite assentiu. Alfonso umedeceu os lábios e foi para a porta. No instante em que ela se fechou, Andres falou:

— Caramba, acho que tem alguma coisa errada com Alfonso!

Reunindo toda a paciência que ainda lhe restava, Maite conseguiu não resmungar de frustração.

— Como eu disse, temos um problema. E se ele gostar mesmo dela?

— Impossível — respondeu Andres . — Ele nunca esteve em um relacionamento sério. Quer dizer, o mais perto que chegou foi com você, e nós dois sabemos como aquilo terminou.

Ignorando-o, Maite continuou:

— É que parece que ele está realmente chateado por causa de Annie. Você disse alguma coisa a ele, ontem à noite?

Andres não respondeu.

— Meu bem?

Andres   vis olhou para as mãos.

— Você falou alguma coisa sobre Anahí? 

— Eu talvez tenha dado um... aviso.

— Aviso? — perguntou Maite. — Que tipo de aviso?

— Você sabe... O tipo em que digo a ele que se comporte como adulto, onde se ganha o pão não se come a carne. Deixe Annie em paz.

— E ele escutou o que você disse?

— Estranho, né? — Andres deu um sorrisinho. — De qualquer jeito, nós dois conhecemos ele como ninguém. Ele não gosta dela, só acha que gosta porque ela deve ser a única garota que não arranca as saias quando ele pede. Jamie é melhor para ela, juro.

— Mas...

— Mai. — Andres beijou a mão da noiva, que segurara na sua. — Lembre-se de que se a gente perder o desafio vovó irá cantar no casamento. Eu lhe garanto que, se você jogar Annie nos braços de Poncho, os dois irão transar e depois meu irmão irá abandoná-la, como fez com todas as outras.

— Está certo. — Ela se recostou no sofá, desanimada.

— Meu bem? — começou Andres , rindo. — Sei que você tem um coração enorme e que quer que os dois sejam felizes, mas não tem como Poncho tomar jeito de forma tão rápida. Sem chance. E você não quer que sua melhor amiga se machuque, ainda mais às vésperas de nosso casamento. Confie em mim, está bem?

— Está bem, mas, se você estiver errado... — Maite apoiou as pernas no colo de Andres. — Ficará sem sexo por uma semana.

— Você sabe que não temos feito sexo, não é?

— Depois do casamento.

— Você deixaria seu marido sem sexo?

— Por um desafio? — Maite deu uma piscadela. — Sem dúvida. 

— Você não tem coração.

— Não. — Maite beijou a bochecha dele. — Vovó é que é sem coração. Foi ela quem o fez dormir no sofá.

— E dei ouvidos a ela porque noutro dia ela comprou uma coleira que dá choque.

Ela olhou para ele, confusa.

— Ela não tem cachorro, Mai. E comprou uma coleira. Se eu não obedecer, é capaz de ela usar o negócio em mim. Não duvido de nada que esteja relacionado com aquela mulher.

— Maite! Andres! — chamou vovó do outro quarto.

— Hora do café! Estou com fome! 

Resmungando, Andres cobriu o rosto com as mãos.

— Você acha que ela tem um botão de mudo? Esqueça a parte de morrer de desejo... eu vou é ficar surdo.

Fez-se silêncio por um momento, e então:

— Eu ouvi isso! — gritou vovó.

Frustrado, ele ergueu as mãos, sem dizer nem uma palavra, então se levantou do sofá. Estendeu a mão para a noiva e a puxou para um abraço.

— Sério, Maite, não se preocupe. Eu prometo: Poncho só está agindo como sempre, está bem?

Ela concordou com a cabeça, mas não estava convencida daquilo. Porque, pela primeira vez em anos, Alfonso parecia... triste com o resultado da noite. Ele parecia tudo, menos feliz, e esse era justamente o problema, porque ele nunca tinha deixado que uma garota o afetasse daquela forma. Nem mesmo durante o tempo em que eles estiveram juntos. 

O que fez Maite se perguntar se Alfonso não estaria se apaixonando por sua melhor amiga.

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