Vinte e cinco

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— A gente precisa parar de dizer que vai ser rápido.
— Anahí suspirou enquanto observavam a velhinha que digitava usando apenas os indicadores.

— Então... — Blanche, a dona da loja de bolos, parou de digitar. — Qual é mesmo o sobrenome?

— Herrera — respondeu Alfonso, bem devagar.

— Pode soletrar, por favor? — A senhora sorriu, revelando fileiras de dentes que pareciam dentadura.

— Ah, claro. H-E-R-R-E-R-A.

— H. — Ela digitou e olhou para cima.

Anahí por pouco não conseguiu segurar o riso. Precisou desviar o olhar.

— E. — Alfonso fez uma pausa.
E lá estava Blanche, olhando para cima outra vez. Mas que droga! Aquela mulher seria um teste de paciência até mesmo para os santos!

— R. — continuou ele.

— Her? — perguntou Blanche. — Tão curtinho! Que tipo de sobrenome é esse?

— Não, não, não — Alfonso se inclinou sobre o balcão.

— Tem mais quatro letras.

— Ah! — Blanche levou as mãos às bochechas e deu uma risada. — Desculpe, querido. Esse cérebro velho já não funciona como antes!

— Ele ainda funciona? — murmurou Anahí. Alfonso lhe deu uma cotovelada e continuou a soletrar.

— R.

Blanche apertou a letra no teclado e olhou para cima. Sério, daria para assar um pão no tempo que ela levava para digitar um nome. Continuou até o fim.

— A.

Os dois suspiraram quando a atendente finalmente digitou a última letra e apertou "enter".

Os únicos sons na loja minúscula eram o zumbido do computador e o violino que tocava baixinho, como música ambiente. Alguns cupcakes estavam expostos em um porta-bolo colocado diante da máquina registradora e havia alguns bonequinhos de bolo espalhados por ali. Era uma loja realmente pequena.

— Ah, não! — A atendente suspirou.

Alfonso olhou para Anahí. Uma expressão de completa irritação passou por suas feições perfeitas antes de ele perguntar, com a voz contida:

— Blanche, algum problema?

— São os bonequinhos.

— Sim?

— Os que foram entregues são um pouco diferentes dos modelos encomendados. Tentei ligar para o número cadastrado, mas ninguém retornou a ligação.

— Que número? — perguntou Alfonso.

As mãos lentas de Blanche navegaram pelo teclado. Dois minutos depois, a senhora lia um número na tela.

— Vovó! — disseram Anahí e Alfonso ao mesmo tempo, como se fosse um palavrão.

— Posso pegar os bonequinhos, vocês dão uma olhada e decidem o que fazer, que tal? — Blanche ergueu uma das mãos no ar. — Vou lá. Só preciso encontrar...

Quando ela desapareceu nos fundos da loja, Anahí se apoiou no balcão e suspirou.

— Quando ela voltar, estarei velha demais para ter filhos.

— Ao menos não terá todos aqueles gatos.

— Muito obrigada, sr. Sensível. Obrigada.

Ele deu de ombros e percorreu o olhar pela loja.

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